O modo como o PCP tem vindo a ser tratado nos últimos tempos é um dos aspectos mais reveladores do estado a que isto chegou e - mais interessante - do estado a que pode chegar. Há não muito tempo atrás, não faltava quem, entre PS, PSD e CDS, e no palco dos principais meios de comunicação social, acusasse o PCP de fazer dos sindicatos a sua delegação social, controlando-os a seu belo prazer. Hoje, porém, o sentido da conversa é outro. Saúda-se o PCP por, através dos sindicatos, manter as manifestações dentro de limites tidos como razoáveis, organizando os protestos, que assim resultam - em Portugal ao contrário do que sucederá na Grécia, em Espanha ou em Itália - menos "espontâneos". Pode bem ser, todavia, que a direcção do PCP continue a não atender (hesito em escrever: não continue a atender) aos conselhos que lhe são soprados da direita, do PS e do comité de politólogos televisivos, uns gajos que reivindicam para si um grau de neutralidade científica que já nem um físico-químico é capaz de reivindicar para a sua corporação. Se não ligou grande coisa quando confrontada com as acusações de controleirismo, por que havia a direcção do PCP de ligar agora que se lhe exige capacidade de controlo? Ao contrário de muitos dos meus amigos e companheiros, confio no sentido de autonomia do PCP. Até porque a direcção do PCP, diga-se, não é imune à própria pressão da sua base de apoio, tanto eleitoral como militante.
ps - já agora, uma vez mais confirma-se que o PCP tem as costas largas, o que tem sido particularmente útil para o BE e uma parte da sua actual direcção. Sob o lema de que o PCP controla os sindicatos, é possível o BE desenvolver uma relação que já ultrapassa a ideia de controlo (porque o controlo exerce-se sobre algo que estrabucha e para que deixe de estrabuchar) face a movimentos como os Precários Inflexíveis. Ao contrário do PCP, que há muito não conta com Carvalho da Silva no seu comité central, o BE conta com o seu "carvalho da silva" dos precários (é um elogio, note-se), o Tiago Gillot, tanto na sua Mesa Nacional como na sua Comissão Política. Com isto não nego - mas preciso de ser convencido - que o mais importante é que um dia todos nos encontremos na escadaria de São Bento, nuns casos a subir das ruas, noutros a descer do parlamento.
20/10/11
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2 comentários:
O que o PCP fez em Portugal ao longo dos anos 70,no pós 25 de Abril, quem o viveu não esquece: o enquadramento e o controle das lutas sociais a pretexto de defender a «revolução portuguesa» Passou esse tempo e não abandounou, pelo contrário, as suas funções de enquadramento ordeiro da contestação de forma a que esse seu papel lhe dê força política negocial com a Situação. O mesmo foi feito pelo PCF e PCI, e tantos outros, nos anos 60 e 70 quando da radicalização das lutas sociais...
O José Neves tem razão no sentido da «autonomia» do PCP se com isso se quiser dizer que tem a sua própria estratégia e que ela é bem distinta da dos movimentos sociais e sindicais que avancem contra o sistema e o capitalismo.
Gosto mais do Zé Neves académico do que o Zé Neves conversa de tasca. Qual o stress do Gillot (nem o conheço) ser da comissão política? Já o era o Chora e ninguem punha em causa a sua legitimidade na autoeuropa, daqui a pouco os activistas vão ter de apresentar registo da militância partidária.
Afonso.
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