04/02/14

Experiências auto-gesticionárias

Numa fábrica ocupada, e gerida, pelos seus trabalhadores, em Marselha, teve lugar recentemente um encontro sobre fábricas em auto-gestão na Europa. Juntou não só trabalhadores envolvidos em processos auto-gesticionários, mas também académicos, activistas, sindicatos e organizações que promovem e estudam a auto-gestão.

Haverá quem considere que estas experiências estão condenadas ao fracasso: acabarão por vergar-se aos ditames do mercado, transformando-se em pouco mais do que empresas onde apenas a propriedade é controlada pelos trabalhadores-accionistas. Mas, como foi discutido no encontro, talvez seja possível escapar a tal destino se estas experiências se inserirem em processos autonómicos mais amplos, ao nível da comunidade local.

Ou tomamos o Estado. Ou induzimos/esperamos o seu colapso. No segundo caso, se estruturas alternativas, necessárias para assegurar as funções mais básicas de coordenação sócio-economica, não existirem, o Estado voltará inevitavelmente, nas suas formas mais primitivas.

1 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Pedro,
sim, sem democratização do trabalho e do seu governo ("economia"), a democracia política (a democratização do governo da polis e o exercício desse poder pelos cidadãos organizados) é uma impossibilidade. E, por outro lado, a democratização do trabalho e da economia requer, a par de uma política de remiunerações e rendimentos igualitária, relações de poder que o não sejam menos. É tendo em vista estes fins que, desde já e para já, a democratização das lutas e da oposição ao regime actual (sob múltiplas formas, como as experiências de impor alternativas ainda que parciais no âmbito da empresa…) é condição necessária da acção política como reivindicação e antecipação do exercício de uma cidadania plena — ou governante. Inteiramente de acordo, portanto, contigo quando à conclusão do teu post. Com efeito, trata-se para nós, não de conquistar o actual poder de Estado, mas de lhe substituirmos o poder político das assembleias ou conselhos dos cidadãos comuns, e/ou dos seus delegados e magistraturas.

Abraço

miguel(sp)