21/03/17

Comemoração

Eis que entre tudo e nada
silenciosamente
a palavra é palavra
porque transforma as coisas
que a tornam sempre outra
e ela torna outras sempre

21.03.2017


4 comentários:

joão viegas disse...

παραϐολή

Miguel Serras Pereira disse...

Bem, caríssimo, não responderei por parábolas à tua quase proposta de epígrafe. Mas agradeço-a e fez-me reflectir. A verdade é que não pensei nisso na altura, mas se tivesse agora de propor eu uma epígrafe ao que aqui deixei, procurá-la-ia e descobri-la-ia decerto nas "Notes de travail" de Le visible et l'invisible de Marleau-Ponty.
Abraço

miguel(sp)

joão viegas disse...

Ola Miguel,

O poema fez-me lembrar que a etimologia de "palavra" remete-nos para "parabola". A etimologia, e se calhar um pouco mais do que isso... Aos meus ouvidos, a tua "comemoração" faz eco a esta meditação do grande e profundo, mas exigente, Stéphane Mallarmé :

"Je dis : une fleur ! et, hors de l'oubli où ma voix relègue aucun contour, en tant que quelque chose d'autre que les calices sus, musicalement se lève, idée même et suave, l'absente de tout bouquet."

(Crise de vers)

Miguel Serras Pereira disse...

Bem, João. Eu diria, à boleia do teu comentário, que a palavra não contém — possui ou é — a rosa, nem a rosa a palavra. A diferença entre uma coisa e outra é irredutível e solidária do conatus de cada uma delas enquanto durem. Mas é sendo assim diferentes que se encontram e esse encontro torna outra, cria outra, a paisagem do encontro, de cuja carne ambas são metamorfoses originais irreversíveis.
Reflexivo abraço

miguel(sp)