18/10/11

Está ao nível dos painéis solares nocturnos mas para pior — falamos do Programa Nacional de Elevado Potencial Hidroeléctrico

Quase três vezes o défice de Portugal é quanto o Estado vai pagar à EDP e à Iberdrola, as concessionárias das futuras barragens na bacia do Douro, durante os próximos 70 anos.
Um “desastre económico, social e ambiental”, que é como define uma dezena de grupos ecologistas e locais que enviaram à ‘troika’ um estudo que demonstra por que é que o “Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) deveria ser imediatamente suspenso e revogado”.
As concessionárias das futuras barragens vão produzir “metade da energia prevista” no plano, com o dobro do investimento pedido, mediante o pagamento anual de um subsídio do Estado de 49 milhões de euros e ainda de 20 mil euros por megawatt produzido, assegurado pela lei da “Garantia de Potência”, que o ex-ministro Mira Amaral apelidou de “escandalosa” e recomendou “acabar, sob pena de ficar inviabilizada qualquer recuperação económica do país”.
“Isto é uma fraude sobre o Estado e sobre os cidadãos portugueses”, resume João Joanaz de Melo, presidente do GEOTA, um dos signatários da missiva à ‘troika’ e autores do estudo, que aguarda a sensatez vinda de fora para salvar o país.
“Positivo é o facto de ainda ninguém ter desmentido a nossa exposição, a ‘troika’ já ter começado a questionar o Governo sobre as barragens e o actual Ministério da Economia e o do Ambiente terem-nos dito que estão preocupados com este assunto e que estão a estudar o problema”, revelou a mesma fonte, apontando que “é preciso que a opinião pública reaja e faça parar as barragens, como aconteceu com Foz Coa”.
O défice nacional era de 6.687 milhões de euros, em Agosto passado. Durante as concessões das barragens, um total de 16 mil milhões de euros serão pagos às empresas de electricidade, que produzirão apenas 0,5% da energia consumida em Portugal, representam só 2% do potencial de energia que poderia ser obtida através de um programa de eficiência energética e respondem por 3% do aumento das necessidades energéticas do país.
“Se fossem feitos investimentos para obter uma eficiência energética equivalente ao que as novas barragens vão produzir, as contas de electricidade baixariam 10%. Mas, se fossem feitos investimentos com vista a obter o potencial máximo de eficiência energética, as contas dos consumidores baixariam 30%”, explica o estudo enviado à ‘troika’. Os investimentos em causa, na versão mais intensiva e dispendiosa, rondariam os 410 milhões de euros e teriam retorno em menos de três anos.
Além dos efeitos económicos, as barragens têm demonstrados prejuízos para o património natural e cultural e para a economia da região. “Ao contrário do que diz a propaganda oficial, as barragens geralmente não geram desenvolvimento local. Criam empregos na construção, mas muito menos do que noutros tipo de investimento, e apenas temporariamente. Por exemplo, projectos de eficiência energética ou de renovação urbana beneficiam toda a economia (famílias, Estado e instituições privadas, pequenas e grandes empresas) e geram cerca do dobro de empregos por milhão de euros investidos, em comparação com barragens ou outras grandes obras públicas”, argumentam.
"A quem é que aproveita o crime?”, questiona Joanaz de Melo. “Estas decisões não foram tomadas no interesse público, mas é do interesse público parar o programa nacional de barragens. Temos de parar este desastre”, concluiu.
A Comissão Europeia alertou o Governo português para os “sérios impactos ambientais”, no caso dos estudos efectuados no âmbito das barragens do Baixo Vouga e de Foz Tua, que “violam a legislação europeia, incluindo a Directiva dos Habitats e a Directiva da Qualidade da Água”. O Governo invocou o interesse nacional para anular a lei comunitária.
O parecer do Instituto Marítimo-Portuário, invocando ameaças reais à navegabilidade do Douro, andou “desaparecido” no estudo de impacto ambiental, pelo que, segundo Manuela Cunha, do Partido Os Verdes, “não ficaram acauteladas responsabilidades e ficou a EDP isenta de pagar as obras que venham a ser necessárias para garantir a navegabilidade”.

3 comentários:

se gastassem menos pitroil disse...

a publicar postes destes

as barragens mesmo bazias serbiam

mas são as >Bimbis as torradeiras de três velocidades

a iluminação até às 8 da matina em ruelas bazias prá ladroage menor nã bater com as fuças nus buracos quando foge da casa dos ladrões mayores caeles

desliga a luz bai...

Anónimo disse...

Finalmente, ao fim de 4 anos de denúncias e de chamadas de atenção tecnicamente fundamentadas, de 12 anos a lutar contra as barragens do Sabor e de Odelouca, contra autoestradas que não têm outro fim senão dar dinheiro a ganhar a meia-dúzia de pessoas, entre outras lutas incompreendidas, as organizações de ambiente vêem alguém escrever, num blogue sobre política, sobre este roubo ao Estado português e aos seus cidadãos. Se juntarem o PNBEPH aos Projectos de Potencial Interesse Nacional, ao Novo Aeroporto de Lisboa e a projectos semelhantes, às mais-valias urbanísticas, entre outros artifícios que fazem uns poucos lucrar enormidades à custa de um património que é de todos, vão perceber que o maior assalto à carteira dos portugueses está a decorrer à vista de todos, numa área de que muito se fala por causa da reciclagem e da boa consciência, mas cujas implicações e conexões se desconhecem. Muitos parabéns por este post. Posso estar enganado, mas parece-me ser uma excepção. Espero que, de uma vez por todas, a opinião política, com a sua capacidade de mobilização e de colocar os assuntos na ordem do dia, perceba que está aqui em causa a sustentabilidade do país e a liberdade presente e futura dos seus cidadãos, que será entregue nas mãos de privados por mais de 70 anos, sem contrapartidas que o justifiquem com impactos irreversíveis nos recursos naturais. Está na altura de tornar este debate num debate político, legal e moral, e abandonar a ideia de que é uma mania de uns quantos carolas que gostam é dos ratinhos, como são geralmente vistos os esforços das pessoas que, com muito mérito, vêem para lá do imediato e dedicam o seu tempo a explicar aos portugueses que o ambiente tem quatro vectores: ambiental, social, económico e político. E que há quem saiba favorecer-se economicamente, aproveitando a desatenção do público para com os outros vectores. E, numa altura em que se fala na privatização da água e serviços associados, este tipo de discussão é extremamente importante e urgente.

Ana Cristina Leonardo disse...

Anónimo, vou confessar-lhe uma coisa politicamente incorrecta: isto indigna-me mais que o corte nos subsídios. E obrigada pelo seu comentário