23/07/11

Da "estupidez [d]o sangue nas calçadas"

Repugnante, sim, como mostra o Sérgio Lavos, e embora ainda seja dizer pouco, o espectáculo dos que reservam o seu juízo político e moral sobre o atentado de Oslo, alegando que será necessário saber, primeiro, se foi obra do islamismo radical ou da extrema-direita norueguesa, que bandeira ou plataforma lhe reivindica a autoria, e assim por diante.  Não sabemos se os move a "estupidez [d]o sangue nas calçadas" (Alexandre O'Neill) ao inundar-lhes os cérebros ou, antes, a impaciência de se proclamarem profetas, e disso reclamarem os louros, dessa espécie de ameaça fascista global cujos contornos se adensam a cada novo episódio de convergência e/ou unidade na acção de componentes anteriormente rivais ou inimigas daquilo a que Jacques Rancière chama o "ódio à democracia". Com efeito, não são necessários dons de vidência maga para compreender claramente, falando e agindo em conformidade, que — "fascistas nórdicos", "jihadistas piedosos" ou paladinos "anti-imperialistas" da colaboração entre uns e outros, empenhados na "propaganda pela acção" da nova síntese — os autores do atentado querem pura e simplesmente a pele de todos os aqueles para quem a liberdade e igualdade são condições cujo primado sobre a simples sobrevivência não estão —  não estamos — dispostos a deixar de afirmar.

5 comentários:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, meu amigo

Não costumo recorrer a esta linguagem para comentar, se bem que o meu gosto pelo Brassens possa insinuar que não sou completamente insensível à sua utilização.

Gente que tolera o homicídio de gente inocente, quer de forma premeditada (morram, cães infiéis!), quer como dano colateral, quer por uma bomba (menos) inteligente (do que seria suficiente para limpar a consciência do homicída), quer por um cocktail molotov arremessado para dentro do seu local de trabalho, é "gente de merda".
(Oxalá o O'Neil tenha deixado escrita alguma coisa que amenize o mau gosto do que escrevi, mas, como é o que penso, se não deixou, não faz mal).

Um abraço

João disse...

O post do 5 dias não tinha matéria para as conclusões do Sérgio Lavos ontem, e continua a não ter hoje. Dá imagem de quererem atacar o 5 dias porque sim, honestamente. Desta vez, dá.

PS: Até acredito que a intenção do Renato não fosse bem o que saiu, mas o que saiu é no que se podem fundamentar e não está lá isso tudo. Inocente até prova em contrário, non?

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João,

o que o autor do post faz é, com efeito, reservar o seu juízo e a sua tomada de posição sobre o massacre. É essa afectação hipócrita de equidistância o motivo da repulsa que exprimo - e, ao que julgo, o motivo também do post do Sérgio.

Quanto ao 5dias, tem dias e autores. Não os meto todos no mesmo saco. É por isso que já me tem acontecido recomendar leituras do referido blogue.

Saudações democráticas

msp

Banda in barbar disse...

é obra da demografia actual

das configurações sociais e étnicas em mutação

quem mata nunca considera as vítimas inocentes

e num mundo onde milhões irão morrer devido à seca e à apatia dos povos

haverá alguém verdadeiramente inocente?

pois...

Há apenas os indiferentes e os que vomitam disse...

equidistância é quando se tem mioleira esparramada nas calças e se come o pequeno almoço

sejam islamitas (algo muito vago

ou da dita extrema (ainda mais vago

tanto faz
um médico costa-riquenho aparece a sorrir numa foto com um braço recém cortado de um haitiano

e todos se indignam

mas o dono do braço continua vivo
é assi