14/02/14

Pura Heroína?



Depois de espremer até às derradeiras gotas o drama de Amy Winehouse, a indústria musical já encontrou novo pedaço de carne mártir para pendurar na sua montra. A neozelandesa Lorde, que nem maior de idade é, apresenta-se como a candidata perfeita ao papel de talento larger-than-life, intenso demais para um invólucro de aparência tão débil, quase esgarçado.
Uma cantora original, que ainda por cima cria as suas próprias canções, performer bizarra que dança como quem se arrasta para a crucificação... dir-se-ia um cruzamento entre Miley Cyrus e Jim Morrison – o sonho húmido de qualquer executivo de A&R.
A martiriologia está já a afinar a narrativa: nas letras vogam estilhaços do quotidiano suburbano de miúdos revoltados (“We don't care, we aren't caught up in your love affair”), os videoclips são esquálidos e violentos q.b.; tudo aqui transpira pathos plastificado, pronto a servir a legiões de adolescentes perdidos noutros tantos becos sem saída.
O espectáculo, mesmo se já rotineiro e de desenlace previsível, mesmo testemunhado assim ao longe, não deixa de causar angústia e até alguma repulsa. Como se pode justificar que uma editora deixe ir para a rua um CD de uma adolescente com o trocadilho ignóbil “Pure Heroine” por título?

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