Bem, caríssimo, não responderei por parábolas à tua quase proposta de epígrafe. Mas agradeço-a e fez-me reflectir. A verdade é que não pensei nisso na altura, mas se tivesse agora de propor eu uma epígrafe ao que aqui deixei, procurá-la-ia e descobri-la-ia decerto nas "Notes de travail" de Le visible et l'invisible de Marleau-Ponty. Abraço
O poema fez-me lembrar que a etimologia de "palavra" remete-nos para "parabola". A etimologia, e se calhar um pouco mais do que isso... Aos meus ouvidos, a tua "comemoração" faz eco a esta meditação do grande e profundo, mas exigente, Stéphane Mallarmé :
"Je dis : une fleur ! et, hors de l'oubli où ma voix relègue aucun contour, en tant que quelque chose d'autre que les calices sus, musicalement se lève, idée même et suave, l'absente de tout bouquet."
Bem, João. Eu diria, à boleia do teu comentário, que a palavra não contém — possui ou é — a rosa, nem a rosa a palavra. A diferença entre uma coisa e outra é irredutível e solidária do conatus de cada uma delas enquanto durem. Mas é sendo assim diferentes que se encontram e esse encontro torna outra, cria outra, a paisagem do encontro, de cuja carne ambas são metamorfoses originais irreversíveis. Reflexivo abraço
Ora, disse a Morsa ao Carpinteiro vamos ter muito que falar: de botas, e lacre, e veleiros, de reis, e couves da casa, de saber porque ferve o mar, ou se há porcos com asas.
Lewis Carroll
Alice do outro lado do espelho, cap. IV
4 comentários:
παραϐολή
Bem, caríssimo, não responderei por parábolas à tua quase proposta de epígrafe. Mas agradeço-a e fez-me reflectir. A verdade é que não pensei nisso na altura, mas se tivesse agora de propor eu uma epígrafe ao que aqui deixei, procurá-la-ia e descobri-la-ia decerto nas "Notes de travail" de Le visible et l'invisible de Marleau-Ponty.
Abraço
miguel(sp)
Ola Miguel,
O poema fez-me lembrar que a etimologia de "palavra" remete-nos para "parabola". A etimologia, e se calhar um pouco mais do que isso... Aos meus ouvidos, a tua "comemoração" faz eco a esta meditação do grande e profundo, mas exigente, Stéphane Mallarmé :
"Je dis : une fleur ! et, hors de l'oubli où ma voix relègue aucun contour, en tant que quelque chose d'autre que les calices sus, musicalement se lève, idée même et suave, l'absente de tout bouquet."
(Crise de vers)
Bem, João. Eu diria, à boleia do teu comentário, que a palavra não contém — possui ou é — a rosa, nem a rosa a palavra. A diferença entre uma coisa e outra é irredutível e solidária do conatus de cada uma delas enquanto durem. Mas é sendo assim diferentes que se encontram e esse encontro torna outra, cria outra, a paisagem do encontro, de cuja carne ambas são metamorfoses originais irreversíveis.
Reflexivo abraço
miguel(sp)
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