O João Bernardo acaba de publicar, no Passa Palavra, um importante texto de reflexão, que parte da observação recente "crise de identidade" do BE, dos impasses dos Acampados locais e outros fenómenos, como a recrudescência nacionalista e anti-europeia da "esquerda", etc. O texto, intitulado Atribulações da Esquerda em Portugal, pode — e deve — ser lido na íntegra.
Pelo meu lado, se, de um modo geral, concordo com a análise proposta — a "condenação" a uma evolução para a direita do BE, tanto mais forte quanto mais as questões se centrarem na análise do desaire eleitoral recente e nas perspectivas de superação disponíveis, e a impossibilidade da extensão da participação de uma "base" que, até ver, pouco a reivindica, tendendo a adoptar sobretudo a busca resignada de soluções que passam por governantes mais competentes ou menos incompetentes —, gostaria que o João Bernardo tornasse mais explícito também que, do quadro traçado, não deve deduzir-se a apologia da inacção e de atitudes de simples expectativa. É que, parece-me, o Pedro Viana — independentemente das reservas que possamos pôr à sua leitura talvez excessivamente generosa da crise do BE — não deixa de ter igualmente razão — e uma razão que, para mim, só pode sê-lo se solidária das razões do JB — quando escreve: Acho que todas as ideias minimamente apelativas [trata-se daquilo a que o PV chama a via subversiva da democracia] têm o seu momento histórico, quando, por vezes repentinamente, recebem apoio suficiente para a sua implementação se tornar possível. Isto ocorre tanto à escala dum país, como no interior dum movimento ou partido. Não sei se vivemos esse momento histórico no que respeita às ideias que apresentei. Mesmo que não seja ainda o tempo certo para uma ideia, antes dele chegar tem de haver quem a mantenha viva no imaginário. Tento fazer por isso.
31/07/11
Com medo e sem vergonha
por
Miguel Serras Pereira
Não dou com um link utilizável para a Visão, mas não é difícil encontrar na rede excertos da crónica de Boaventura Sousa Santos ou arranjar a revista em qualquer quiosque. Sublinho — na esteira de outros — a frase: "Não tenho vergonha de o dizer publicamente: podemos ser preguiçosos, podemos não saber como nos governar, mas não matámos 6 milhões e judeus e ciganos. Tenho pena de o dizer, mas tenho de o dizer. O nacionalismo puxa o nacionalismo. A Europa sempre foi isto. E é disto que tenho medo".
A profissão de fé do guru não podia ser mais clara e o espírito eclesiástico-inquisitorial entranhado de BSS revela-se aqui em todo o seu mais viscoso brilho. É toda a escolástica do anti-semitismo em concentrado que o professor predicante retoma, assestando-a embora sobre um alvo diferente. Mas o seu anti-germanismo é tão racista e viciosamente identitário como o anti-semitismo. Segundo BSS, os alemães são anti-semitas e exterminacionistas — é a sua identidade —, como para os nazis os judeus eram degenerados, falsos e lascivos, ou, para os anti-semitas cristãos, eternos herdeiros da culpa do deicídio. É o fundo do seu pensamento, que se trai sob o efeito do vinho da crise. E, se esta última significa o momento em que é necessário decidir fundamentalmente, vemos aqui bem a que ponto o nacionalismo e o medo informam as escolhas políticas últimas de BSS e compreendemos melhor como de há muito a sua invocação retórica da democracia não passa de embuste académico e decoração postiça.
A profissão de fé do guru não podia ser mais clara e o espírito eclesiástico-inquisitorial entranhado de BSS revela-se aqui em todo o seu mais viscoso brilho. É toda a escolástica do anti-semitismo em concentrado que o professor predicante retoma, assestando-a embora sobre um alvo diferente. Mas o seu anti-germanismo é tão racista e viciosamente identitário como o anti-semitismo. Segundo BSS, os alemães são anti-semitas e exterminacionistas — é a sua identidade —, como para os nazis os judeus eram degenerados, falsos e lascivos, ou, para os anti-semitas cristãos, eternos herdeiros da culpa do deicídio. É o fundo do seu pensamento, que se trai sob o efeito do vinho da crise. E, se esta última significa o momento em que é necessário decidir fundamentalmente, vemos aqui bem a que ponto o nacionalismo e o medo informam as escolhas políticas últimas de BSS e compreendemos melhor como de há muito a sua invocação retórica da democracia não passa de embuste académico e decoração postiça.
30/07/11
A via subversiva da Democracia
por
Pedro Viana
O caminho do Bloco de Esquerda (BE) sempre foi estreito. A sua capacidade de crescimento eleitoral encontra-se espartilhada devido à existência de PS e PCP, dois partidos com forte implantação social e cultural. Durante os primeiros anos da sua existência, o BE cresceu devido à sua aposta em propostas de ruptura com o modelo cultural conservador em que assentava a legislação portuguesa. No entanto, o BE acabou por ser vítima do seu próprio sucesso, ao conseguir que as suas propostas legislativas mais emblemáticas, como a interrupção voluntária da gravidez e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, fossem aprovadas. Com a irupção da actual crise económica e financeira, a atenção da esmagadora maioria dos portugueses foi desviada definitivamente na direcção das políticas económicas e sociais. É portanto nestas áreas que o BE tem agora de afirmar-se como uma alternativa ao PCP e ao PS, sendo vital encontrar uma via distinta da preconizada por estes dois partidos. De outro modo, dificilmente uma fracção significativa dos portugueses encontrará razões para apoiar, eleitoralmente e não só, o BE. Não será fácil, entre um PCP que apenas resiste e um PS que sempre capitula, perante a ofensiva daqueles que vêem na actual conjuntura uma oportunidade para aumentarem as suas taxas de lucro, através da exploração e subjugação da maioria.
Os indícios do que pode ser uma política alternativa à Esquerda encontram-se hoje antes de mais em Itália. Sufocados por uma Direita descredibilizada, mas omnipresente no espaço mediático e dotada de maioria parlamentar, os italianos têm utilizado vias alternativas à militância nos partidos que compõem a Esquerda institucional, para a qual olham com descrença e desconfiança, para exprimirem a sua opinião. E são as vitórias, bem documentadas no Dossier 149: Referendos em Itália publicado no esquerda.net, que assim foram alcançadas, que permitiram o renascer da esperança numa outra maneira de fazer politica, numa outra sociedade, mais aberta e solidária. Os mecanismos que permitiram tais vitórias foram a existência de eleições primárias para a escolha dos candidatos que a Esquerda apresentaria em eleições municipais e regionais, e a possibilidade de referendar legislação aprovada pelo parlamento italiano. O que é comum a estes mecanismos é o envolvimento da população no processo de decisão política, a efectiva implementação do conceito de democracia participativa. O desejo de participação directa no processo de decisão sobre o que nos afecta não está, como seria de esperar, restrito à Itália. Neste últimos meses, tal anseio irrompeu um pouco por toda a costa Mediterrânica, e se a Sul derrubou regimes autoritários, a Norte colocou em causa a real representatividade de parlamentos como o espanhol e o grego.
Sem descurar a apresentação de propostas que continuem a questionar quer o conservadorismo cultural quer o neo-liberalismo sócio-económico (evitando os arcaísmos ideológicos do PCP), o BE devia constituir-se como porta-voz deste interesse crescente na possibilidade de participação directa no processo de decisão política. Devia fazê-lo quer através de propostas passíveis de concretização imediata, por exemplo defendendo eleições primárias à Esquerda para a escolha das candidaturas autárquicas, quer argumentando em favor de medidas mais difíceis de implementar, como uma alteração constitucional que retire a possibilidade quer à Assembleia da República quer às Assembleias Municipais de impedir a realização de referendos vinculativos apoiados por mais do que um certo número de eleitores. Ao tornar-se um defensor e facilitador da expressão da opinião pública, o BE irá seguramente ver crescer a sua influência social e política, até para além do eleitorado que vota tradicionalmente à Esquerda e no seio daqueles que habitualmente votam em branco ou se abstêm. Estas propostas permitiriam ainda ao BE apresentar-se como distinto de PCP e PS, desconfiados, por razões distintas, de tudo o que possa diminuir o poder dos aparelhos partidários.
No actual contexto social e político, não há nada mais subversivo do que devolver às pessoas a capacidade de decidirem colectivamente o seu próprio futuro.
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Contribuição para o fórum Debate Aberto no esquerda.net
Os indícios do que pode ser uma política alternativa à Esquerda encontram-se hoje antes de mais em Itália. Sufocados por uma Direita descredibilizada, mas omnipresente no espaço mediático e dotada de maioria parlamentar, os italianos têm utilizado vias alternativas à militância nos partidos que compõem a Esquerda institucional, para a qual olham com descrença e desconfiança, para exprimirem a sua opinião. E são as vitórias, bem documentadas no Dossier 149: Referendos em Itália publicado no esquerda.net, que assim foram alcançadas, que permitiram o renascer da esperança numa outra maneira de fazer politica, numa outra sociedade, mais aberta e solidária. Os mecanismos que permitiram tais vitórias foram a existência de eleições primárias para a escolha dos candidatos que a Esquerda apresentaria em eleições municipais e regionais, e a possibilidade de referendar legislação aprovada pelo parlamento italiano. O que é comum a estes mecanismos é o envolvimento da população no processo de decisão política, a efectiva implementação do conceito de democracia participativa. O desejo de participação directa no processo de decisão sobre o que nos afecta não está, como seria de esperar, restrito à Itália. Neste últimos meses, tal anseio irrompeu um pouco por toda a costa Mediterrânica, e se a Sul derrubou regimes autoritários, a Norte colocou em causa a real representatividade de parlamentos como o espanhol e o grego.
Sem descurar a apresentação de propostas que continuem a questionar quer o conservadorismo cultural quer o neo-liberalismo sócio-económico (evitando os arcaísmos ideológicos do PCP), o BE devia constituir-se como porta-voz deste interesse crescente na possibilidade de participação directa no processo de decisão política. Devia fazê-lo quer através de propostas passíveis de concretização imediata, por exemplo defendendo eleições primárias à Esquerda para a escolha das candidaturas autárquicas, quer argumentando em favor de medidas mais difíceis de implementar, como uma alteração constitucional que retire a possibilidade quer à Assembleia da República quer às Assembleias Municipais de impedir a realização de referendos vinculativos apoiados por mais do que um certo número de eleitores. Ao tornar-se um defensor e facilitador da expressão da opinião pública, o BE irá seguramente ver crescer a sua influência social e política, até para além do eleitorado que vota tradicionalmente à Esquerda e no seio daqueles que habitualmente votam em branco ou se abstêm. Estas propostas permitiriam ainda ao BE apresentar-se como distinto de PCP e PS, desconfiados, por razões distintas, de tudo o que possa diminuir o poder dos aparelhos partidários.
No actual contexto social e político, não há nada mais subversivo do que devolver às pessoas a capacidade de decidirem colectivamente o seu próprio futuro.
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Contribuição para o fórum Debate Aberto no esquerda.net
29/07/11
Anders Breivik terá agido sozinho?
por
Miguel Madeira
À partida inclino-me para achar que sim, por uma razão - o seu livro; não me refiro ao conteúdo do livro (que só li umas passagens); refiro-me mesmo ao facto de, pelos vistos, ele ser o autor do livro. Ora, se ele pertencesse a um grupo, suspeito que não iriam sacrificar o seu "ideólogo" na acção - provavelmente mandariam um "subalterno".
No entanto, no AntiWar.com, Justin Raimundo levanta algumas questões suspeitas:
No entanto, no AntiWar.com, Justin Raimundo levanta algumas questões suspeitas:
What we don’t know, however, is how he did it. Oh, he gives us a detailed account of his obsessive preparations, including how much protein he added to his weightlifting regimen. We know he set up a front company, Breivik Geofarm, supposedly devoted to the growing of tubers, which is how he managed to get the fertilizer that was a key component of his car bomb. What we don’t know, however, is where money came from.
Breivik hadn’t had much income recently, as detailed here – yet he seemed to have some assets. The exact source of these assets is unknown. According to him, he "earned his first million kroner as an entrepreneur at the age of 24." Yet a number of news accounts flatly contradict this (...)
If Breivik’s business ventures were failures prior to the Geofarm project, then where did these unverified assets come from? According to the Independent:
"After school, Breivik did a brief stint in the army, and then appears to have gone from one job to the next. He is believed to have started a computer company and earned enough money to live in a luxury apartment and sport a Breitling watch. However, other reports suggest that for years he worked in a lowly call center and lived almost anonymously.
"… Exactly what he lived on in the run- up to the massacre remains a mystery. But his bank details reveal that in 2007, a sum equivalent to €80,000 (£70,000) was added to his account, which would have enabled him to live without having to work."
The mystery deepens….
Okay, now let’s summarize what we know about Breivik’s money trail, based not on what he says in his diary but on what little investigative reporting has been done on the matter. It boils down to this: His tax records show a small income in 2007 – the year all that money miraculously appeared in his bank account – and a bit more in 2008. He had no reported income in 2006 and 2009. Prior to that, there is no evidence of his "first million" anywhere to be seen.
While his diary emphasizes that he saved every penny to finance his terrorist operation, there had to be some income coming in from somewhere. And then there’s that mysterious $115,000 – did he rob a bank? Or did he have a benefactor? Here is where Breivik’s money trail simply … trails off.
Espião que espia espião tem cem anos de perdão?
por
Ana Cristina Leonardo
Não tenho seguido com muita atenção o assunto. Parece que mete aventais, russos e negócios em África, tudo coisas respeitáveis e recomendáveis, portanto.
Resumindo o que corre para aí: diz-se que um super-espião português passou informação confidencial a uma empresa para a qual seria depois contratado como assessor.
Garante o agora ex-super-espião português que passou toda essa informação nos limites da legalidade. Será, eu cá não faço ideia nenhuma.
Não deixa, contudo, de ser bizarro que a mesma empresa para a qual passou as informações confidenciais nos limites da legalidade o tenha depois contratado como assessor.
O João Lisboa resumiu há uns dias o assunto com analítica clarividência
1) "Expresso" acusa super-espião de "passar" informação confidencial à empresa para onde, de seguida, iria trabalhar;
2) Super-espião nega tudo;
3) Super-espião pondera apresentar uma queixa-crime contra o "Expresso" por eventual existência de situações de violação de correspondência privada;
4) Logo, se a notícia do "Expresso" foi obtida através de violação da correspondência privada, a notícia... é verdadeira.
Garante o agora ex-super-espião português que passou toda essa informação nos limites da legalidade. Será, eu cá não faço ideia nenhuma.
Não deixa, contudo, de ser bizarro que a mesma empresa para a qual passou as informações confidenciais nos limites da legalidade o tenha depois contratado como assessor.
O João Lisboa resumiu há uns dias o assunto com analítica clarividência
1) "Expresso" acusa super-espião de "passar" informação confidencial à empresa para onde, de seguida, iria trabalhar;
2) Super-espião nega tudo;
3) Super-espião pondera apresentar uma queixa-crime contra o "Expresso" por eventual existência de situações de violação de correspondência privada;
4) Logo, se a notícia do "Expresso" foi obtida através de violação da correspondência privada, a notícia... é verdadeira.
Entretanto, o advogado do ex-super-espião já avançou com uma queixa-crime contra desconhecidos por violação da conta pessoal de e-mail do seu cliente.
Dois comentários
1. Não vejo que haja necessariamente violação. Se um super-espião me enviasse informação confidencial dentro dos limites da legalidade e eu por qualquer motivo o quisesse lixar, fazia constar a informação que obtivera entretanto dentro dos limites da legalidade e pronto. Acho que não é preciso ter lido o John le Carré para perceber isto.
2. O ex-super-espião português tem mesmo cara e tamanho de ex-super-espião.
Imaginá-lo de avental a jurar fidelidade aos irmãos não me tranquiliza nada, antes pelo contrário.
28/07/11
Corpos de delito
por
Luis Rainha
Primeiro foi o júbilo da extrema-direita com os supostos “atentados e tiroteios muçulmanos”. Depois a confusão e o silêncio. Afinal o terrorista norueguês era como eles gostariam de ser: louro, bem-parecido, atlético.
Por cá também temos candidatos a heróis na guerra ao multiculturalismo e às hordas islâmicas, como o skinhead Mário Machado, líder de facto do PNR. Este era, à imagem de Anders Breivik, um culturista contumaz. E também sujeitava os músculos a experiências com esteróides, mantendo tabelas a contabilizar ganhos musculares e outras bizarrias orgânicas.
A obsessão com a pujança física, com a ostentação da carne esculpida como monumento à justeza das suas causas, talvez seja apenas mais uma maleita destas criaturas: pura vigorexia. Mas é doença laica. Os assassinos religiosos não revelam vocação para fazer do corpo um manifesto – sinais místicos espampanantes como os estigmas ornamentam santos intelectuais, não os mártires. E não se imagina bin Laden num ginásio; o fervor da jihad basta como emblema da verdadeira fé.
O escritor japonês Yukio Mishima foi outro culturista de destino sangrento. Postulou que a “nobreza privilegiada”, verdadeira marca da tragédia, só se pode fundar na coragem física. Daqui à morte em missão, em glória, foi um passo.
Estes homens de acção, sempre ansiosos pelo advento do Homem Superior, começam por imaginá-lo a nascer por dentro das suas próprias peles – só depois se sentem mandatados para liquidar os inferiores.
Publicado aqui.
Por cá também temos candidatos a heróis na guerra ao multiculturalismo e às hordas islâmicas, como o skinhead Mário Machado, líder de facto do PNR. Este era, à imagem de Anders Breivik, um culturista contumaz. E também sujeitava os músculos a experiências com esteróides, mantendo tabelas a contabilizar ganhos musculares e outras bizarrias orgânicas.
A obsessão com a pujança física, com a ostentação da carne esculpida como monumento à justeza das suas causas, talvez seja apenas mais uma maleita destas criaturas: pura vigorexia. Mas é doença laica. Os assassinos religiosos não revelam vocação para fazer do corpo um manifesto – sinais místicos espampanantes como os estigmas ornamentam santos intelectuais, não os mártires. E não se imagina bin Laden num ginásio; o fervor da jihad basta como emblema da verdadeira fé.
O escritor japonês Yukio Mishima foi outro culturista de destino sangrento. Postulou que a “nobreza privilegiada”, verdadeira marca da tragédia, só se pode fundar na coragem física. Daqui à morte em missão, em glória, foi um passo.
Estes homens de acção, sempre ansiosos pelo advento do Homem Superior, começam por imaginá-lo a nascer por dentro das suas próprias peles – só depois se sentem mandatados para liquidar os inferiores.
Publicado aqui.
O Ovo da Serpente [que isto de me ter fartado de ver Bergman sempre há-de servir para alguma coisa]
por
Ana Cristina Leonardo
"He never says what he’s thinking. He just charges ahead with all his feelings and he looks so frightened. And I try to tell him that we’ll help each other, but that’s only words for him. And everything I say is useless. The only real thing is fear."
Manuela Rosenberg sobre Abel Rosenberg, in O Ovo da Serpente
27/07/11
Regra nº 1 para as ditaduras - não se metam com os vendedores de fruta
por
Miguel Madeira
Bussines Insider:
Today's outbreak of Chinese unrest took place in Anshun in Guizhou, after officials apparently beat to death a disabled fruit vendor.
Thousands of people gathered on the street, throwing stones at police and turning over a government vehicle, according to Reuters. 30 protesters and 10 police officers were injured in the unrest.
O Brievik é um monstro. Mas se calhar é boa ideia fazermos o que ele quer
por
Luis Rainha
Estupidez pura. Um editorial do Jerusalem Post condena o acto de Brievik mas acha que ele até é capaz de ter razão:
«Perhaps Brievik’s inexcusable act of vicious terror should serve not only as a warning that there may be more elements on the extreme Right willing to use violence to further their goals, but also as an opportunity to seriously reevaluate policies for immigrant integration in Norway and elsewhere.»
Ou seja: podemos aproveitar a «oportunidade» que esta tragédia nos ofereceu para colocar em prática as ideias do seu autor.
«Perhaps Brievik’s inexcusable act of vicious terror should serve not only as a warning that there may be more elements on the extreme Right willing to use violence to further their goals, but also as an opportunity to seriously reevaluate policies for immigrant integration in Norway and elsewhere.»
Ou seja: podemos aproveitar a «oportunidade» que esta tragédia nos ofereceu para colocar em prática as ideias do seu autor.
A emancipação contra as bestas do progresso
por
Jorge Valadas
Venderam-nos primeiro o progresso, inventaram depois os partidos do progresso e acabámos por sofrer o progresso versão Utoya
Pôr de lado a loucura racional do irracional social com cuidado e precaução, sem nunca desprezar a sua vitalidade. Porque lá está a lista das velhas ideias que a ela se associam sem dificuldade : patriotismo, nacionalismo, religião, racismo, medo e ódio da mulher , do outro - e portanto de si próprio. Mas também os valores modernistas tão elogiados do individualismo e da solidão electronica, do elitismo e da arrogância. Tudo assumido com uma attitude fria e decidida de atitude empresarial. Conceitos, ideias, ideologias, posturas, que não fazem parte do meu mundo, que marcam a única fronteira que reconheço, separando o mundo dos humanos e o das bestas.
Uma das formas de enfrentar a barbárie, de combater as suas referências, é de insistir na emancipação social. O momento da história oferece-nos essa oportunidade. Mais ao sul de Oslo, os cortejos dos « indignados » de todos os pontos da Ibéria convergiram para Madrid. E aqui são outras ideias, outros valores que se afirmam e se tornam numa força. Que afastam o medo e a resignação, o isolamento e a solidão, a sedução do horror, que colocam em perspectiva a emancipação social e humana.
Facto estranho, parece que o cortejo vindo de Portugal nunca chegou, consta mesmo que nunca chegou a partir…Uma ocasião perdida ! Tempos de férias ? Mas o sol esta pouco quente este verão e isto terá sido mais que desleixo. Sinal que não se alterou ainda o fuso horário do Portugal dos pequeninos. Que os relógios ainda funcionam com o tempo nacional, como a marca das bolachas da minha infancia…
Para espevitar o interesse, um texto da recente assembleia de Madrid…
Las revueltas que en los últimos tiempos sacuden el planeta, desde Grecia a Egipto pasando por Túnez, Libia y Siria, son la manifestación más visible de la crisis que atraviesa el sistema capitalista internacional. Sin embargo, en el espectáculo mediático global aparecen como «movimientos pro democracia» o confrontaciones más o menos violentas entre partidarios y adversarios de tal o cual alternativa política local. Y las catástrofes desencadenadas por la tormenta financiera que estalló en 2008 no han hecho más que comenzar.
Gran parte de las reivindicaciones formuladas por estas revueltas, con independencia de la radicalidad de los medios que hayan podido emplear, piden desesperadamente a los Estados capitalistas que salven al sistema de los efectos de políticas que ellos mismos han puesto en marcha. Éstos, a su vez, dejan claro que no están dispuestos a costear la supervivencia de poblaciones «superfluas» y que no prevén reintegración alguna de los millones de excluidos generados por esas políticas.
El movimiento 15-M, que arrancó como una expresión prometedora de rebelión, hastío, negación y rabia ante el sistema de representación institucional político-sindical y los estragos de la crisis internacional, corre serio riesgo de sucumbir a la generalidad e indefinición de la protesta contemporánea contra el malestar social y a las limitaciones de cualquier intento de ofrecer soluciones dentro del estrecho marco nacional-estatal del orden político establecido.
A juzgar por las reivindicaciones que mayor eco han tenido en las acampadas, se diría que el objetivo fundamental del 15-M no es otro que trasladar peticiones legales al Estado: reforma de la ley electoral para que todos los votos cuenten por igual en el reparto de escaños, ley de responsabilidad política, separación de poderes… Se intenta encauzar la protesta hacia un variopinto abanico de reformas y hacer creer que «una vez solucionado el tema de la representación de partidos, todos nuestros problemas se acabarán, porque así controlaremos nosotros a los políticos.» (Como si los partidos o el parlamento tuvieran realmente el poder.). Algunos partidos, como Izquierda Unida y el PSOE tras el batacazo electoral, incluso tratan de arrimar el ascua a su sardina y utilizar la protesta haciendo guiños a quienes consideran sus compañeros de viaje naturales. En cualquier caso, esta avalancha de pseudosoluciones no podrá contener ni el brutal ataque contra nuestras condiciones de vida ni la oleada de rebelión social que va a engendrar.
Allí donde los pobres sin cualidades se rebelan contra sus condiciones de existencia, los partidarios del diálogo con el Estado y el capital se apresuran a convertir el agravamiento de la opresión social en un problema político, es decir, en falsificar las aspiraciones de los pobres y excluidos para que éstos se olviden de las cuestiones de primera necesidad y busquen la solución en el Estado. El discurso democrático-ciudadanista no tiene otra función que impedirnos encontrar las palabras apropiadas para articular la insatisfacción y la revuelta. De lo que se trata es de que no sepamos hablar más que en el lenguaje del amo.
La salvación por la vía democrática, con la que se invita a identificarse a todos los afectados por la crisis del capital (parados, estudiantes, trabajadores, y junto a ellos, todos los pobres en vías de exclusión) constituye el verdadero caballo de batalla de los defensores del Estado para desviarles de la cuestión social. Quienes predican la susodicha doctrina no pretenden acabar con la casta política, sino reformarla y recordarle sus deberes, que no son otros que apuntalar en permanencia al Estado. Frente a la descarnada realidad de la guerra social real que se libra en las calles, los lugares de trabajo y las relaciones interpersonales, preconizan una mayor participación política de la «ciudadanía», que no sólo debe seguir eligiendo representantes cada cuatro años, sino que ahora debe además asumir la tarea añadida de seguir de cerca todo lo que hagan para introducir las oportunas enmiendas.
El problema no está en la corrupción de los políticos, sino en la política como esfera de decisión separada sobre nuestras vidas; tampoco está en la falta de transparencia de los gobiernos ni en el poder «desmedido» de bancos y multinacionales, sino en el conjunto de formas de existencia a las que nos condena el capitalismo en cualquiera de sus formas. En otras palabras: está en el modo de infravida basado en la dictadura del dinero y de la mercancía.
Frente a esa dictadura están las necesidades de la mayoría de la gente que ocupó las plazas, harta del empeoramiento continuo de sus condiciones de vida y de ser relegada a segundo plano. A toda esa gente no se le ha perdido nada en el terreno de la reforma política y demás maniobras celestiales de distracción democrática; donde se la juegan de verdad es en los ámbitos, tan terrenales como cotidianos, del trabajo, la sanidad, las pensiones o la vivienda. Y de forma más o menos confusa, intuyen que nada cabe esperar de parlamentos, partidos y sindicatos, que no son sino otros tantos representantes incontrolados del sistema al que se enfrentan. Poco a poco, se van afirmando y delimitando propuestas de actuación en esas esferas (impedir desahucios; asegurarse de que los parados dispongan de techo y comida, organizar expropiaciones de supermercados y ocupaciones de viviendas vacías…).
Es cierto que hoy por hoy nada ni nadie garantiza que el movimiento 15-M vaya a adoptar una orientación revolucionaria. Con todo, a partir de algunas iniciativas ligadas a él (y de otras que no tienen por qué estarlo), podría irse perfilando uno que sí lo haga.
La mundialización del capital y la disolución de los capitales nacionales exigen que los movimientos anticapitalistas modernos también sean mundiales y que adquieran la conciencia y la voluntad de serlo. La revolución moderna no puede ser ni española, ni griega, ni tunecina, ni egipcia, ni islandesa. Esa revolución, que tiene por objetivo la superación del modo de producción y consumo basado en la dictadura del dinero y de la mercancía, así como sus secuelas medioambientales y de relación entre personas y culturas, será internacional o no será. Y las diversas formas de contrarrevolución a las que ya se está enfrentando harán todo lo posible para recluir todas las expresiones de insatisfacción dentro de su presunto ámbito «nacional» y sus hipotéticas causas particulares, ya se trate de la corrupción de la casta política local, del poder «desmedido» de unos bancos y multinacionales cuya existencia no se pone en cuestión o del nepotismo y las sanguinarias represiones de ex amigos del Occidente democrático convertidos de un día para otro en déspotas y cabezas de turco.
Que lo mejor no sea posible inmediatamente no significa que haya que transigir con miserables sucedáneos que sólo conducen a la derrota y la desmoralización: el papel de la táctica es verificar la estrategia y buscar entre los obstáculos que encuentra en su camino los medios de llevar a buen puerto sus operaciones. La oposición entre la dictadura de la economía y del Estado y las necesidades de la humanidad es irreductible e inconciliable: para construir un mundo a la medida de la humanidad hay que rechazar absolutamente esa dictadura, algo que han entendido muy bien las insurrecciones populares de Túnez, Egipto, Siria y Grecia, que nos han proporcionado una infinidad de pistas a seguir. No existen vías intermedias: hoy ya no se puede cambiar nada sin aspirar a cambiarlo todo.
Texto aprobado en la Asemblea de Largo Plazo
Madrid, 21 julio 2011
26/07/11
Familialismo (ao) rubro
por
Miguel Serras Pereira
Não sei em que medidacontribuirá para a tonalidade vincadamente familialista deste post hoje publicado por RV, o facto de a mesma militar numa organização que, apesar das suas fervorosas proclamações internacionalistas, se entrincheira, não tanto nas dimensões de uma família numericamente reduzida, como no espaço rarefeito e bem mais sufocante de um espírito de seita que a avidez expansionista não chega — bem pelo contrário — para desensimesmar.
Mas, deixando de parte estas conjecturas preliminares, é caso para perguntarmos o que sabe RV ao certo da parte das culpas de um pai nas circunstâncias que fizeram com que não tenha tornado a ver um seu filho, desde a adolescência deste, e com que tal situação se tenha prolongado até ao presente, por um período de cerca de quinze anos.
Quanto ao facto de o pai do autor dos atentados da Noruega não querer ver agora esse seu filho e sustentar que melhor seria que este se tivesse matado em vez de fazer o que fez, não se compreende bem como, por um lado, pode RV ignorar que, por muito menos, há por aí cortes, dolorosos mas por vezes mais do que justificados, de relações familiares entre pais e filhos, nem como, por outro lado, é capaz de ignorar tão activamente que, para um cidadão adulto e responsável — quer dizer, apostado em continuar a ser e a fazer-se como tal — os laços republicanos da participação política prevalecem, em última instância, sobre a (por assim dizer) naturalidade dos laços familiares da esfera privada.
Mas, deixando de parte estas conjecturas preliminares, é caso para perguntarmos o que sabe RV ao certo da parte das culpas de um pai nas circunstâncias que fizeram com que não tenha tornado a ver um seu filho, desde a adolescência deste, e com que tal situação se tenha prolongado até ao presente, por um período de cerca de quinze anos.
Quanto ao facto de o pai do autor dos atentados da Noruega não querer ver agora esse seu filho e sustentar que melhor seria que este se tivesse matado em vez de fazer o que fez, não se compreende bem como, por um lado, pode RV ignorar que, por muito menos, há por aí cortes, dolorosos mas por vezes mais do que justificados, de relações familiares entre pais e filhos, nem como, por outro lado, é capaz de ignorar tão activamente que, para um cidadão adulto e responsável — quer dizer, apostado em continuar a ser e a fazer-se como tal — os laços republicanos da participação política prevalecem, em última instância, sobre a (por assim dizer) naturalidade dos laços familiares da esfera privada.
Apenas um louco?
por
Miguel Madeira
Tem vindo a surgir uma narrativa apresentando o tal norueguês como "apenas um louco", com "ideias totalmente incoerentes" (como dizia o Miguel Sousa Tavares ontem na televisão), etc.
Na verdade, as ideias dele não são assim tão excêntricas - essa combinação (islamofobia, anti-"politicamente correcto", simpatia pelos EUA e por Israel e um radicalismo "cristão" mais cultural que religioso) é o que encontramos em movimentos como o "Partido da Liberdade" holandês, o "Partido do Progresso" noruguês (de que ele foi dirigente), a English Defense League ou o Stop Islamization of America, ou em sites e blogs como o Gates of Vienna (de onde foram copiados longos excertos para o tal "manifesto"), o FrontpageMag, o JihadWatch ou o Atlasshrug. Em muitos aspectos, ele é apenas a ponta do iceberg, que levou apenas um pouco mais longe as ideias dos seus mestres (e se calhar não tão mais longe do que tudo isso...).
Quanto às suas ideias parecerem incoerentes e sem nexo, é apenas porque alguns comentadores ainda estão a combater a guerra dos seus avôs e acham que a extrema-direita anti-imigração tem que ser anti-semita e anti-americana (logo, ele parece-lhes incoerente), ignorando que há vários anos que existe uma extrema-direita que adora Israel e os EUA.
Leitura adicional - Influencing Breivek: Is the Blame Game Out of Bounds?, no blog do AntiWar.com.
Na verdade, as ideias dele não são assim tão excêntricas - essa combinação (islamofobia, anti-"politicamente correcto", simpatia pelos EUA e por Israel e um radicalismo "cristão" mais cultural que religioso) é o que encontramos em movimentos como o "Partido da Liberdade" holandês, o "Partido do Progresso" noruguês (de que ele foi dirigente), a English Defense League ou o Stop Islamization of America, ou em sites e blogs como o Gates of Vienna (de onde foram copiados longos excertos para o tal "manifesto"), o FrontpageMag, o JihadWatch ou o Atlasshrug. Em muitos aspectos, ele é apenas a ponta do iceberg, que levou apenas um pouco mais longe as ideias dos seus mestres (e se calhar não tão mais longe do que tudo isso...).
Quanto às suas ideias parecerem incoerentes e sem nexo, é apenas porque alguns comentadores ainda estão a combater a guerra dos seus avôs e acham que a extrema-direita anti-imigração tem que ser anti-semita e anti-americana (logo, ele parece-lhes incoerente), ignorando que há vários anos que existe uma extrema-direita que adora Israel e os EUA.
Leitura adicional - Influencing Breivek: Is the Blame Game Out of Bounds?, no blog do AntiWar.com.
25/07/11
Uma passagem curiosa do tal "manifesto"
por
Miguel Madeira
páginas 958-959 [pdf]:
Extremely high risk WMD sources:
Obtaining WMD’s from Jihadi groups – doubtful but not impossible
An alliance with the Jihadists might prove beneficial to both parties but will simply be too dangerous (and might prove to be ideologically counter-productive).
We both share one common goal. They want control over their own countries in the Middle East and we want control of our own countries in Western Europe. A future cultural conservative European regime will deport all Muslims from Europe and isolate the Muslim world. As a result, the Islamists will gain the necessary momentum to retake power in several countries: Egypt, Saudi Arabia, Turkey, Jordan, Syria, Yemen, Oman, Algeria, Morocco and a few others.
The Jihadists know this very well. An Islamic Caliphate is a useful enemy to all Europeans as it will ensure European unity under Christian cultural conservative leadership.
How this type of scenario could play out:
Approach a representative from a Jihadi Salafi group. Get in contact with a Jihadi strawman. Present your terms and have him forward them to his superiors:
1. Ask for “hudna” (temporary truce) during the discussions/proposal and demand assurances not to be harmed if they reject our offer. Ask if this is acceptable to them.
2. If they accept, try to meet at a neutral place (not like there is a neutral place on Muslim territory) or at least a relatively public place (which will make it harder for them to betray your arrangement) and present your offer. They are asked to provide a biological compound manufactured by Muslim scientists in the Middle East. Hamas and several Jihadi groups have labs and they have the potential to provide such substances. Their problem is finding suitable martyrs who can pass “screenings” in Western Europe. This is where we come in. We will smuggle it in to the EU and distribute it at a target of our choosing. We must give them assurances that we are not to harm any Muslims etc.
3. They will demand that we attack a target with many cultural conservative Europeans, Jews or Americans. This is the main problem when dealing with Jihadists. They view the cultural Marxists/multiculturalists as allies and it is not likely that they will participate in any attacks against them. They will have reservations against doing any harm to especially French, German, Spanish, Norwegian or Swedish cultural Marxist/multiculturalist authorities as they view them as facilitators in Islamising Europe. They will likely push for a British target which is likely to be the pragmatic outcome of the talks. We can compromise as long as there are large enough concentrations of category A and B traitors at any British target but it will be very difficult.
If the talks go through we have to make a choice regarding honouring our part of the deal with them. If we betray them once, they will never trust any cultural conservatives again.
In any case, it’s an extremely risky operation as they are fully aware of our intentions and agenda. They know we plan to deport all Muslims from Europe once we seize power in the future. The primary argument on our behalf will be that a future cultural conservative regime will isolate the Muslim world, which will make it a lot easier for them to seize power in their own respective countries which will allow them to pursue their dream to create a future Islamic Caliphate. They will screen any individual thoroughly before handing over one million USD worth of anthrax so it won’t work to pretend that you are a left wing extremist. This fact and others increases the risk that they may discontinue any talks and instead kill you. Cooperating with Muslims is a very dangerous game and the risk of it backfiring is relatively large. Another factor is that especially European Jihadists are under strict surveillance so any approach will likely be registered by the National Intelligence Agency. Also, it might be viewed by the European people as a traitorous and hypocritical act considering the fact that we are criticising National Socialist for cooperating with Muslims. It might also weaken our relationship with the Israeli right wing. However, we should be open minded for any future opportunities that might arise under specific and favourable circumstances.
4. Both groups win if the attacks are successful. They are one step closer to a Middle Eastern Caliphate and we are one step closer to a cultural conservative Western Europe. They will try to push us into doing a test attack against cultural conservative Europeans, Jews or Americans. Obviously, this request is not acceptable to us.
Ainda o explicador Nuno Rogeiro e o heavy metal ou "não há bombistas maus"
por
Ana Cristina Leonardo
Se é certo que o sono da razão gera monstros não é menos certo que o totalitarismo da razão vigilante gera outros monstros.
A obsessão em procurar "motivações profundas" para os fenómenos sociais e para, a partir daí, estabelecer cadeias racionais de causas e efeitos, pode ser tranquilizadora e capaz de assegurar um sono confiante na benignidade da natureza humana, mas é, de facto, um processo fundamentalmente irracional, quando não, como no caso das "motivações profundas" do terrorismo islâmico (porque há verdade factual e a verdade racional: a ideológica, a antropológica, a psicológica... ), tão-só desculpabilizante.
É assim que um motorista pode embebedar-se e meter-se ao volante sem a mínima percentagem de sangue no álcool, matando uma dúzia de transeuntes, que a culpa não é — ou, nos melhores dos casos, não é totalmente — sua, mas tem origem em razões distantes e, obviamente, "profundas" (problemas familiares, "stress" profissional & por aí fora; no fim, a culpa acaba por cair sempre sobre essa entidade vaga e inimputável que é a "sociedade"). Isto quando, como no recente bárbaro homicídio de um "cronista social", não cai sobre a própria vítima.
A explicação finamente racional do atentado de Oslo e do massacre de Utoya que, "raspando um bocadinho" na sociedade norueguesa, o explicador Nuno Rogeiro deu na SIC foi desta vez tão vertiginosamente "profunda" que chegou ao "heavy metal".
Manuel António Pina, claro.
A obsessão em procurar "motivações profundas" para os fenómenos sociais e para, a partir daí, estabelecer cadeias racionais de causas e efeitos, pode ser tranquilizadora e capaz de assegurar um sono confiante na benignidade da natureza humana, mas é, de facto, um processo fundamentalmente irracional, quando não, como no caso das "motivações profundas" do terrorismo islâmico (porque há verdade factual e a verdade racional: a ideológica, a antropológica, a psicológica... ), tão-só desculpabilizante.
É assim que um motorista pode embebedar-se e meter-se ao volante sem a mínima percentagem de sangue no álcool, matando uma dúzia de transeuntes, que a culpa não é — ou, nos melhores dos casos, não é totalmente — sua, mas tem origem em razões distantes e, obviamente, "profundas" (problemas familiares, "stress" profissional & por aí fora; no fim, a culpa acaba por cair sempre sobre essa entidade vaga e inimputável que é a "sociedade"). Isto quando, como no recente bárbaro homicídio de um "cronista social", não cai sobre a própria vítima.
A explicação finamente racional do atentado de Oslo e do massacre de Utoya que, "raspando um bocadinho" na sociedade norueguesa, o explicador Nuno Rogeiro deu na SIC foi desta vez tão vertiginosamente "profunda" que chegou ao "heavy metal".
Manuel António Pina, claro.
Resposta ao Camarada Miguel Madeira
por
Miguel Serras Pereira
Caro camarada Miguel M,
por muito que seja como dizes, não me parece que o facto de as coisas poderem ser sempre piores - como diria o nosso camarada Luis Rainha - deva fazer com que nos sintamos e declaremos aliviados. É um pouco como se nos congratulássemos pelo facto de o carrasco fascista ter liquidado "só" menos de cem, em vez de várias centenas ou milhares. Ou com o facto de relativizarmos o horror dizendo que ainda teria sido pior se o algoz dispusesse de uma bomba nuclear.
Alívio será, quando muito pensarmos e dizermos - porque isso não agua o horror nem a repugnância democrática suscitados pelo massacre - que, na Noruega, existe pelos vistos suficiente apego colectivo às liberdades para obrigar o primeio-ministro do país a declarar o que declarou sobre a sua prioridade - pois seria, de facto, honrar as vítimas e infligir uma derrota ao fascismo e fórmulas suas cúmplices que houvesse quem lutasse por que a resposta aos massacres fosse um reforço das liberdades e da participação cívica, acompanhando medidas de segurança que não se traduzissem no aumento de prerrogativas administrativas e policiais discricionárias.
Em rigor, poderíamos também sentir um certo alívio verificando, pelas suas reacções, que muitos daqueles que a "resistência islâmica" pretende defender e representar, repudia, quando pode expressar-se mais ou menos livremente, os métodos advogados pelos que, começando por amordaçá-los e silenciá-los onde dispõem do poder de o fazer, falam depois em seu nome.
Agora, sentir alívio, deitando contas às eventuais variações das medidas repressivas subsequentes, por ser um fanático que propõe o massacre como "imitação de Cristo", em vez de serem outros que chacinam invocando o dever dos "muçulmanos piedosos" ou a independência nacional do País Basco - isso, camarada, receio que seja darmo-nos por vencidos de antemão e ceder aos cálculos do medo antes de lutar.
Abraço libertário
por muito que seja como dizes, não me parece que o facto de as coisas poderem ser sempre piores - como diria o nosso camarada Luis Rainha - deva fazer com que nos sintamos e declaremos aliviados. É um pouco como se nos congratulássemos pelo facto de o carrasco fascista ter liquidado "só" menos de cem, em vez de várias centenas ou milhares. Ou com o facto de relativizarmos o horror dizendo que ainda teria sido pior se o algoz dispusesse de uma bomba nuclear.
Alívio será, quando muito pensarmos e dizermos - porque isso não agua o horror nem a repugnância democrática suscitados pelo massacre - que, na Noruega, existe pelos vistos suficiente apego colectivo às liberdades para obrigar o primeio-ministro do país a declarar o que declarou sobre a sua prioridade - pois seria, de facto, honrar as vítimas e infligir uma derrota ao fascismo e fórmulas suas cúmplices que houvesse quem lutasse por que a resposta aos massacres fosse um reforço das liberdades e da participação cívica, acompanhando medidas de segurança que não se traduzissem no aumento de prerrogativas administrativas e policiais discricionárias.
Em rigor, poderíamos também sentir um certo alívio verificando, pelas suas reacções, que muitos daqueles que a "resistência islâmica" pretende defender e representar, repudia, quando pode expressar-se mais ou menos livremente, os métodos advogados pelos que, começando por amordaçá-los e silenciá-los onde dispõem do poder de o fazer, falam depois em seu nome.
Agora, sentir alívio, deitando contas às eventuais variações das medidas repressivas subsequentes, por ser um fanático que propõe o massacre como "imitação de Cristo", em vez de serem outros que chacinam invocando o dever dos "muçulmanos piedosos" ou a independência nacional do País Basco - isso, camarada, receio que seja darmo-nos por vencidos de antemão e ceder aos cálculos do medo antes de lutar.
Abraço libertário
Alívio?
por
Miguel Madeira
Haverá razão para alguêm sentir "alívio" por o massacre norueguês ter sido feito por quem foi? Talvez.
O balanço final dos atentados provavelmente será "90 e tal mortos + mais medidas securitárias de restrição das liberdades civis"; se tivesse sido da autoria de radicais islâmicos, o resultado seria "90 e tal mortos + mais medidas securitárias de restrição das liberdades civis + leis de imigração mais restrictivas + mais gente a defender intervenções militaristas no mundo muçulmano para «combater o jihadismo»" (recomendo a leitura dos comentário a este post na Reason; até o autor ser identificado, o tom geral era "porque é que continuamos a permitir a entrada de muçulmanos no Ocidente?").
Pondo de outra maneira, se o assassino de Gandhi não se chamasse Nathuram Godse mas, digamos, Muhammad Abdul Aziz, alguém duvida que os massacres da partilha da Indía teriam sido muito maiores?
O balanço final dos atentados provavelmente será "90 e tal mortos + mais medidas securitárias de restrição das liberdades civis"; se tivesse sido da autoria de radicais islâmicos, o resultado seria "90 e tal mortos + mais medidas securitárias de restrição das liberdades civis + leis de imigração mais restrictivas + mais gente a defender intervenções militaristas no mundo muçulmano para «combater o jihadismo»" (recomendo a leitura dos comentário a este post na Reason; até o autor ser identificado, o tom geral era "porque é que continuamos a permitir a entrada de muçulmanos no Ocidente?").
Pondo de outra maneira, se o assassino de Gandhi não se chamasse Nathuram Godse mas, digamos, Muhammad Abdul Aziz, alguém duvida que os massacres da partilha da Indía teriam sido muito maiores?
24/07/11
"Portugal sem mais nada"
por
Miguel Serras Pereira
"Portugal sem mais nada" é a palavra de ordem cada vez mais insistente dos que proclamam a urgência de enterrar a liberdade política para melhorar a política económica e consolidar os poderes governamentais da economia oligárquica. Em dois (1 e 2) grandes posts breves, o Ricardo explica como e porquê.
…pior do que o soneto
por
Miguel Serras Pereira
Uma destacada militante "rubra" deu "uma olhada no Courrier Internacional de Maio": "uma jornalista disfarçou-se em França e tapou a cabeça, como uma islâmica", publicando depois uma reportagem que denuncia a discriminação que atinge as muçulmanas. Até aqui nada a objectar — e vale a pena, de facto, ler o texto referido. (É verdade que valeria também a pena averiguar que testemunho daria — caso sobrevivesse à aventura — uma ex-muçulmana que assumisse a sua condição de apóstata e o papel de jornalista francesa para testar a capacidade de tolerância dos muçulmanos piedosos nos meios da "resistência islâmica". Mas isso é outra história, a que talvez tenhamos de voltar com mais tempo. Fechemos pois o parênteses e reconsideremos o argumento da ideóloga que nos serviu de ponto de partida.)
O problema surge quando Raquel Varela passa a sustentar que a leitura desse texto explica porque se sentiu ela aliviada pelo facto de os massacres noruegueses terem sido levados a cabo por um fascista nórdico e não pelos "perseguidos do costume". Como já tive esta manhã ocasião de comentar q.b. este mergulho de RV no irracionalismo antidemocrático militante, permitam-me que remeta, sem tirar nem pôr, para o que escrevi então. Ainda que seja de assinalar que a emenda é pior do que o soneto e que, em matéria de consciência alterada, RV pede meças a Rogeiro.
O problema surge quando Raquel Varela passa a sustentar que a leitura desse texto explica porque se sentiu ela aliviada pelo facto de os massacres noruegueses terem sido levados a cabo por um fascista nórdico e não pelos "perseguidos do costume". Como já tive esta manhã ocasião de comentar q.b. este mergulho de RV no irracionalismo antidemocrático militante, permitam-me que remeta, sem tirar nem pôr, para o que escrevi então. Ainda que seja de assinalar que a emenda é pior do que o soneto e que, em matéria de consciência alterada, RV pede meças a Rogeiro.
Alívio e barbárie
por
Miguel Serras Pereira
Escreve Raquel Varela na resposta a um comentário de um seu post sobre os massacres na Noruega:
O atentando não foi um alívio, foi uma barbárie, alívio foi saber que não foi feito pelos perseguidos do costume.
É pena que a autora não se digne explicar melhor o seu pensamento ou, melhor, da sua desistência de pensar (a coberto ou não de Lenine).
Com efeito, que quer dizer RV? Se o atentado tivesse sido feito pelos "perseguidos do costume", digamos pelos que fizeram o massacre de Madrid em 2004, passaria a ser aceitável, ou menos repugnante —digamos apenas que um "erro táctico" da "resistência islâmica" ao imperialismo? Ou o alívio resulta do facto, sublinhado não sem euforia por um camarada de RV, de haver sinais que cada vez mais organizações, activistas vários, correntes políticas brandindo bandeiras de cores diferentes, adoptarem os métodos de luta dos "perseguidos do costume"? Deverá o nosso juízo do que se passou ser um, se, como tudo indica, o massacre tiver sido perpetrado por um inimigo dos direitos dos palestinianos, ressalvando que seria outro, de sinal contrário, no caso de ter sido empreendido por "amigos de Kadhafi" ou do regime de Teerão, ou ainda por "combatentes independentistas" bascos?
E que quer dizer esta terminologia da "perseguição" e do "alívio"? Que devemos denunciar os massacres dos fundamentalistas cristãos e absolver os praticados em Atocha ou Nova York pelos "perseguidos do costume"? "Do costume" ou não, os "perseguidos" não serão, em todos os casos, as vítimas e a razão democrática, os chacinados e as sua humanidade e condições de cidadania? Não será uma elementar evidência de qualquer racionalidade democrática que, mais do que condenar a chacina por ter sido cometida por um fascista, o que se exige de nós é deixarmos claro ser a chacina que torna quem a pratica fascista, ou agente de uma peste gémea do fascismo — de uma ameaça de morte tão radical como o fascismo para a vontade de liberdade e de justiça em qualquer parte do mundo?
O atentando não foi um alívio, foi uma barbárie, alívio foi saber que não foi feito pelos perseguidos do costume.
É pena que a autora não se digne explicar melhor o seu pensamento ou, melhor, da sua desistência de pensar (a coberto ou não de Lenine).
Com efeito, que quer dizer RV? Se o atentado tivesse sido feito pelos "perseguidos do costume", digamos pelos que fizeram o massacre de Madrid em 2004, passaria a ser aceitável, ou menos repugnante —digamos apenas que um "erro táctico" da "resistência islâmica" ao imperialismo? Ou o alívio resulta do facto, sublinhado não sem euforia por um camarada de RV, de haver sinais que cada vez mais organizações, activistas vários, correntes políticas brandindo bandeiras de cores diferentes, adoptarem os métodos de luta dos "perseguidos do costume"? Deverá o nosso juízo do que se passou ser um, se, como tudo indica, o massacre tiver sido perpetrado por um inimigo dos direitos dos palestinianos, ressalvando que seria outro, de sinal contrário, no caso de ter sido empreendido por "amigos de Kadhafi" ou do regime de Teerão, ou ainda por "combatentes independentistas" bascos?
E que quer dizer esta terminologia da "perseguição" e do "alívio"? Que devemos denunciar os massacres dos fundamentalistas cristãos e absolver os praticados em Atocha ou Nova York pelos "perseguidos do costume"? "Do costume" ou não, os "perseguidos" não serão, em todos os casos, as vítimas e a razão democrática, os chacinados e as sua humanidade e condições de cidadania? Não será uma elementar evidência de qualquer racionalidade democrática que, mais do que condenar a chacina por ter sido cometida por um fascista, o que se exige de nós é deixarmos claro ser a chacina que torna quem a pratica fascista, ou agente de uma peste gémea do fascismo — de uma ameaça de morte tão radical como o fascismo para a vontade de liberdade e de justiça em qualquer parte do mundo?
O Rogeiro explica
por
Luis Rainha
Este tipo é simplesmente o maior: leu o livro de mil e tal páginas do norueguês maluco, perora sobre o "sado-terrorismo", fala com a polícia de Oslo (apesar de por ali os chuis serem "inofensivos"). Graças a ele, até já sabemos que o heavy metal deve ter tido muito a ver com isto. Acho que nestes 4 minutos e tal não se ouve uma única frase que não seja inabalavelmente alucinada.
Mais uma conspiração desmascarada
por
Luis Rainha
Eu sei que o Nuno Rogeiro já foi à TV dizer que a culpa daquilo na Noruega foi do Heavy Metal ou coisa que o valha. Mas não me enganam: eu topei logo que o desvairado do dia é na realidade o terrível Julian Assange. A prova ai está, para quem quiser ver.
23/07/11
Happy meal com piri-piri
por
Luis Rainha
Há 3 anos, já tudo estava na cara: «Desconfio que muita gente procura os concertos de Amy Winehouse na secreta esperança da desgraça: que daqui a uns anos se possam gabar aos filhos de terem assistido ao último show da diva maldita. Mas ainda há quem não perceba que uma dose de pathos é o melhor condimento para a fast food musical. Quem ainda se deleite com os excessos e sonhe já com um cromo defunto para juntar ao álbum dos génios “maiores que a vida”. A indústria agradece.
Um dia, ainda vamos descobrir que uma destas excessivas estrelas cadentes é na realidade uma criatura limpa e bem comportada que maquilha olheiras e cicatrizes antes de servir mais uma vez de isco aos paparazzi. Aí sim, iremos ter escândalo a sério e malta a pedir o dinheiro dos bilhetes de volta.»
Da "estupidez [d]o sangue nas calçadas"
por
Miguel Serras Pereira
Repugnante, sim, como mostra o Sérgio Lavos, e embora ainda seja dizer pouco, o espectáculo dos que reservam o seu juízo político e moral sobre o atentado de Oslo, alegando que será necessário saber, primeiro, se foi obra do islamismo radical ou da extrema-direita norueguesa, que bandeira ou plataforma lhe reivindica a autoria, e assim por diante. Não sabemos se os move a "estupidez [d]o sangue nas calçadas" (Alexandre O'Neill) ao inundar-lhes os cérebros ou, antes, a impaciência de se proclamarem profetas, e disso reclamarem os louros, dessa espécie de ameaça fascista global cujos contornos se adensam a cada novo episódio de convergência e/ou unidade na acção de componentes anteriormente rivais ou inimigas daquilo a que Jacques Rancière chama o "ódio à democracia". Com efeito, não são necessários dons de vidência maga para compreender claramente, falando e agindo em conformidade, que — "fascistas nórdicos", "jihadistas piedosos" ou paladinos "anti-imperialistas" da colaboração entre uns e outros, empenhados na "propaganda pela acção" da nova síntese — os autores do atentado querem pura e simplesmente a pele de todos os aqueles para quem a liberdade e igualdade são condições cujo primado sobre a simples sobrevivência não estão — não estamos — dispostos a deixar de afirmar.
22/07/11
A nossa República Socialista
por
Luis Rainha
Algures neste mundo tão liberal, há um reino onde o Estado vela sobre cada alento dos cidadãos. Ali, o líder soberano distribui prebendas, excomunhões, planos quinquenais, obras mais ou menos úteis, propaganda. A rara imprensa com ânsias de independência luta contra ameaças de expropriação e concorrentes sustentados pelo contribuinte. A rebeldia individual implica o adeus a uma vida sossegada e próspera; só se medra à sombra benfazeja do chefe.
Onde jaz este último bastião do centralismo estatista? Em Cuba? Mais perto: no arquipélago da Madeira. Um tal regime só não é um cancro porque não tem grandes hipóteses de alastrar a mais lado algum. É antes uma espécie de quisto sebáceo; um traste embaraçoso que todos conhecem mas que é mais fácil esconder do que tratar.
Agora, o soba Jardim quer boleia da nova maré política para «endireitar as finanças da Madeira, (...) depois do roubo que os socialistas fizeram». É fácil traduzir: «venha mais dinheiro». Compreende-se que a "Festa da Banana" suscite tais declarações, logo após a recuperação de um momento lúcido do agora ministro Santos Pereira: «se a Madeira quiser, um dia poderá tornar-se independente».
Mas qual o escândalo? Está a elite madeirense farta do colonialismo lisboeta? Libertem-se. E libertem-nos da repetição destas ameaças bacocas, com bandeiritas da FLAMA, palhaçadas de acólitos a transpirar poncha, birras do nosso Mugabe insular. Vão pedir dinheiro a Marrocos ou à OUA. Mas deslarguem-nos.
Onde jaz este último bastião do centralismo estatista? Em Cuba? Mais perto: no arquipélago da Madeira. Um tal regime só não é um cancro porque não tem grandes hipóteses de alastrar a mais lado algum. É antes uma espécie de quisto sebáceo; um traste embaraçoso que todos conhecem mas que é mais fácil esconder do que tratar.
Agora, o soba Jardim quer boleia da nova maré política para «endireitar as finanças da Madeira, (...) depois do roubo que os socialistas fizeram». É fácil traduzir: «venha mais dinheiro». Compreende-se que a "Festa da Banana" suscite tais declarações, logo após a recuperação de um momento lúcido do agora ministro Santos Pereira: «se a Madeira quiser, um dia poderá tornar-se independente».
Mas qual o escândalo? Está a elite madeirense farta do colonialismo lisboeta? Libertem-se. E libertem-nos da repetição destas ameaças bacocas, com bandeiritas da FLAMA, palhaçadas de acólitos a transpirar poncha, birras do nosso Mugabe insular. Vão pedir dinheiro a Marrocos ou à OUA. Mas deslarguem-nos.
Não, não são só os transportes…
por
Miguel Serras Pereira
Não, não são só os transportes que pioram e vamos ter de pagar mais caro. Eis, entre outras, mais uma conta que teremos de pagar por não querermos governar-nos e deixarmos que nos governem assim.
Se o Governo incluísse os dividendos, obteria uma receita de 256 milhões de euros, mais do que os pensionistas e os trabalhadores independentes terão de pagar.
Incluir os dividendos distribuídos pelas empresas no perímetro do novo impostos extraordinário permitira ao Governo arrecadar uma receita superior aquela que estima conseguir com os rendimentos dos pensionistas e dos trabalhadores independentes.
Segundo os números do Banco de Portugal, em 2010 foram distribuídos 7,3 mil milhões de euros de dividendos em Portugal. A aplicação de uma taxa de 3,5% sobre este montante representaria uma receita de 256 milhões de euros para o Estado (0,15% do PIB). Os pensionistas vão contribuir com 25% da receita da sobretaxa de IRS, ou seja, 210 milhões de euros, enquanto os trabalhadores independentes e rendimentos prediais pagarão 185 milhões de euros. Os trabalhadores por conta de outrem contribuem com a parte de leão do imposto - 630 milhões de euros.
Se o Governo incluísse os dividendos, obteria uma receita de 256 milhões de euros, mais do que os pensionistas e os trabalhadores independentes terão de pagar.
Incluir os dividendos distribuídos pelas empresas no perímetro do novo impostos extraordinário permitira ao Governo arrecadar uma receita superior aquela que estima conseguir com os rendimentos dos pensionistas e dos trabalhadores independentes.
Segundo os números do Banco de Portugal, em 2010 foram distribuídos 7,3 mil milhões de euros de dividendos em Portugal. A aplicação de uma taxa de 3,5% sobre este montante representaria uma receita de 256 milhões de euros para o Estado (0,15% do PIB). Os pensionistas vão contribuir com 25% da receita da sobretaxa de IRS, ou seja, 210 milhões de euros, enquanto os trabalhadores independentes e rendimentos prediais pagarão 185 milhões de euros. Os trabalhadores por conta de outrem contribuem com a parte de leão do imposto - 630 milhões de euros.
21/07/11
Os transportes são apenas um exemplo
por
Miguel Serras Pereira
Estamos habituados a ver os porta-vozes oficiais e/ou oficiosos da oligarquia governante justificarem os aumentos dos "serviços públicos" ou "de interesse público" com a necessidade de pagar melhores condições de funcionamento ou uma qualidade acrescida. No entanto, quando se sente à vontade, a oligarquia dispensa semelhantes justificações e limita-se a impor os seus interesses sob formas mais cruas. É o que acontece agora, na região portuguesa, quando, depois de o anterior governo prever a redução da rede ferroviária e a concessão ao "mercado" das suas fatias mais apetecíveis, o actual decide aumentar também os preços dos transportes públicos de cuja deterioração acelerada o seu programa fez um ponto de honra.
Teremos assim de pagar mais, depois de passarmos a "ganhar" menos — ou, para dizer a verdade, a perder mais —, por menos e pior. E, evidentemente, os transportes são apenas um exemplo, mostrando que o resultado de temermos governar-nos a nós próprios, de termos medo de sermos nós a governar e, por isso, de nos deixarmos governar sem o fazermos todos e cada um, é sermos governados assim.
Teremos assim de pagar mais, depois de passarmos a "ganhar" menos — ou, para dizer a verdade, a perder mais —, por menos e pior. E, evidentemente, os transportes são apenas um exemplo, mostrando que o resultado de temermos governar-nos a nós próprios, de termos medo de sermos nós a governar e, por isso, de nos deixarmos governar sem o fazermos todos e cada um, é sermos governados assim.
20/07/11
Letra e música
por
Luis Rainha
Estar longe de Portugal dá-nos a por vezes cómoda distanciação do emigrado, mesmo que apenas durante uma quinzena de férias privilegiadas. Sobretudo quando nos abrigamos num país com mais sorte ou qualidades.
Já Eça aproveitava a lonjura para despejar sobre a infeliz pátria a sua bílis – genial e cintilante mas sempre tão amarga e inútil. Valerá ainda a pena escrever mais umas linhas ressentidas com a tal «choldra ingovernável» de que até reis já se queixaram? É ainda proveitoso glosar a nossa sempre interminável lista de defeitos? Somos medíocres, tristes, preguiçosos, resignados, feios, porcos e maus. Pronto.
Estou perto das montanhas onde Gustav Mahler se recolhia nos seus Verões de férias e inspiração. Anualmente, lá emergia o ermita da sua cabana com mais uma tremenda sinfonia na bagagem. A música que resultava destes exílios voluntários não era um queixume das perseguições que ele, judeu em Viena, sofreu. Talvez por isso, ainda hoje a ouvimos. Música soturna, por vezes torturada mas quase nunca sarcástica ou choramingas.
Para quem não é Eça e muito menos Mahler, cumprir a inevitável burocracia de mais um aniversário assim longe de casa só serve mesmo para medir as fronteiras da sua incompetência: sem verve nem pachorra para inventar novas chalaças a propósito da pobre Lusitânia e sem génio para fazer da distância de tudo uma proximidade ao importante, resta a constatação da inépcia. E esta, ao fim e ao cabo, não passa de mais um dos nossos fados.
Já Eça aproveitava a lonjura para despejar sobre a infeliz pátria a sua bílis – genial e cintilante mas sempre tão amarga e inútil. Valerá ainda a pena escrever mais umas linhas ressentidas com a tal «choldra ingovernável» de que até reis já se queixaram? É ainda proveitoso glosar a nossa sempre interminável lista de defeitos? Somos medíocres, tristes, preguiçosos, resignados, feios, porcos e maus. Pronto.
Estou perto das montanhas onde Gustav Mahler se recolhia nos seus Verões de férias e inspiração. Anualmente, lá emergia o ermita da sua cabana com mais uma tremenda sinfonia na bagagem. A música que resultava destes exílios voluntários não era um queixume das perseguições que ele, judeu em Viena, sofreu. Talvez por isso, ainda hoje a ouvimos. Música soturna, por vezes torturada mas quase nunca sarcástica ou choramingas.
Para quem não é Eça e muito menos Mahler, cumprir a inevitável burocracia de mais um aniversário assim longe de casa só serve mesmo para medir as fronteiras da sua incompetência: sem verve nem pachorra para inventar novas chalaças a propósito da pobre Lusitânia e sem génio para fazer da distância de tudo uma proximidade ao importante, resta a constatação da inépcia. E esta, ao fim e ao cabo, não passa de mais um dos nossos fados.
18/07/11
Recordando a Guerra Espanhola
por
Miguel Serras Pereira
Aqui fica a sugestão — para intervalos de leitura — desta versão francesa e autonomista libertária de Ay Carmela, cantada nas ruas de Maio de 1968. A canção alude aos acontecimentos de Barcelona, em Maio de 1937, testemunhados por Orwell, entre muitos outros, nos seus dois livros fundamentais sobre a "guerra espanhola": Homenagem à Catalunha (Antígona, Lisboa, 2007) e Recordando a Guerra Espanhola (Antígona, Lisboa, 2003 - tradução de Júlio Henriques). Para uma perspectiva de conjunto, que é também um clássico do seu género historiográfico, ver, para começar e — depois das actualizações recomendáveis através de outros trabalhos — retomar uma e outra vez, La revolucion y la guerra de España de Émilie Témine e Pierre Broué (a versão digitalizada que cito é uma tradução do original francês, La Révolution et la guerre d'Espagne, Paris, Minuit, 1961).
La garde d'assaut marche
Boum badaboum badaboum bam bam
Au central téléphonique
Ay Carmela Ay Carmela
-
Défi aux prolétaires
Boum badaboum badaboum bam bam
Provocation stalinienne
Ay Carmela Ay Carmela
-
On ne peut laisser faire
Boum badaboum badaboum bam bam
Le sang coule dans la ville
Ay Carmela Ay Carmela
-
POUM et FAI et CNT
Boum badaboum badaboum bam bam
Avaient seuls pris Barcelone
Ay Carmela Ay Carmela
-
La République s'arme
Boum badaboum badaboum bam bam
Mais d'abord contre nous autres
Ay Carmela Ay Carmela
-
A Valence et à Moscou
Boum badaboum badaboum bam bam
Le même ordre nous condamne
Ay Carmela Ay Carmela
-
Ils ont juré d'abattre
Boum badaboum badaboum bam bam
L'autonomie ouvrière
Ay Carmela Ay Carmela
-
Pour la lutte finale
Boum badaboum badaboum bam bam
Que le front d'Aragon vienne
Ay Carmela Ay Carmela
-
Camarades ministres
Boum badaboum badaboum bam bam
Dernière heure pour comprendre
Ay Carmela Ay Carmela
-
Honte à ceux qui choisissent
Boum badaboum badaboum bam bam
L'aliénation étatique
Ay Carmela Ay Carmela
La garde d'assaut marche
Boum badaboum badaboum bam bam
Au central téléphonique
Ay Carmela Ay Carmela
-
Défi aux prolétaires
Boum badaboum badaboum bam bam
Provocation stalinienne
Ay Carmela Ay Carmela
-
On ne peut laisser faire
Boum badaboum badaboum bam bam
Le sang coule dans la ville
Ay Carmela Ay Carmela
-
POUM et FAI et CNT
Boum badaboum badaboum bam bam
Avaient seuls pris Barcelone
Ay Carmela Ay Carmela
-
La République s'arme
Boum badaboum badaboum bam bam
Mais d'abord contre nous autres
Ay Carmela Ay Carmela
-
A Valence et à Moscou
Boum badaboum badaboum bam bam
Le même ordre nous condamne
Ay Carmela Ay Carmela
-
Ils ont juré d'abattre
Boum badaboum badaboum bam bam
L'autonomie ouvrière
Ay Carmela Ay Carmela
-
Pour la lutte finale
Boum badaboum badaboum bam bam
Que le front d'Aragon vienne
Ay Carmela Ay Carmela
-
Camarades ministres
Boum badaboum badaboum bam bam
Dernière heure pour comprendre
Ay Carmela Ay Carmela
-
Honte à ceux qui choisissent
Boum badaboum badaboum bam bam
L'aliénation étatique
Ay Carmela Ay Carmela
Homenagem a George Orwell
por
Miguel Serras Pereira
Deixa-me buscar outras flores e outra espanha
o despertar na carne de outra água
outra ave mais claramente desprendida
da febre da tua fronte submersa
atravessando devagar o nevoeiro em sangue
dos corredores da morte e da infância
O tempo faltou ao nosso encontro a meio da ponte
e só um mar de enxofre uma vez mais vem apagar
as fogueiras dos últimos náufragos do dia
— Dom Quixote partiu contigo para as montanhas
e já nenhum cavalo aparece no horizonte
para de súbito rasgar no olhar dos mortos
a bem-amada lua nova da guerrilha
Deixa-me atravessar a seara calcinada
e procurar no rasto dos lobos e dos loucos
as lágrimas e as armas impossíveis
da primeira cidade libertada
Deixa-me buscar outro nome e outro outono
e esperar até que a noite venha
poisar na solidão da tua fronte
os seus últimos pássaros de fogo sobre a neve
os últimos primeiros pássaros de novo
em busca de outra morte e outra espanha.
o despertar na carne de outra água
outra ave mais claramente desprendida
da febre da tua fronte submersa
atravessando devagar o nevoeiro em sangue
dos corredores da morte e da infância
O tempo faltou ao nosso encontro a meio da ponte
e só um mar de enxofre uma vez mais vem apagar
as fogueiras dos últimos náufragos do dia
— Dom Quixote partiu contigo para as montanhas
e já nenhum cavalo aparece no horizonte
para de súbito rasgar no olhar dos mortos
a bem-amada lua nova da guerrilha
Deixa-me atravessar a seara calcinada
e procurar no rasto dos lobos e dos loucos
as lágrimas e as armas impossíveis
da primeira cidade libertada
Deixa-me buscar outro nome e outro outono
e esperar até que a noite venha
poisar na solidão da tua fronte
os seus últimos pássaros de fogo sobre a neve
os últimos primeiros pássaros de novo
em busca de outra morte e outra espanha.
(Trinta Embarcações para Regressar Devagar, Lisboa, Relógio D´Água, 1993)
A Europa e os Bárbaros
por
Ana Cristina Leonardo
Desculpar-me-ão os leitores deste post o tom vagamente confessional (e, já agora, o meu gosto quiçá inflacionado pelos advérbios de modo).
Paris, uma punhalada no coração, escreveu Jack Kerouac; cito-o e subtraio-lhe a conotação poética.
Foi em Paris que me estreei no rigoroso controlo policial dos “papéis” (os Petits Papiers cantados por Gainsbourg), Barbès-Rochechouart, zona habitada maioritariamente por árabes, únicos viajantes tardios do último Metro sujeitos a identificação que a mim me gritavam sempre “Allez! Allez!”, até que uma vez fiz questão em ir para a fila, passaporte na mão, estrangeira, também eu.
Foi em Paris, aussi, que aprendi a distinguir racismo de xenofobia ao som da Linda de Suza que nesse dia não cantou. Convidada de um programa televisivo sobre emigração, falava quando o chefe de família da casa – homem de trato adorável – exclamou entre dois pinard: Estes portugueses estão em todo o lado! e, reparando depois no silêncio que se fizera à mesa, olhou para mim e sorriu: Não é contigo. Tu até podias ser francesa, cumprimento envenenado que, ainda hoje, julgo ter ficado a dever-se ao facto de gostar de camembert, cognac e falar francês sem “acento”.
Tudo isto aconteceu antes de termos lugar na Europa; éramos, então, cidadãos de segunda e emigrantes de terceira.
O meu amigo mexicano foi impedido de entrar em Espanha este mês. Destino: Madeira. Motivo: férias.
24 horas preso em Madrid, sem passaporte, sem máquina fotográfica, sem telemóvel e sem cinto das calças (apreendido). Devolvido à procedência por falta de documentação.
A saber. Reserva de hotel paga. Ok. Responsável pela estadia. Ok. Cartão de crédito. Ok.
Papéis em falta: comprovativo de depósito de 5200 euros (!) obrigatoriamente feito no México (!!), carta-convite (documento obscuro do qual as autoridades teriam de ser informadas com um mês de antecedência, de modo a poderem confirmar a sua veracidade).
Azar o dele, pois, ter nascido mexicano e sorte a minha ter nascido portuguesa (apesar de tudo, não é?).
Paris, uma punhalada no coração, escreveu Jack Kerouac; cito-o e subtraio-lhe a conotação poética.
Foi em Paris que me estreei no rigoroso controlo policial dos “papéis” (os Petits Papiers cantados por Gainsbourg), Barbès-Rochechouart, zona habitada maioritariamente por árabes, únicos viajantes tardios do último Metro sujeitos a identificação que a mim me gritavam sempre “Allez! Allez!”, até que uma vez fiz questão em ir para a fila, passaporte na mão, estrangeira, também eu.
Foi em Paris, aussi, que aprendi a distinguir racismo de xenofobia ao som da Linda de Suza que nesse dia não cantou. Convidada de um programa televisivo sobre emigração, falava quando o chefe de família da casa – homem de trato adorável – exclamou entre dois pinard: Estes portugueses estão em todo o lado! e, reparando depois no silêncio que se fizera à mesa, olhou para mim e sorriu: Não é contigo. Tu até podias ser francesa, cumprimento envenenado que, ainda hoje, julgo ter ficado a dever-se ao facto de gostar de camembert, cognac e falar francês sem “acento”.
Tudo isto aconteceu antes de termos lugar na Europa; éramos, então, cidadãos de segunda e emigrantes de terceira.
O meu amigo mexicano foi impedido de entrar em Espanha este mês. Destino: Madeira. Motivo: férias.
24 horas preso em Madrid, sem passaporte, sem máquina fotográfica, sem telemóvel e sem cinto das calças (apreendido). Devolvido à procedência por falta de documentação.
A saber. Reserva de hotel paga. Ok. Responsável pela estadia. Ok. Cartão de crédito. Ok.
Papéis em falta: comprovativo de depósito de 5200 euros (!) obrigatoriamente feito no México (!!), carta-convite (documento obscuro do qual as autoridades teriam de ser informadas com um mês de antecedência, de modo a poderem confirmar a sua veracidade).
Azar o dele, pois, ter nascido mexicano e sorte a minha ter nascido portuguesa (apesar de tudo, não é?).
Desmontagem de uma recente reabilitação de Estaline
por
Miguel Serras Pereira
O boletim electrónico da Fundación Andreu Nin publica uma desmontagem lúcida e precisa, assinada por Jordi Torrent Bestit, de mais uma recente reabilitação de Estaline. Uma vez que as revisões "negacionistas" e o tipo de argumentação que Domenico Losurdo mobiliza na sua reabilitação são muito semelhantes às utilizadas em certos círculos de activistas da região portuguesa, alguns dos quais se reclamam em alto e bom som da área do PCP, a leitura das notas de JTB torna-se particularmente recomendável.
“Es el lado malo el que impulsa el movimiento de la Historia”. El conocido aserto marxiano es reproducido por Domenico Losurdo (DL para sucesivas alusiones) en Stalin. Historia y crítica de una leyenda negra (p.309) (1) , libro del que es autor. A mi ver, la frase se erige en una de las divisas mayores de sus páginas; no obstante, finalizada su lectura, uno casi se siente inclinado a pensar que llevan por igual audibles resonancias teodiceas de otra divisa no exactamente equivalente y que, para ir rápido, me permito resumir en términos más aristotélicos que leibnizianos: el mal es el bien que no alcanzamos a comprender. De ser así, bien pudiera conjeturarse que entre las razones que han impulsado a DL a concebir y a escribir este ensayo también ha figurado la de tratar de desvelar el “bien” en el “mal” entrañado en uno de los segmentos sociales y políticos más oscuros y trágicos de la contemporaneidad. Las presentes notas tienen por objeto focalizar la atención crítica en algunos -tan sólo algunos- de los procedimientos metodológicos y dispositivos explicativos utilizados a tal fin por el autor, procedimientos y dispositivos derivados de una intencionalidad ideológica cuya omnipresencia en las páginas del ensayo debilita considerablemente la probidad historiográfica del mismo.
De algún modo aproximado a la antinomia libertad/necesidad, la relación dialéctica entre lo “bueno” y lo “malo” ha sido terreno fértil donde se han ido asentando múltiples especulaciones filosófico-políticas no exentas, en algún caso, de adherencias metafísicas. No en el de Lukács, por cierto, quien la estimaba cuestión ineliminable de la realidad estudiada por DL. El filósofo húngaro incluso discernía en dicha relación uno de los dilemas morales del bolchevismo. Me demoraré más adelante en el motivo nada inocente en virtud del cual un hegelianismo de brocha gorda hace su aparición en no pocos pasos del libro. Por el momento, me limito a señalar que la reconstrucción de los hechos históricos efectuada en sus páginas, así como la correlativa interpretación ofrecida de los mismos, está supeditada a necesidades de demostración que transitan por caminos en los cuales no cuesta advertir una de las aspiraciones metafisicizantes de mayor incardinación en los variados discursos legitimadores de la heterenomía: la que pretende hacernos más llevaderas las pesadumbres generadas por procesos históricos contingentes, presentados, no obstante, bajo el inapelable signo de la ineluctabilidad.
DL se propone cuestionar, “problematizándolas” (p. 24), todas las imágenes que han venido dominando por lo común las distintas valoraciones de que ha sido objeto hasta el presente la figura política de Stalin, valoraciones movidas según él por la intención de deslizar la historia hacia, en propia expresión, “la mitología política” (p. 321). Se trata, pues, de un propósito irreprochable: contribuir a un mejor conocimiento de la realidad histórica desbaratando los idola fori que lo entorpecen .
Conviene señalar de inmediato, sin embargo, que tal propósito viene acompañado por otro, mucho menos aireado, pero en modo alguno accesorio, desplegado a guisa de derivación o, mejor, de inferencia lógica del primero: restituir al dictador el reconocimiento político del que gozó en tiempos menos cicateros, rescatándolo del lúgubre desván donde le ha ido confinando una malevolencia interpretativa tan repleta de ostensibles calumnias como de interesados desenfoques. Desde cualquier perspectiva metodológica mínimamente respetuosa de las premisas que han de prevalecer en todo trabajo de investigación historiográfica -la de la objetividad en primerísimo lugar-, dista mucho de ser evidente que ambos propósitos sean de textura fácilmente conciliable.
En efecto, cabe abrigar alguna duda razonable acerca de que un entreverado semejante de intenciones pueda efectuarse a salvo de conflictos de envergadura variable, sobre todo si se deja de avivar la prudencia -la frónesis- requerida por una operación acechada en permanencia por el desequilibrio al que le expone el propósito de mayor impronta ideológica. En Stalin. Historia y crítica de una leyenda negra son varios los pasos en los cuales se pone de manifiesto cuan escasamente lo ha hecho su autor; no en grado suficiente, al menos, para dejar huérfana de todo fundamento la impresión de que los déficits de autocontrol ideológico impiden al proceso histórico -a su deseable veracidad- alcanzar autonomía propia. Muy al contrario, esta última es anegada una y otra vez en un mar de pseudo-racionalizaciones poblado de remisiones al supuesto origen remoto de los hechos, así como de paralogismos, afirmaciones equívocas y conclusiones aventuradas. Diríase que el parti pris inicial asumido por DL –en términos sartreanos: la idea verdadera es la acción eficaz- le impide alcanzar el distanciamiento y la cautela con los que debe pertrecharse todo aquel que se proponga penetrar en una de las secuencias más complejas y prolongadas de la historia de la Unión Soviética, historia en la que, además, no siempre resulta fácil establecer la frontera nítida entre utilidad y verdad -entre necesidad y libertad-, como corresponde a un universo que, sin casualidad alguna, ha podido ser denominado por M. Lewin “reino de lo arbitrario” (2).
“Es el lado malo el que impulsa el movimiento de la Historia”. El conocido aserto marxiano es reproducido por Domenico Losurdo (DL para sucesivas alusiones) en Stalin. Historia y crítica de una leyenda negra (p.309) (1) , libro del que es autor. A mi ver, la frase se erige en una de las divisas mayores de sus páginas; no obstante, finalizada su lectura, uno casi se siente inclinado a pensar que llevan por igual audibles resonancias teodiceas de otra divisa no exactamente equivalente y que, para ir rápido, me permito resumir en términos más aristotélicos que leibnizianos: el mal es el bien que no alcanzamos a comprender. De ser así, bien pudiera conjeturarse que entre las razones que han impulsado a DL a concebir y a escribir este ensayo también ha figurado la de tratar de desvelar el “bien” en el “mal” entrañado en uno de los segmentos sociales y políticos más oscuros y trágicos de la contemporaneidad. Las presentes notas tienen por objeto focalizar la atención crítica en algunos -tan sólo algunos- de los procedimientos metodológicos y dispositivos explicativos utilizados a tal fin por el autor, procedimientos y dispositivos derivados de una intencionalidad ideológica cuya omnipresencia en las páginas del ensayo debilita considerablemente la probidad historiográfica del mismo.
De algún modo aproximado a la antinomia libertad/necesidad, la relación dialéctica entre lo “bueno” y lo “malo” ha sido terreno fértil donde se han ido asentando múltiples especulaciones filosófico-políticas no exentas, en algún caso, de adherencias metafísicas. No en el de Lukács, por cierto, quien la estimaba cuestión ineliminable de la realidad estudiada por DL. El filósofo húngaro incluso discernía en dicha relación uno de los dilemas morales del bolchevismo. Me demoraré más adelante en el motivo nada inocente en virtud del cual un hegelianismo de brocha gorda hace su aparición en no pocos pasos del libro. Por el momento, me limito a señalar que la reconstrucción de los hechos históricos efectuada en sus páginas, así como la correlativa interpretación ofrecida de los mismos, está supeditada a necesidades de demostración que transitan por caminos en los cuales no cuesta advertir una de las aspiraciones metafisicizantes de mayor incardinación en los variados discursos legitimadores de la heterenomía: la que pretende hacernos más llevaderas las pesadumbres generadas por procesos históricos contingentes, presentados, no obstante, bajo el inapelable signo de la ineluctabilidad.
DL se propone cuestionar, “problematizándolas” (p. 24), todas las imágenes que han venido dominando por lo común las distintas valoraciones de que ha sido objeto hasta el presente la figura política de Stalin, valoraciones movidas según él por la intención de deslizar la historia hacia, en propia expresión, “la mitología política” (p. 321). Se trata, pues, de un propósito irreprochable: contribuir a un mejor conocimiento de la realidad histórica desbaratando los idola fori que lo entorpecen .
Conviene señalar de inmediato, sin embargo, que tal propósito viene acompañado por otro, mucho menos aireado, pero en modo alguno accesorio, desplegado a guisa de derivación o, mejor, de inferencia lógica del primero: restituir al dictador el reconocimiento político del que gozó en tiempos menos cicateros, rescatándolo del lúgubre desván donde le ha ido confinando una malevolencia interpretativa tan repleta de ostensibles calumnias como de interesados desenfoques. Desde cualquier perspectiva metodológica mínimamente respetuosa de las premisas que han de prevalecer en todo trabajo de investigación historiográfica -la de la objetividad en primerísimo lugar-, dista mucho de ser evidente que ambos propósitos sean de textura fácilmente conciliable.
En efecto, cabe abrigar alguna duda razonable acerca de que un entreverado semejante de intenciones pueda efectuarse a salvo de conflictos de envergadura variable, sobre todo si se deja de avivar la prudencia -la frónesis- requerida por una operación acechada en permanencia por el desequilibrio al que le expone el propósito de mayor impronta ideológica. En Stalin. Historia y crítica de una leyenda negra son varios los pasos en los cuales se pone de manifiesto cuan escasamente lo ha hecho su autor; no en grado suficiente, al menos, para dejar huérfana de todo fundamento la impresión de que los déficits de autocontrol ideológico impiden al proceso histórico -a su deseable veracidad- alcanzar autonomía propia. Muy al contrario, esta última es anegada una y otra vez en un mar de pseudo-racionalizaciones poblado de remisiones al supuesto origen remoto de los hechos, así como de paralogismos, afirmaciones equívocas y conclusiones aventuradas. Diríase que el parti pris inicial asumido por DL –en términos sartreanos: la idea verdadera es la acción eficaz- le impide alcanzar el distanciamiento y la cautela con los que debe pertrecharse todo aquel que se proponga penetrar en una de las secuencias más complejas y prolongadas de la historia de la Unión Soviética, historia en la que, además, no siempre resulta fácil establecer la frontera nítida entre utilidad y verdad -entre necesidad y libertad-, como corresponde a un universo que, sin casualidad alguna, ha podido ser denominado por M. Lewin “reino de lo arbitrario” (2).
17/07/11
O "Português"
por
Miguel Madeira
De vez em quando surgem umas obsessões com o "Português" (a disciplina escolar), como a respeito da maioria de negativas nos últimos exames, ou a ideia recorrente de que quem chumbasse a Português (ou a Matemática) não deveria poder passar de ano.
A argumentação costuma ser do género "teve negativa a Português? Quer dizer que passou 12 anos na escola e não aprendeu a ler e a escrever em Português" ou "o Português é fundamental porque é uma disciplina base para sepuder* poder perceber tudo o mais".
Convém lembrar que a disciplina a que se convencionou chamar "Português" é, fundamentalmente, uma disciplina de "Literatura Portuguesa" (no meu tempo, sobretudo a partir do 9º ano, inclusive). Ora, será que faz sentido dizer que, por alguém ter negativa num teste sobre, por exemplo, "Os Maias", quer dizer que não sabe ler e/ou escrever em português?
Sim, é verdade que para perceber "Os Maias" é preciso saber ler e interpretar um texto em português, e para conseguir responder às perguntas do teste é preciso saber escrever um texto em português; mas o mesmo se pode dizer, p.ex., do capítulo do livro de Geografia sobre a organização do espaço urbano e do teste correspondente (ou de seja o que for, excluindo talvez Matemática); ou seja, em praticamente todas as disciplinas se aprende a ler e interpretar textos e em todas as notas reflectem essa capacidade (numas, textos sobre Geografia, noutras textos sobre Biologia, e noutras textos literários).
Poderá haver (e até acho que há) muitos argumentos a favor da existência de uma disciplina de "História da Literatura Portuguesa" (designada simplesmente como "Português" para poupar tinta), mas não me parece que faça sentido apresentá-la como uma disciplina "fundamental" (no sentido de ser mais fundamental do que as outras - porque é que saber quantos cantos têm os Lusíadas há-de ser mais importante do que saber o ciclo do azoto?).
*É possivel que isto tenha feito parte do programa de Português do 2º ano do ciclo...
A argumentação costuma ser do género "teve negativa a Português? Quer dizer que passou 12 anos na escola e não aprendeu a ler e a escrever em Português" ou "o Português é fundamental porque é uma disciplina base para se
Convém lembrar que a disciplina a que se convencionou chamar "Português" é, fundamentalmente, uma disciplina de "Literatura Portuguesa" (no meu tempo, sobretudo a partir do 9º ano, inclusive). Ora, será que faz sentido dizer que, por alguém ter negativa num teste sobre, por exemplo, "Os Maias", quer dizer que não sabe ler e/ou escrever em português?
Sim, é verdade que para perceber "Os Maias" é preciso saber ler e interpretar um texto em português, e para conseguir responder às perguntas do teste é preciso saber escrever um texto em português; mas o mesmo se pode dizer, p.ex., do capítulo do livro de Geografia sobre a organização do espaço urbano e do teste correspondente (ou de seja o que for, excluindo talvez Matemática); ou seja, em praticamente todas as disciplinas se aprende a ler e interpretar textos e em todas as notas reflectem essa capacidade (numas, textos sobre Geografia, noutras textos sobre Biologia, e noutras textos literários).
Poderá haver (e até acho que há) muitos argumentos a favor da existência de uma disciplina de "História da Literatura Portuguesa" (designada simplesmente como "Português" para poupar tinta), mas não me parece que faça sentido apresentá-la como uma disciplina "fundamental" (no sentido de ser mais fundamental do que as outras - porque é que saber quantos cantos têm os Lusíadas há-de ser mais importante do que saber o ciclo do azoto?).
*É possivel que isto tenha feito parte do programa de Português do 2º ano do ciclo...
15/07/11
14/07/11
Revoluções e Contra-Revoluções Francesas
por
Miguel Madeira
Mortos durante o "Terror" (1793-94) - provavelmente 40 mil em 11 meses
Execuções sumárias após a Comuna de París ter sido esmagada por Versalhes (1871) - provavelmente 20 mil numa semana
Execuções sumárias após a Comuna de París ter sido esmagada por Versalhes (1871) - provavelmente 20 mil numa semana
08/07/11
Pobrezinhos mas honestos versão ou há moralidade ou comem todos
por
Ana Cristina Leonardo
Uma onda de indignação varre o país. Unânime. Patriótica. Viril.
Ricardo Salgado, do enigmático BES, optou pela metáfora e desenhou um cenário de batalha naval com Portugal a levar um "tiro certeiro". António Sousa, da Associação Portuguesa de Bancos, diz que não percebe. Faria de Oliveira, da Caixa Geral de Depósitos considerou-se insultado e clama por moralidade.
Cavaco Silva, que até há bem pouco achava que os mercados, coisa tão ou mais enigmática do que o BES, tinham sempre razão, apela agora à Europa para os pôr no sítio. Durão Barroso, que emigrou para Bruxelas, entre outras coisas por não os ter no sítio, confessou em público o seu pesar: “Estou muito desiludido".
Mira Amaral, ex-ministro da Indústria (ainda haverá indústria?), num momento de radicalidade inaudita, falou em “terrorismo”. Alberto João Jardim foi mais longe e mais claro: na Madeira, os gajos e as gajas da Moody’s não entram mais. Que vão comer favas acaralhadas para a terra deles.
Mal se soube do murro no estômago que acertou Passos Coelho, o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público enviou uma carta aos credores criticando a decisão da Moody’s e garantindo que Portugal vai “cumprir todas as suas obrigações internacionais”.
Os portugueses anónimos, por seu turno, criaram páginas no Facebook e desataram a mandar pelo correio sacos do lixo para a Moody's.
Ricardo Salgado, do enigmático BES, optou pela metáfora e desenhou um cenário de batalha naval com Portugal a levar um "tiro certeiro". António Sousa, da Associação Portuguesa de Bancos, diz que não percebe. Faria de Oliveira, da Caixa Geral de Depósitos considerou-se insultado e clama por moralidade.
Cavaco Silva, que até há bem pouco achava que os mercados, coisa tão ou mais enigmática do que o BES, tinham sempre razão, apela agora à Europa para os pôr no sítio. Durão Barroso, que emigrou para Bruxelas, entre outras coisas por não os ter no sítio, confessou em público o seu pesar: “Estou muito desiludido".
Mira Amaral, ex-ministro da Indústria (ainda haverá indústria?), num momento de radicalidade inaudita, falou em “terrorismo”. Alberto João Jardim foi mais longe e mais claro: na Madeira, os gajos e as gajas da Moody’s não entram mais. Que vão comer favas acaralhadas para a terra deles.
Mal se soube do murro no estômago que acertou Passos Coelho, o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público enviou uma carta aos credores criticando a decisão da Moody’s e garantindo que Portugal vai “cumprir todas as suas obrigações internacionais”.
Os portugueses anónimos, por seu turno, criaram páginas no Facebook e desataram a mandar pelo correio sacos do lixo para a Moody's.
Em resumo, a pátria grita em uníssono: “contra as agências de rating, marchar, marchar!”
É comovente e há já quem diga que os gregos têm os olhos postos em nós.
O rating da Moody's
por
Miguel Madeira
Anda por aí uma indignação patriótica (social-patriótica?) contra a Moody's por ter baixado a nota de Portugal de "Baa1" para "Baa2" - ou seja, a Moody's diz que o risco de Portugal não conseguir pagar plenamente a sua dívida está a aumentar.
Bem, e será que a Moody's disse alguma mentira? Eu, pelo menos, não tenho dúvidas que vamos ter que renogociar os termos de pagamento da dívida (e que, quanto mais tempo passa e o país se endivida mais, mais radical terá que ser essa renegociação).
Bem, e será que a Moody's disse alguma mentira? Eu, pelo menos, não tenho dúvidas que vamos ter que renogociar os termos de pagamento da dívida (e que, quanto mais tempo passa e o país se endivida mais, mais radical terá que ser essa renegociação).
07/07/11
Há quem acorde tarde. E quem prefira continuar a sonhar
por
Luis Rainha
De repente, toda a gente descobriu as maldades e os desígnios sombrios das agências de notação financeira. Não que o seu papel na explosão da crise mundial não tenha sido evidenciado até à exaustão, inclusive pelo CEO da Moody's, quando admitiu a falcatrua fundamental do jogo: «Ratings quality has surprisingly few friends».
Mas dá jeito a quem vê nos mercados uma Pessoa – dotada de omnisciência, omnipresença e com uma invisível Mão de infinda bondade – que eles tenham os seus Arautos. Que não se podem contrariar, como ainda há meses nos avisava Cavaco Silva: «não compensa absolutamente nada para a economia portuguesa e para o emprego em Portugal estabelecer uma retórica de ataque às posições dos mercados». (Claro que hoje o nosso PR já apanhou o ruidoso comboio dos que acabaram de descobrir os dentes do monstro a que ainda ontem prestavam culto.)
Apesar de tudo, há sempre os fanáticos que, mesmo a caminho do intestino grosso das suas divindades, continuam a rezar por redenções impossíveis. João Miranda (who else?) mantém-se firme ao leme da sua igreja de um fiel: «Governo começa a imitar as cenas tristes do governo Sócrates. Não é com conversa ou com desculpas que se convencem os mercados. É com resultados. O governo devia falar menos e trabalhar para mostrar mais resultados.» Ou seja, nestas semanas, o dízimo em miséria, desemprego e futuricídio deveria ter sido muito maior. Urge sim usar «a baixa de rating como argumento para justificar mais reformas». Se os interesses destas empresas – sim, são apenas empresas, não divindades nem sequer profetas – as levam a apostar contra o euro, a expensas dos seus utilizadores mais fracos, só temos é que acreditar nelas e puxar o arado ainda com mais força, sob o seu esclarecido chicote.
Mas, por outro lado, a conversa de fiscalizar ou mesmo revolucionar o seu mercado também não convence. Há quanto tempo a ouvimos, sem que nada seja feito?
Mas dá jeito a quem vê nos mercados uma Pessoa – dotada de omnisciência, omnipresença e com uma invisível Mão de infinda bondade – que eles tenham os seus Arautos. Que não se podem contrariar, como ainda há meses nos avisava Cavaco Silva: «não compensa absolutamente nada para a economia portuguesa e para o emprego em Portugal estabelecer uma retórica de ataque às posições dos mercados». (Claro que hoje o nosso PR já apanhou o ruidoso comboio dos que acabaram de descobrir os dentes do monstro a que ainda ontem prestavam culto.)
Apesar de tudo, há sempre os fanáticos que, mesmo a caminho do intestino grosso das suas divindades, continuam a rezar por redenções impossíveis. João Miranda (who else?) mantém-se firme ao leme da sua igreja de um fiel: «Governo começa a imitar as cenas tristes do governo Sócrates. Não é com conversa ou com desculpas que se convencem os mercados. É com resultados. O governo devia falar menos e trabalhar para mostrar mais resultados.» Ou seja, nestas semanas, o dízimo em miséria, desemprego e futuricídio deveria ter sido muito maior. Urge sim usar «a baixa de rating como argumento para justificar mais reformas». Se os interesses destas empresas – sim, são apenas empresas, não divindades nem sequer profetas – as levam a apostar contra o euro, a expensas dos seus utilizadores mais fracos, só temos é que acreditar nelas e puxar o arado ainda com mais força, sob o seu esclarecido chicote.
Mas, por outro lado, a conversa de fiscalizar ou mesmo revolucionar o seu mercado também não convence. Há quanto tempo a ouvimos, sem que nada seja feito?
06/07/11
A descriminalização do consumo de drogas
por
Miguel Madeira
Anda por aí uma alguma polémica sobre os resultados da política de discriminalização do consumo de drogas, com uns a dizerem que levou à redução do consumo e outros a dizerem que levou ao aumento.
Mas essa discussão passa ao lado do que para mim é a questão fundamental - faz sentido criminalizar (ou mesmo ser um contra-ordenação, como actualmente) um acto (consumir drogas) que só prejudica quem o comete? Para mim, não, independentemente da descriminalização levar à redução ou ao aumento do consumo.
Diga-se, já agora, que acho que o campo anti-proibicionista perde um bocado de força moral (embora provavelmente resulta melhor em termos políticos e práticos) ao apresentar o seu caso em termos de "assim combate-se melhor o flagelo das drogas" em vez de em termos de "mesmo que alguêm queira destruir a sua vida, o Estado não tem nada a ver com isso enquanto não prejudicar terceiros".
Mas essa discussão passa ao lado do que para mim é a questão fundamental - faz sentido criminalizar (ou mesmo ser um contra-ordenação, como actualmente) um acto (consumir drogas) que só prejudica quem o comete? Para mim, não, independentemente da descriminalização levar à redução ou ao aumento do consumo.
Diga-se, já agora, que acho que o campo anti-proibicionista perde um bocado de força moral (embora provavelmente resulta melhor em termos políticos e práticos) ao apresentar o seu caso em termos de "assim combate-se melhor o flagelo das drogas" em vez de em termos de "mesmo que alguêm queira destruir a sua vida, o Estado não tem nada a ver com isso enquanto não prejudicar terceiros".
O que dizem as agências de rating?
por
Miguel Madeira
Basicamente, que Portugal tem que reestruturar a dívida - é mais ou menos isso que significa "lixo" ("não acreditamos que este país consiga pagar a dívida nos termos contratados").
05/07/11
Será de chamar a polícia?
por
Ana Cristina Leonardo
Nos anos 80, Marguerite Yourcenar estava na moda em Portugal. O Dallas também mas não é isso que me traz.
Yourcenar — uma senhora que me reconciliou com o chamado “romance histórico” (bocejo...) via A Obra ao Negro (aplauso prolongado...) — afirmou numa longa conversa com Mathieu Galey (transposta para o livro De Olhos Abertos) que, fora ela adepta da pena de morte (não era…), a violação seria um dos crimes aos quais a aplicaria.
Dito isto, logo de seguida acrescenta — indiferente ao escândalo que as suas palavras poderiam provocar — inferir em certos casos de estupro algo a que chama “provocação feminina, consciente ou não”.
Para alguns, simplificando-lhe a linguagem (sacrilégio...), tal não passaria de uma versão cultivada do “Estava mesmo a pedi-las!”, o pressuposto infeliz da frase do polícia canadiano que esteve na origem das SlutWalk, manifestação que em Portugal ganhou o pitoresco nome de “Marcha das Galdérias”.
O mote do movimento é claríssimo: “Não é não!” Estou de acordo. Mini-saias, decotes, saltos-agulha, hot pans e etc. não devem ser vistos como atenuantes em caso de atentado às suas portadoras e, muito menos, como justificativo. Se alguém quiser vestir-se de Lady Gaga e sair à rua, deverá poder fazê-lo em segurança, embora a mim, pessoalmente, me custe perceber por que razão há-de alguém querer vestir-se de Lady Gaga e sair à rua.
Assente o pressuposto — não é não, uma vítima é uma vítima e um crime é um crime por muito, pouco (ou mesmo pessimamente) vestidas que as mulheres apareçam em público — já querer criminalizar piropos e assobios julgo que nem na Arábia Saudita.
Tatiana Mendes, coordenadora de um estudo da UMAR sobre assédio sexual, deu-os, contudo, como exemplos das coisas intoleráveis a que as mulheres se sujeitam e que justificariam uma lei mais dura.
Pergunto-me, então, o que faria Tatiana se fosse homem e a Mae West lhe dissesse, como disse, a man has one hundred dollars and you leave him with two dollars; that's subtraction. Chamava-lhe sua galdéria ou chamava só a polícia?
04/07/11
Proust, diz ela
por
Miguel Serras Pereira
Como se não lhe bastasse o que escreve, eis que a Alexandra Lucas Coelho faz também questão de ler assim:
Mas se pensar num livro para as minhas várias vidas será Em Busca do Tempo Perdido, que li, reli, e hei-de ler pela primeira vez.
Reestruturação da dívida grega em perigo
por
Miguel Madeira
S&P threatens Greece with default rating (CNN):
French and German banks' plan to roll over their holdings of Greek debt suffered a blow on Monday as Standard & Poor's, the credit rating agency, said the move would amount to a default.
The proposal to provide up to €30bn ($43.6bn) in financing for Greece had been made conditional on rating agencies not downgrading Greece's debt. But S&P said in a statement early on Monday that any rollover would be a "distressed" transaction and thus lead to Greece's rating being lowered to selective default.
03/07/11
Eleições na Tailândia
por
Miguel Madeira
Pelos vistos, a facção "progressista" da burguesia derrotou a facção "reaccionária"; vamos ver como o exército e a corte real reagem.
O que escrevi sobre a Tailândia a cerca de um ano.
O que escrevi sobre a Tailândia a cerca de um ano.
As "falhas de mercado" na TV
por
Miguel Madeira
No momento em que se debate a privatização da RTP, re-posto o que escrevi há uns tempos sobre as "falhas de mercado" na TV (nomeadamente de como a TV privada de sinal aberto pode produzir resultados que não são os desejados pelos consumidores/espectadores):
Imagine-se uma TV com 2 canais, ambos procurando maximizar audiências.
Imagine-se que temos 12 potenciais espectadores (ou um milhão e duzentos mil, se acharem mais realista).
Temos também 3 tipos possíveis de programas - series de acção com enredo fantasista, estilo Buffy, a Caçadora de Vampiros; documentários sobre a natureza, estilo A Vida na Terra; e telenovelas.
Vamos supor que os telespectadores têm a seguinte ordem de preferências:
1º Buffy; 2º Vida na Terra; 3º Telenovela - 1 espectador
1º Vida na Terra; 2º Buffy; 3º Telenovela - 1 espectador
1º Buffy; 2º Telenovela; 3º Vida na Terra - 3 espectadores
1º Vida na Terra; 2º Telenovela; 3º Buffy - 3 espectadores
1º Telenovela; 2º Buffy; 3º Vida na Terra - 2 espectadores
1º Telenovela; 2º Vida na Terra; 3º Buffy - 2 espectadores
Há aqui um padrão neste modelo simulado: tanto a "Buffy" como a "Vida na Terra" têm relativamente poucas segundas preferências, ou seja, alguns espectadores gostam muito, enquanto os outros gostam pouco; pelo contrário, as telenovelas terão uma vasta gama de espectadores que não são "fãs", mas também não desgostam.
Agora, supondo que todos os potenciais espectadores vão ver televisão (suposição irrealista, mas não afecta muito o raciocínio - só afectará se houver muitos espectadores que só vejam a 1ª preferência), quais serão as audiências para cada canal, conforme as programações?
Se um canal emitisse a "Buffy" e outro uma telenovela, o primeiro teria 5 espectadores e o outro 7.
Se um canal emitisse a "Vida na Terra" e outro uma telenovela, de novo, 5 para um e 7 para o outro.
Se um canal emitisse a "Vida na Terra" e outro a Buffy, teriam cada qual 6 espectadores.
Se ambos os canais emitissem programas do mesmo tipo (estilo 2 telenovelas, ou a "Vida na Terra" vs. "National Geographic", ou a "Buffy" vs. "O Homem Invísivel"), possivelmente teriam 6 espectadores cada.
Conclusão - em principio, a melhor maneira de as televisões maximizarem as audiências é ambas passarem telenovelas, mesmo que não seja o programa favorito de 2/3 da audiência (ou seja, o objectivo acaba por ser, não passar os programas que os espectadores mais gostam, mas os programas que menos espectadores desgostam)!
[Atenção - esta critica à lógica de funcionamento das televisões privadas não significa necessariamente uma defesa das televisões estatais]
Imagine-se uma TV com 2 canais, ambos procurando maximizar audiências.
Imagine-se que temos 12 potenciais espectadores (ou um milhão e duzentos mil, se acharem mais realista).
Temos também 3 tipos possíveis de programas - series de acção com enredo fantasista, estilo Buffy, a Caçadora de Vampiros; documentários sobre a natureza, estilo A Vida na Terra; e telenovelas.
Vamos supor que os telespectadores têm a seguinte ordem de preferências:
1º Buffy; 2º Vida na Terra; 3º Telenovela - 1 espectador
1º Vida na Terra; 2º Buffy; 3º Telenovela - 1 espectador
1º Buffy; 2º Telenovela; 3º Vida na Terra - 3 espectadores
1º Vida na Terra; 2º Telenovela; 3º Buffy - 3 espectadores
1º Telenovela; 2º Buffy; 3º Vida na Terra - 2 espectadores
1º Telenovela; 2º Vida na Terra; 3º Buffy - 2 espectadores
Há aqui um padrão neste modelo simulado: tanto a "Buffy" como a "Vida na Terra" têm relativamente poucas segundas preferências, ou seja, alguns espectadores gostam muito, enquanto os outros gostam pouco; pelo contrário, as telenovelas terão uma vasta gama de espectadores que não são "fãs", mas também não desgostam.
Agora, supondo que todos os potenciais espectadores vão ver televisão (suposição irrealista, mas não afecta muito o raciocínio - só afectará se houver muitos espectadores que só vejam a 1ª preferência), quais serão as audiências para cada canal, conforme as programações?
Se um canal emitisse a "Buffy" e outro uma telenovela, o primeiro teria 5 espectadores e o outro 7.
Se um canal emitisse a "Vida na Terra" e outro uma telenovela, de novo, 5 para um e 7 para o outro.
Se um canal emitisse a "Vida na Terra" e outro a Buffy, teriam cada qual 6 espectadores.
Se ambos os canais emitissem programas do mesmo tipo (estilo 2 telenovelas, ou a "Vida na Terra" vs. "National Geographic", ou a "Buffy" vs. "O Homem Invísivel"), possivelmente teriam 6 espectadores cada.
Conclusão - em principio, a melhor maneira de as televisões maximizarem as audiências é ambas passarem telenovelas, mesmo que não seja o programa favorito de 2/3 da audiência (ou seja, o objectivo acaba por ser, não passar os programas que os espectadores mais gostam, mas os programas que menos espectadores desgostam)!
[Atenção - esta critica à lógica de funcionamento das televisões privadas não significa necessariamente uma defesa das televisões estatais]
02/07/11
O caso Strauss-Kahn
por
Miguel Madeira
Suspeito que o que aconteceu foi um conspiração de pessoas poderosas contra a "pedra" que estava a atrapalhar os seus planos. O que ainda não é muito claro é que desempenha o papel de "conspiração" (os inimigos de DSK? os seus aliados?) e quem desempenha o papel de "pedra" (DSK? a empregada?).
Isso não será uma divagação de um radical de esquerda e que viu muitos filmes de Alan Pakula, e que por isso vê conspirações de poderosos em toda a parte? Talvez. No entanto, acho pouco provável a hipótese alternativa (que é a empregada ter tentado, por sua iniciativa, incriminar DSK, talvez a troco de alguma indemnização, ou coisa parecida); porquê? Porque a "vítima" era ideal de mais - afinal, mal a acusação apareceu, surgiram novas revelações de casos de assédio ou mesmo de tentativas de violação da autoria de DSK, o que deu credibilidade à denúncia.
Ora, embora essas histórias sobre DSK fossem bem conhecidas nas elites francesa e do FMI, penso que não eram do conhecimento do público em geral, sendo pouco provável que uma empregada de hotel de Nova York (mesmo que de origem fancófona) as conhecesse. É possível que ela tivesse decidido acusar de violação alguém que, depois disso, vem a saber-se que tinha um passado que dava força à queixa? É possível, tal como é possivel um batedor de carteiras no metro ter a sorte de roubar uma carteira recheada de notas de 500 euros; mas não é muito provável. Assim, se a acusação foi falsa, é expectável que alguém ao corrente dos detalhes da vida privada de DSK tenha participado no esquema.
Isso não será uma divagação de um radical de esquerda e que viu muitos filmes de Alan Pakula, e que por isso vê conspirações de poderosos em toda a parte? Talvez. No entanto, acho pouco provável a hipótese alternativa (que é a empregada ter tentado, por sua iniciativa, incriminar DSK, talvez a troco de alguma indemnização, ou coisa parecida); porquê? Porque a "vítima" era ideal de mais - afinal, mal a acusação apareceu, surgiram novas revelações de casos de assédio ou mesmo de tentativas de violação da autoria de DSK, o que deu credibilidade à denúncia.
Ora, embora essas histórias sobre DSK fossem bem conhecidas nas elites francesa e do FMI, penso que não eram do conhecimento do público em geral, sendo pouco provável que uma empregada de hotel de Nova York (mesmo que de origem fancófona) as conhecesse. É possível que ela tivesse decidido acusar de violação alguém que, depois disso, vem a saber-se que tinha um passado que dava força à queixa? É possível, tal como é possivel um batedor de carteiras no metro ter a sorte de roubar uma carteira recheada de notas de 500 euros; mas não é muito provável. Assim, se a acusação foi falsa, é expectável que alguém ao corrente dos detalhes da vida privada de DSK tenha participado no esquema.
01/07/11
O imposto extraordinário sobre o subsidio de Natal (II)
por
Miguel Madeira
Afinal, dá-me a ideia que é ao mesmo tempo "literal" e "metafórico". Lendo isto, isto e ouvindo os noticiários, parece-me que:
- Os contribuintes irão pagar um imposto de 0.5*[(rendimentos de 2011 sujeitos a IRS) /14 - 485]
- Desse imposto, este ano irão pagar um adiantamento de 0.5*[(subsidio de natal) - 485]
- O resto (se houver) irão pagar em 2012
- Os contribuintes irão pagar um imposto de 0.5*[(rendimentos de 2011 sujeitos a IRS) /14 - 485]
- Desse imposto, este ano irão pagar um adiantamento de 0.5*[(subsidio de natal) - 485]
- O resto (se houver) irão pagar em 2012
Na mouche
por
Miguel Serras Pereira
Manuel António Pina, uma vez mais (mas nunca devemos cansar-nos de ir semeando aos ventos que por aqui passem a sua lucidez, a ver se o grão pega e, se em pegando, se multiplica e cresce - o que seria, sem dúvida, um acontecimento político maior, como se torna supérfluo demonstrar):
Com o corte de 50% dos subsídios de Natal, o novo Governo tenciona obter 800 milhões de euros, saídos (na verdade nem lá chegarão a entrar) dos bolsos de trabalhadores e reformados.
E para onde irá tanto dinheiro? Com mais 800 milhões poupados em "acomodações" na despesa do Estado que "o senhor ministro das Finanças detalhará nas próximas semanas" (preparemo-nos para o pior, designadamente para mais cortes nos apoios sociais e na saúde), servirá para compensar os 1 600 milhões que o Estado deixará de cobrar com a redução de 4% da TSU das empresas. O que é o mesmo que dizer que 50% dos subsídios de Natal dos trabalhadores e reformados, mais as "acomodações" ainda a anunciar, irão parar às contas bancárias dos empresários. Será reconfortante ver passar um Ferrari (pelo menos em regiões deprimidas como a do Vale do Ave) e imaginar que talvez uma porca de um daqueles pneus seja o nosso subsídio de Natal.
Com o corte de 50% dos subsídios de Natal, o novo Governo tenciona obter 800 milhões de euros, saídos (na verdade nem lá chegarão a entrar) dos bolsos de trabalhadores e reformados.
E para onde irá tanto dinheiro? Com mais 800 milhões poupados em "acomodações" na despesa do Estado que "o senhor ministro das Finanças detalhará nas próximas semanas" (preparemo-nos para o pior, designadamente para mais cortes nos apoios sociais e na saúde), servirá para compensar os 1 600 milhões que o Estado deixará de cobrar com a redução de 4% da TSU das empresas. O que é o mesmo que dizer que 50% dos subsídios de Natal dos trabalhadores e reformados, mais as "acomodações" ainda a anunciar, irão parar às contas bancárias dos empresários. Será reconfortante ver passar um Ferrari (pelo menos em regiões deprimidas como a do Vale do Ave) e imaginar que talvez uma porca de um daqueles pneus seja o nosso subsídio de Natal.
O imposto extraordinário sobre o subsidio de Natal
por
Miguel Madeira
Há uma coisa que ainda não percebi acerca do tal imposto de 50% do subsidio de Natal - esse imposto é literalmente de 50% sobre a parte do subsidio de Natal acima do salário mínimo, ou é-o metaforicamente?
Isto é, no mês de Novembro, a parte do subsidio de Natal acima do SMN vai ser sujeita a uma taxa de 50%?
Ou, a partir de agora e até ao fim do ano, todos os vencimentos acima do SMN vão ser sujeitos a uma taxa de para aí uns 7%, o que se estima que vá representar para o contribuinte um custo total equivalente a metade do subsídio de Natal?
Isto é, no mês de Novembro, a parte do subsidio de Natal acima do SMN vai ser sujeita a uma taxa de 50%?
Ou, a partir de agora e até ao fim do ano, todos os vencimentos acima do SMN vão ser sujeitos a uma taxa de para aí uns 7%, o que se estima que vá representar para o contribuinte um custo total equivalente a metade do subsídio de Natal?
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