31/10/11

Uma medida exemplar

Eis uma medida que, se fosse generalizada aos governantes e complexos financeiro-empresariais que tiveram "relacionamenos" abonatórios de Kadafi e do seu regime, acarretando evidentemente a demissão de uns e a expropriação de outros, poderia decerto contribuir para a "confiança" que é necessário que os cidadãos comuns recuperem para não serem kadafizados, ou deskadafizados como manda a via líbia, pelo "relacionamento" entre os primeiros e os segundos.

Uma empresa alemã cancelou um contrato com a modelo italo-americana, Vanessa Hessler, de 23 anos, após esta ter revelado que teve um relacionamento com Muatassim Kadhafi, filho do ex-ditador líbio (morto juntamente com o pai), e ter elogiado a sua família, afirmando que os Kadhafi eram "gente normal".
Segundo avança o Globo.com, a "Telefonica Germany" e sua subsidiária, "Alice", anunciaram que vão parar de trabalhar com a modelo, que foi o rosto da empresa durante vários anos, e que a sua imagem será retirada do site da companhia. "Vanessa Hessler errou nos seus comentários sobre o conflito na Líbia", afirmou o porta-voz da empresa, Albert Fetsch.

10 comentários:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Boa noite, caro amigo,

Aqui está um exemplo de como a luta pela decência pode recorrer aos mecanismos do "mercado".
(Espere! Pode guardar o crucifixo e não é necessário benzer-se...)
O "mercado" tem como condições necessárias agentes razoavelmente bem informados e com liberdade de escolha entre as opções disponíveis.
Se uma fracção significativa dos agentes económicos (e os agentes somos todos nós) valorizam a decência, e lhes é chamada a atenção para situações de indecência, e para a capacidade (de que nem sempre têm noção) que têm para intervir nessas situações, pode acontecer que intervenham mesmo.
Se, por exemplo, em vez de nos declararmos, entre amigos, escandalizados com as afirmações "arbeit macht frei" do Dr. Alberto da Ponte, as divulgarmos acrescentando a pergunta: "você continua a comprar cerveja a este gajo?", é capaz de haver quem, lembrado, decida deixar de lhe comprar cerveja, reduzindo-lhe as vendas, os resultados e os prémios de gestão.
Se forem muitos, e a redução for significativa, o "gajo" pode até ser libertado das suas funções e substituído por outro menos fanfarrão. E os outros "gajos" farão as suas contas e chegarão à conclusão que a fanfarronice não compensa, adoptando, mesmo que por razões meramente egoístas, posturas mais decentes. A auto-regulação... Pateta é ficar escandalizado e continuar a beber Sagres.
Deixo-lhe, pois, o mercado como sugestão de reflexão para o feriado,

Um abraço fraterno.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Manuel,
exigiria muito mais do que um feriado a discussão/reflexão que me propõe. Deixe-me só precisar alguns pontos avulsos, que, por várias razões, não me permitem subscrever a sua tese.

1. Não me parece que a "decência" e a "maximização" que caracteriza os "agentes racionais" (no sentido da teoria mainstream) possam coexistir em pé de igualdade. Ou seja, do ponto de vista dos "agentes racionais", sempre no sentido que disse antes, a "decência" não passa de uma "utilidade" condicional, se se mantiver o critério da "maximização". Por outras palavras, a "decência" implica a subordinação e a circunscrição da racionalidade económica "pura" e a direcção "política" (não quer dizer forçosamente "estatal") da actividade económica. Esta direcção, governo e instituição da economia pelo poder político existe, de resto, sempre - embora não no sentido nem no regime em que o requer uma cidade democrática.

2.Do mesmo modo, e por razões análogas, a "decência" e "a mão invisível" excluem-se: de acordo com a lógica da mão invisível ou da bondade objectiva do mercado (independentemente dos propósitos que possam informar os agentes), a "decência" só poderia introduzir "efeitos perversos" e "disfunções" várias.

3. Noutra ordem de ideias, devo dizer-lhe - e tenho-o escrito repetidamente - que o problema da democracia não decorre da existência de um verdadeiro mercado nem exige a sua substituição por outras formas de acesso a grande parte dos bens sociais. Mas que tipo de mercado queremos, quais as suas modalidades e limites? Aqui, parece-me que, por um lado, se trata de assegurar uma "soberania do consumidor" igualitária, o que implicaria a democratização do mercado segundo uma forma ou outra de transposição do princípio um voto por cabeça. O que implica, por seu turno, uma política de igualização dos rendimentos através da exclusão da "força de trabalho" da esfera da mercadoria. Por outro lado, trata-se de ver que nem tudo pode ser mercado e que nem todos os bens são passíveis de repartição/apropriação individual, segundo a lógica da oferta e da procura económicas ou da "preferência do consumidor".

Claro que tudo isto exigiria maiores desenvolvimentos e precisões. Mas eu também não pretendi fazer mais do que sugerir as questões de fundo que a sua (justíssima em si mesma) apologia da "decência" não pode deixar de suscitar. Acrescento apenas que, embora eu nem sempre concorde com tudo o que cada um deles diz (e nem todos dizem sempre a mesma coisa), a questão da "economia moral" ou da "moral da economia" tem sido abordada com pertinência e brilho por um blogue perto de si - o dos Ladrões de Bicicletas -, tomando como ponto de partida preocupações idênticas às que creio terem inspirado o seu comentário.

Abraço para si

msp

brites disse...

QUEM DEFENDER EMPRESAS COM ESTE PERFIL SÓ PODE SER UM PROJETO DE PESADELO.

ESTAMOS PERTO. ESPERO QUE SEJA TRAVADO!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Miguel,

De facto este tema seria matéria para incomportavelmente longas discussões.
Mas posso tentar sugerir alguns pontos de simplificação, também avulsos.

A decência não tem de ser avaliada como alternativa à "maximização" (para simplificar conceitos, que eu não sou economista, maximização é permitir a cada um escolher livremente de acordo com os seus próprios critérios, sem ter de prestar contas deles a ninguém), ou à "mão invisível" (o paradoxo de as necessidades de cada um de nós aparecerem satisfeitas num mundo em que os outros as ignoram e apenas cuidam de satisfazer as suas próprias).

A decência pode ser, e também é, apenas mais um dos critérios que cada consumidor equaciona quando toma uma decisão de compra, conjuntamente com outros como o preço, a qualidade, a imagem, e por ai fora. Aquilo a que os economistas chamam mais um dos factores da função de utilidade do consumidor. A que cada consumidor atribui ponderações diferentes, podendo haver quem a ignore, e quem lhe atribua uma importância fundamental. Na mesma medida em que há consumidores que não estão dispostos a pagar mais por produtos biológicos, e outros que estão e os compram, ou consumidores que durante a ocupação de Timor não compraram nenhum produto fabricado na Indonésia (como eu) e outros que sim.

Se não se pode falar de soberania do consumidor no mercado, ela também não é inexistente, porque a verdade é que o consumidor é soberano nas decisões de compra onde haja concorrência na oferta. E, ao escolher, a sua soberania determina qual dos concorrentes é premiado com a sua compra e recebe o seu dinheiro.

Ainda que um consumidor atribua uma ponderação não nula à decência, e tenha uma oferta variada por onde escolher, pode decidir comprar a produtores in"decentes", ou porque outros factores foram preponderantes na sua equação, ou porque, por falta de informação, não tinha conhecimento ou não se lembrou da in"decência" deles.
Pelo que a informação é crucial para que as escolhas livres dos consumidores coincidam com os seus critérios de escolha, ou seja, para a sua liberdade de escolha.

Posto isto, se se informarem adequadamente os consumidores, nomeadamente da soberania de que dispõem ao tomar as suas decisões de compra, e se eles atribuirem uma importância relevante à decência, podem chegar a alterar decisões de compra em função deste factor. E se a decência for um valor significativo para uma parcela significativa de consumidores, esta alteração pode-se tornar, ela própria, significativa.
E como os produtores, mesmo que sejam indecentes, não são parvos, e as suas funções de utilidade atribuem importância aos lucros, a mão invisível tratará de os encarreirar para percursos mais decentes...

Se a decência for um valor apenas partilhado por uma minoria insignificante de cidadãos, então não há nada a fazer aqui...

Um abraço e bom feriado

Obrigado pela eliminação disse...

Hoje fui às empresas que estão trabalhando aqui no burgo,apesar de ser feriado, estão em encomendas para embarcarem na sexta, uns milhares de euros, algumas não pagaram o mês passado,não há muita encomenda, não há crédito, não há nada, logo eu e os outros seis nem conseguimos um papelucho para a segurança social

São empresas pequenas 20 a 50 trabalhadores a hora a mais ou a meia hora não vai ser utilizada para nada

há dívidas ao fisco, à segurança social, juros de mora, enfim
devemos chegar aos 20% de desemprego daqui a uns meses

é o regresso ao soarismo triunfante
para a semana teremos mais 60 das 3 metalomecânicas que vão ser fechadas por dívidas à S.S.

Numa delas a Tecno(etc) 30% da força de trabalho é o patronato
em 10 gajos só há um abaixo dos 50
e é filho de um dos patrões

tem um mestrado qualquer da universidade do minho
(logo se calhar arranja trabalho em França a apanhar o lixo das ruas)
os outros 9 são velhotes

O ódio aos partidos cresce disse...

ódio mesmo o pessoal de uma das fabriquetas quando biu entrar o mais chiquinho dos candidatos, um gajo que há uns anos andAva a pintar as paredes aqui do burgo com o Miguel Tiago mas como só tinha o 11º nem foi para o parlamento nem conseguiu ir para a câmara, nem prá polícia, se calhar nem tem cartão do partido, mas até o sindicalista de serviço
(um tipo que andava nas camionages de longo cursio mas ahora tá paradinho)olhou para ele de revés
(e tendo em conta que é da CGTP
isto diz muito...

aqui o alemão qu'eles falam é só arbeit bita...(bitte lê-se...valorizam a decência, e lhes é chamada a atenção para situações de indecência...pois

Na realidade o vosso problema disse...

é nunca terem trabalhado sem ser nos serviços
nunca fizeram nada(ou pelo menos é assim que se olha para os vossos empregos) um gajo que venha da estiva ou do transporte de mercadorias até pode ter uma conta no facebook e ter uma quintarola ou lá o que fazem no Facebook (como o Alberto antigo dirigente sindical nas cortiças e agora desempregado há dois anos e tal

mas não vem para aqui dedicar-se a considerações de funcionário...

o facto de uma metalomecânica trabalhar num feriado e os salários terem passado dos 900 a 1500 (os três da gerência) para menos de 400 por mês diz muito

e a maior parte das empresas têm pouca gente precisam é de dinheiro para pagar salários e o material

não precisam de mais meia-hora
porque horas extra sem remuneração
já as fazem desde 2007

capisce? não?
i pity the fool.(Mister T.j'ypense

Eu partilho desse desprezo disse...

Pelos políticos de café ou pelos profissionais

é irracional, mas se tivesse oportunidade ajudava a limpar o sebo a muita gente, aquilo que só se ameaçou fazer em 75 à GNR
havia agora muita gente que afinfava à séria

logo esperemos que haja mesmo uma pioria das condições que se bem me lembro é uma boa altura para arranjar trocos e saldar dívidas várias
hoje estava um gajo da segurança social a almoçar ao pé da 26 de Setembro (ou rua do Feijão) deram-nos umas ganas de partir os ossos aquele gaijo

mas eramos só três e somos conhecidos no tasco e dois de nós trabalhamos pó púbico casualmente
e só um tem cadastro

mas o cadastro dele dá para os três

tenho de ver se me arranja um lap top baratucho....

Rapinar dá muito trabalho disse...

resumindo trabalho há muito

só que a gandaia e a estiva e os call centers são muy aborrecidos
e mal pagos

rapinar tem muita concorrência e tem os seus problemas inclusive horas tardias e extras
e a paga é incerta

Pateta é ficar escandalizado e continuar a beber Sagres...por acaso nenhum aqui da maltA bebe

senão é a malhar na malta
comu é ca gente se diverte

o miró perdeu os dentes da frente e já nã apanha gajas como dantes

ganha 500 e picos e vai pó desemprego no dia 16 que por acaso é uma quarta

logo a indecência é inda haver gaijos como vocês e como eu

isso é qué indecente

merda se lhe desssem 10 horas de trabalho por dia o bruto aceitava

com o cadastro dele com a falta de habilitações tem o 9ºano e conduz sem carta há um ror de anos

quem é que lhe dá outro trabalho?
aqui há 7000 como ele
SETE MIL....
é quase 10% se não fosse o rendimento mínimo e os roubos ocasionais do que é que eles viviam seus madraços?

ahn?

O problema de fundo não é 1/2 hora disse...

são os 300 ou 400 mil que estão acima dos 37 não têm qualificações

40 ou 50 mil têm cadastro ou contra-ordenações milhares deles nunca tiraram a carta por faLta de 100 contos

milhares nem os cursos novas oportunidades conseguiram fazer
têm todos 1 ou 3 putos que ou estão com eles ou com os avós ou são dos 14 mil putos instuticionalizados

quando lhes cortam os 200 ou 300 euros do subsídio vão fazer o quê

essa é que é essa
os que ainda têm meia-hora extra comparados a estes

e aos 15 mil que estão na prisa

são uns felizardos