18/05/10
A situação na Tailândia
por
Miguel Madeira
Um conflito em que nenhuma das parte me parece especialmente recomendável.
Os "vermelhos" apoiam Thaksin Shinawatra, um multimilionário que ganhou as eleições de 2001; no poder, o seu legado é ambiguo: por um lado, criou uma espécie de "Estado Social" na Tailândia - um sistema universal de saúde, suspensão do pagamento das dividas dos camponese pobres, emprestimos estatais de apoio a micro-empresas, construção de infra-estruturas, etc.; por outro, privatizou grande parte das empresas estatais (vindo-se mais tarde a provar que empresas suas ganharam bastande dinheiro no negócio), reprimiu violentamente as populações muçulmanas do Sul do país e a sua politica anti-droga levantou grandes protestos dos defensores dos direitos humanos. Thaksin foi reeleito em 2005 e, sob grande contestação da esquerda e da direita, em 2006 (eleição boicotada por toda a oposição).
Em Setembro de 2006 o exército (segundo alguns, incentivado pelo rei) assume o poder e exila Thaksin; a junta militar suspendeu a actividade dos partidos politicos e levou a referendo uma nova constituição (nomeadamente reduzindo o poder dos politicos eleitos em favor de orgãos nomeados).
Em Dezembro de 2007, houve novas eleições, tendo os "thaksinistas" (o "Partido do Poder Popular") voltado a ganhar, graças ao apoio das populações rurais pobres beneficiárias dos programas sociais de Thaksin (as credenciais democráticas do PPP também não são muito fortes - o seu lider da altura, Samak Sundaravej, veio da extrema-direita e foi um dos inspiradores do sangrento golpe de 1976).
O PPP fez uma coligação de governo com todos os outros partidos exceptuando o Partido Democrata (representante da elite tailandesa tradicional), mas o novo governo em breve começou a ser contestado nas ruas pela "Aliança Popular pela Democracia" (os "amarelos", a cor qie simboliza o rei) - diga-se o nome é um bocado enganador, já que o PAD defende maior protagonismo para o rei e um sistema politico de tipo corporativo, e chegou a defender que 3/4 dos deputados fossem nomeados em vez de eleitos (o argumento deles é que num país como a Tailândia a democracia tradicional leva à compra de votos).
Após vários bloqueios do PAD (aparentemente, com a cumplicidade de parte do exército e de elementos da casa real) aos aeroportos e edificios do governo, o Supremo Tribunal ilegalizou o PPP e os seus aliados (considerando que não passava de uma continuação do partido de Thaksin, logo continuava a aplicar-se a anterior ilegalização deste) e retirou os direitos politicos ao então primeiro-ministro (aliás, familiar de Thaksin) - diga-se que após as ilegalizações os partidos voltaram a reconstituir-se com novos nomes.
O Partido Democrata formou governo (aliado aos antigos aliados do PPP, com compras mais ou menos abertas de apoio) e situação inverteu-se: agora é a "Frente Unida pela Democracia e contra a Ditadura" (os "vermelhos", pró-Thaksin) que organiza protestos, defendendo novas eleições, enquanto os "amarelos" (que passaram a "multicolores") apoiam o governo. Neste momento grande parte da Tailândia está sob estado de emergência (que, pelos vistos, dá ao exército poder para dispersar manifestações a tiro - cerca de 60 mortos nos últimos meses).
Asim temos, de um lado, o governo apoiado pela oligarquia tradicional, pela classe média de Bangkok e pelo exército; do outro, os "vermelhos", dirigidos por uma facção da alta burguesia e com o apoio dos camponeses pobres.
Agora, a questão - alguma das facções é digna de apoio (não que o nosso apoio seja minimamente relevante, mas pronto...)? A minha tentativa de resposta - apesar de tudo, os "vermelhos" são os menos maus (no fundo, podemos considerar isto como um conflito entre a burguesia reformista - os "vermelhos" - e a burguesia reacionária - os "amarelos" e o governo no poder).
Onde se pode ter informaçõe detalhada e actualizada sobre o assunto - o blogue Visto de Bangkok, de um diplomata português no pais, e vários twitters, como este ou este.
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1 comentários:
Porque que é que temos de escolher?
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