Estar longe de Portugal dá-nos a por vezes cómoda distanciação do emigrado, mesmo que apenas durante uma quinzena de férias privilegiadas. Sobretudo quando nos abrigamos num país com mais sorte ou qualidades.
Já Eça aproveitava a lonjura para despejar sobre a infeliz pátria a sua bílis – genial e cintilante mas sempre tão amarga e inútil. Valerá ainda a pena escrever mais umas linhas ressentidas com a tal «choldra ingovernável» de que até reis já se queixaram? É ainda proveitoso glosar a nossa sempre interminável lista de defeitos? Somos medíocres, tristes, preguiçosos, resignados, feios, porcos e maus. Pronto.
Estou perto das montanhas onde Gustav Mahler se recolhia nos seus Verões de férias e inspiração. Anualmente, lá emergia o ermita da sua cabana com mais uma tremenda sinfonia na bagagem. A música que resultava destes exílios voluntários não era um queixume das perseguições que ele, judeu em Viena, sofreu. Talvez por isso, ainda hoje a ouvimos. Música soturna, por vezes torturada mas quase nunca sarcástica ou choramingas.
Para quem não é Eça e muito menos Mahler, cumprir a inevitável burocracia de mais um aniversário assim longe de casa só serve mesmo para medir as fronteiras da sua incompetência: sem verve nem pachorra para inventar novas chalaças a propósito da pobre Lusitânia e sem génio para fazer da distância de tudo uma proximidade ao importante, resta a constatação da inépcia. E esta, ao fim e ao cabo, não passa de mais um dos nossos fados.
20/07/11
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Porque é que tinha de estragar o post com essa coisa da Lusitânia? O que é isso?...
Uma forma de evitar a repetição de "Portugal"?
Enviar um comentário