25/07/11

Resposta ao Camarada Miguel Madeira

Caro camarada Miguel M,

por muito que seja como dizes, não me parece que o facto de as coisas poderem ser sempre piores - como diria o nosso camarada Luis Rainha - deva fazer com que nos sintamos e declaremos aliviados. É um pouco como se nos congratulássemos pelo facto de o carrasco fascista ter liquidado "só" menos de cem, em vez de várias centenas ou milhares. Ou com o facto de relativizarmos o horror dizendo que ainda teria sido pior se o algoz dispusesse de uma bomba nuclear.

Alívio será, quando muito pensarmos e dizermos - porque isso não agua o horror nem a repugnância democrática suscitados pelo massacre - que, na Noruega, existe pelos vistos suficiente apego colectivo às liberdades para obrigar o primeio-ministro do país a declarar o que declarou sobre a sua prioridade - pois seria, de facto, honrar as vítimas e infligir uma derrota ao fascismo e fórmulas suas cúmplices que houvesse quem lutasse por que a resposta aos massacres fosse um reforço das liberdades e da participação cívica, acompanhando medidas de segurança que não se traduzissem no aumento de prerrogativas administrativas e policiais discricionárias.

Em rigor, poderíamos também sentir um certo alívio verificando, pelas suas reacções, que muitos daqueles que a "resistência islâmica" pretende defender e representar, repudia, quando pode expressar-se mais ou menos livremente, os métodos advogados pelos que, começando por amordaçá-los e silenciá-los onde dispõem do poder de o fazer, falam depois em seu nome.

Agora, sentir alívio, deitando contas às eventuais variações das medidas repressivas subsequentes, por ser um fanático que propõe o massacre como "imitação de Cristo", em vez de serem outros que chacinam invocando o dever dos "muçulmanos piedosos" ou a independência nacional do País Basco - isso, camarada, receio que seja darmo-nos por vencidos de antemão e ceder aos cálculos do medo antes de lutar.

Abraço libertário

3 comentários:

Anónimo disse...

A Noruega a par da Suiça e Aústria constituem o " lote especial " de países onde o Racismo e a Xenofobia atingem os maiores dos indíces na UE, desideratuns especificos de um severo e militarizado melting-pot ideo-fascista que circula em alas especiais nos partidos de Direita que, como na Itália e na Suiça ou Austria, já ocuparam por diversas vezes o Poder de Estado. Tudo leva a crer, segundo fontes policiais USA, que o " carrasco " de Oslo faz parte de um grupo de guerrilheiros cristão-integrista formado em Londres em Abril de 2002, e com ramificações crescentes por toda a Europa. O sinal inquietante, entre muitos outros, é que esses radicais-extremistas islamofobos são adeptos do " rigor, treino militar e espírito de missão " do grupo fundado por Ossama Bin Laden. Niet

Anónimo disse...

A demagogia barata de MSP

Custa-me a entender o que é que o massacre ocorrido na Noruega, com a sua componente tresloucada ou do foro mais psiquiátrico que político, tem a ver com a luta política que usa a acção armada como é o caso do País Basco...
Que comparem esse massacre com acções indiscriminadas do fundamentalismo religioso, tipo 11 de Setembro ainda vai, mas com grupos como a ETA ou, no passado, o IRA só mesmo um pastor dos meios de comunicação ou um demagogo o podem fazer cinicamente!!!
Mesmo sendo o mais consequente dos pacifistas, que penso não ser o caso de MSP, fazer o tipo de afirmação que faz o Serras Pereira só pode ser classificada de demagogia barata.
Para quem tem o passado que ele tem parece-me que está a aderir lamentavelmente à retórica dos «meios de formação de massas», ao discurso dominante.

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo das 19 e 17

Não, não sou pacofista incondicional. Mas, quanto à ETA — o caso do IRA mereceria uma análise à parte, que terá de ficar para outra ocasião -, convém distinguir vários períodos, ao longo dos quais tanto os inimigos como os métodos de luta, bem como as condições do terreno, variaram profundamente, levando a que a natureza da ETA não tenha sido sempre a mesma.
Em tempos de crise como os que atravessamos, convém lembrar, como o Zé Neves fez há já mais de um ano, aqui no Vias, que só é aceitável a violência que não suspende a democracia. Aproveito assim - para assumindo, no essencial, as mesmas posições políticas que mantenho há décadas - recordar o que, pelo meu lado, aqui escrevi, pela mesma ocasião, sobre a violência e a democracia. Nos seguintes termos:

"A afirmação da autonomia democrática, a acção instituinte de uma livre sociedade de iguais, não pode declarar incondicionalmente ilegítimo o recurso à violência. Mas, como já disse noutra ocasião, pode e deve opor-se ao seu culto. Pode e deve desmistificar o espírito sacerdotal nostálgico e hierático, antidemocrático e irracionalista, classista e contra-revolucionário, dos que se propõem medir pelo volume de sangue derramado o carácter revolucionário ou radical de uma luta política. Podemos e devemos saber e dizer também que o combate pela autonomia, a luta que visa a destruição do poder capitalista, não é um carnaval, que, depois de inverter durante uns dias a ordem estabelecida, dá lugar a uma sua versão revigorada ou a uma reciclagem da dominação hierárquica. Os que estão interessados numa “revolução” que pratique e se possível refine os métodos e recursos da dominação na construção da “ordem nova”, ou que advogam um “socialismo” que faça tábua rasa das liberdades e direitos democráticos, desprezando-os como superstições “humanistas”, podem odiar o capitalismo e as oligarquias liberais, mas são tanto (pelo menos) como o primeiro e as segundas inimigos mortais da liberdade enquanto condição necessária de uma sociedade de iguais." (http://viasfacto.blogspot.com/2010/05/mais-cest-une-revolte-non-sire-cest-une.html)

msp