16/05/10

O todo e as suas metades

Miguel Serras Pereira, companheiro livre e libertário de bloganço, decidiu publicitar aqui uma investida problemática de um blogger oposicionista. Fez bem. Sobretudo porque deu ilustração aos ilimites do insulto e do ódio, quando essas posturas se apoderam do cérebro de um intelectual politicamente lumpen.

É que dizer-se sobre alguém, em discussão mesmo que sendo a mais acesa, “Discutir com MSP é ser louco e cego. Ou pior. Assinalo aqui que com gente desta só devemos falar com colete de forças, nele posto à força se necessário.”, é mera declaração de candidatura a um posto de torcionário.

Mas com a sede da Gestapo encerrada há muito, a António Maria Cardoso transformada em condomínio de luxo e a Lubianka reciclada, estes ímpetos são de desvalorizar pela crise certa de desemprego que frustra esta candidatura publicamente exposta (oxalá este meu optimismo tenha suporte objectivo e subjectivo).

Acontece, no entanto, que o MSP deixou incompleto o retrato do candidato a torcionário, mostrando-lhe apenas a língua do ódio carniceiro. Para não sairmos daqui, quem lidou com a PIDE a sofrer-lhe os tratos sabe que os carcereiros tinham dois fluxos paralelos, o de aniquilarem quem perseguiam e a mansidão obediente do salamaleque relativamente à hierarquia dos seus “chefes”, até aos retirados de funções de mando mas possuidores de uma “autoridade moral e intelectual” sobrevivente na instituição. Como aqui se demonstra (nos comentários em outro post, em que o objecto de "malhação" foi Rui Bebiano):

Comentário de vítor dias
Data: 15 de Maio de 2010, 16:17
Atenção caro Carlos Vidal:
Posso compreender e respeitar entendimentos diferentes do meu sobre o que merece o quê. Mas o meu, como saberá quem me tiver acompanhado desde que em 2007 cheguei a este meio, é comandado por uma forte pulsão em que o problema de «dar publicidade» ou «dar confiança a» é quase sempre postergado pela vertigem de combater a impunidade e a desonestidade intelectual chegando tão longe quanto possível.
(…)
Comentário de Carlos Vidal
Data: 15 de Maio de 2010, 16:51
Caro Vítor Dias,
É evidente que de si e da sua acção de há muito era isso mesmo que eu esperava e saberia vir a encontrar.
Acho a gente daquele lugar onde o meu caro e (modestamente) eu próprio nos vimos envolvidos em “polémicas”, absolutamente desprezível. Sinceramente, gostaria que ninguém frequentasse casa de tamanha desonestidade, esse tal de blogue “factual” (??). Repare, eu disse “gostaria”.
Os factos são (como diria Marx n’A Ideologia Alemã): acompanhei a sua discussão com o “historiador” Bebiano.
A minha revolta leva-me – perante tanta desonestidade do sujeito em causa que se me afigura doentia (como escrevi num post em baixo) – a minha revolta levar-me-ia, deveria eu dizer, a abandonar tão deficiente interlocutor no deserto mais fundo.
Mas, na verdade, compreendo que argumente e contra-argumente com aquela gente, esperando eu que consiga mostrar a quem lê seriamente as coisas a verdadeira face daquelas personagens (e aquilo que os move).

17 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João, caros camaradas do Vias e outros caros e menos caros frequentadores do mesmo:
escrevi, ao longo do dia à gente da casa e ontem na caixa de comentários do post “Carlos Vidal por Ele Próprio”, que decidira adoptar a atitude de ignorar o CV., -seguindo nisso. de resto, o parecer de vários amigos, caamaradas de blogue e outras pessoas que muito prezo.
Mas torna-se-me impossível não suspender essa opção por um momento perante o post arrasador e certeiro do camarada João Tunes.
O comentário do CV que publiquei como post mostrava só – e já não era pouco – o lado bestial, o brutal fanatismo, a baba raivosa do proto-fascista. O post do João Tunes mostra a outra parte dos ingredientes com que se faz um fascista: a sua subserviência, a sua adoração aduladora do poder hierárquico, o gosto do delator pelos protestos de fidelidade aos que institui como seus superiores.
Dito isto, meu caro João Tunes, não penso – e julgo que me acompanharás – que o Vítor Dias tenha inspirado ou instruído o CV neste assunto. É verdade que quem cala… consente, e que o VD não rejeitou o apoio obsceno e altamente comprometedor que o CV lhe ofereceu. Dir-se-á que também não o agradeceu nem aceitou explicitamente. Creio, no entanto, que o mínimo seria ter-lhe dito, como o Tiago Mota Saraiva fez a outro propósito, “Assim não, Carlos Vidal”. Explicar ao CV e a toda a gente que quem aceita ser defendido assim compromete a dignidade da defesa das suas posições. É visível que o VD não tem o mesmo entendimento a este respeito. O que é de lamentar em alguém que compartilha comigo – connosco? - l’amour du temps des cerises.
Assim, a minha posição no que se refere ao VD, continua a ser a que enunciei no meu post, aqui publicado sob o título de “Post-Scriptum à ‘Resposta a Vítor Dias’”:
“Quem me dera acreditar que VD, inspirado por Le Temps des cerises e pela meditação da Comuna, será um dia capaz, não de soçobrar psiquicamente, nem de tornar-se social-democrata, mas de se juntar aos que entendem, como entendia Rosa contra Lenine e Trotski, que "a liberdade é sempre a liberdade daqueles que pensam de outro modo", e que essa liberdade é parte essencial da igualdade instituinte, da democracia real, cujos cidadãos, em vez de quase só votarem para não serem eles a governar, renunciando ao exercício do poder ao escolher os governantes de entre os candidatos que o exercerão sobre os seus trabalhos e dias, assumirão a responsabilidade de serem eles a darem-se as suas próprias leis, sabendo que o fazem, e recusando a legitimidade de qualquer decisão em que não tenham podido participar como iguais, de qualquer forma de governo que os exclua do corpo dos governantes”.

Para ti, João, agradecendo com emoção o teu desassombro e solidariedade activa, um abraço muito especial

miguel sp

Unknown disse...

Para o MSP. Homem, deixe lá o VD em paz! O banho de lama com o Vidal não lhe chega? Desculpe que lhe diga, mas você tem todos os traços psicológicos do ressentido.
As polémicas são úteis, e interessantes, quando se lhes sabe pôr um ponto final. Nisso, e desculpe se lhe ofendo o amor próprio, teria alguma coisa a aprender com o VD.

Anónimo disse...

Mandava algum rigor e seriedade que, em vez de confiar num link, se tivesse explicado aos leitores que o meu comentário ao Carlos Vidal não foi aposto ao texto que escreveu e é citado inicialmente por João Tunes mas a outro post de poucas linhas onde no final observava entre parêntesis :«(Atenção caro Vítor Dias – aquilo, aquele lugar, não merece nem um olhar de soslaio, nem uma vírgula)».
Na sequência em que a coisa aqui foi apresentada, até parece que fui eu que comecei a conversa com Carlos Vidal e alguns leitores até poderão pensar que aquele foi um comentário meu ao outro post de C. Vidal.
Não havia necessidade. Quanto ao ter de sobrar para mim,estava-se mesmo a ver, pelos vistos agora também tenho de rejeitar supostos «apoios», coisa que não vejo aplicada nem praticada nesta chafarica e, ainda recentemente, houve motivos para isso.
Passar bem.

Anónimo disse...

Pensando melhor, explicito o meu último parágrafo do comentário anterior.

É que fui eu, que J. Tunes trata como um dos «“chefes”, até aos retirados de funções de mando mas possuidores de uma “autoridade moral e intelectual” sobrevivente na instituição», que, de forma reflexa, estive aqui a defender a honra, a coerência e a dignidade do J. Tunes antifascista que foi à guerra colonial face às tolices de R. Bebiano, enquanto J. Tunes guardava de Conrado o prudente silêncio, não sei se por disciplina de blogue se por reverência intelectual com o historiador e prof. universitário.

Filipe Moura disse...

Subscrevo na totalidade o que é aqui escrito sobre Carlos Vidal. Tendo sido eu o primeiro a incompatibilizar-me com o desvairado artista, não recebo lições de "vidalismo" de ninguém.
Dito isto, não quero deixar de apontar a profunda desonestidade com que aqui se referem a Vítor Dias. Felizmente, o próprio tem a paciência de vir para aqui repor alguma verdade.
Fará isso de mim um acólito de Vítor Dias? Para João Tunes e Miguel Serras Pereira, pelos vistos, sim. Nas cabecinhas destes autores impera uma lógica de "quem não está comigo, está contra mim", bem visível no modo como exigem a Vítor Dias que se demarque dos delírios vidalianos, como se tivesse alguma coisa a ver com eles. E diz-se esta gente "libertária"...
Não que eu tenha algo por princípio contra o "quem não está comigo está contra mim", mas só deve ser dito em situações extremas. Foi esse o erro de Vasco Gonçalves, pessoa cuja memória, de resto, eu muito respeito.

Miguel Serras Pereira disse...

VicHugo,
o problema é que enquanto o VD se reivindicar da Comuna, do projecto da construção de uma sociedade que substitua o Estado pelo poder democrático da auto-organização popular e o capitalismo pela economia dos produtores associados, eu não poderei deixar de estar interessado em discutir politicamente com ele as "vias de facto" desse projecto. Aliás, seria ofensivo da minha parte "deixá-lo em paz", não o considerando qualificado para o debate.

Filipe Moura,
não, não penso que você seja um acólito do VD, e tive, de resto, o cuidado de dizer que não considero que VD tenha instigado intervenções do tipo daquelas a que nos habituou o fascista em formação a que você se referiu. Mas há ofertas de vassalagem que tendo sido publicamente endereçadas ao VD, entendo que este deveria repudiar também formalmente. Até em nome da sociedade sem vassalos em que se declara apostado. Lamento que você tenha entendido de outro modo a minha posição. Que não era: se não concordas comigo, não discuto mais contigo as nossas divergências.

Vítor Dias,
o que teria a responder-lhe já está dito na resposta aos dois comentários anteriores. Mas entenda-me bem: se aparecer aí um tipo a dizer que está de acordo comigo a tal ponto que acha que é preciso restaurar a PIDE para dar caça aos militantes do PCP, garanto-lhe que repudio esse "apoio" (não desejado) e denuncio a tentativa de aproveitar o guarda-chuva das minhas divergências consigo para reabilitar a polícia política salazar-marcelista. Tão simples como isto.
Quanto às questões de fundo que indiquei na nossa troca de comentários, se um dia as quiser discutir seriamente, aqui me terá pronto a fazê-lo. Não duvida, pois não?

Zé Neves disse...

Caro João Tunes,

Eu não confundo o Vítor Dias com o Carlos Vidal. Percebo a lógica "as partes e o todo e o todo e as partes", mas isso não significa que tomemos o todo por uma das partes e assim tomemos as partes todas por iguais. Seria demasiado fácil e acho que o Miguel Serras Pereira tem razão. É claro que me faz confusão que o Vítor Dias dê troco ao Vidal, mas sempre serve para ver os limites da famigerada irreverência do Vidal. Ou seja: o Carlos Vidal é um perfeito normal (embora invertido, porque, parece, o seu princípio é fazer tudo ao contrário do que julga normal) e o Vítor Dias é um militante comunista (ou uma militante, quando é a Glória não sei quantas a roubar-lhe a ID) com o qual (isto sou eu, é claro) é possível discordar e concordar.

abç

Miguel Serras Pereira disse...

Adenda:
Vítor Dias e Filipe Moura,
que fique claro que não insinuo que o VD devesse humilhar-se e pedir desculpas pelo que escreve alguém que se declara seu admirador e se gaba de serviços que lhe prestou sem que lhe tenham sido pedidos.
O que gostaria de o ter visto fazer é outra coisa. Adoptar a atitude de "coerência e dignidade do J. Tunes antifascista" (como o VD o considera) quando, há tempos, apagou da caixa de comentários de um post em que criticava Vital Moreira a intervenção de alguém que aproveitara a boleia da crítica para injurirar o ideólogo socialista do anti-socialismo.
Ou, por exemplo, a atitude de Saramago perante a agressão de que o mesmo Vital Moreira - sempre ele, "esse homem fatal" - foi objecto durante uma manifestação do Primeiro de Maio (a de 2009). Na altura, Saramago reclamava que o seu partido e o respectivo secretário-geral se demarcassem inequivocamente da agressão, tendo publicado ( http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1219938 ) um texto que começava: "Espero que a estas horas os agressores de Vital Moreira já tenham sido identificados. Quem são eles, afinal? Que foi que os levou a um procedimento em todos os aspectos repulsivo? Que ligações partidárias são as suas? Sem dúvida a resposta mais elucidativa será a que vier a ser dada à última pergunta. A Vital Moreira chamaram-lhe "traidor", e isto, queira-se ou não se queira, é bastante claro para que o tomemos como o cordão umbilical que liga o desprezível episódio do desfile do 1º. de Maio à saída de Vital Moreira do Partido Comunista há vinte anos" (J. Saramago, "Expulsão", DN, 3 de Maio de 2009).
Concebo mal que um militante que queira honrar as suas convicções não se sinta atingido quando vê um canalha servir-se da sua (dele, militante) bandeira, e vejo mal o que o poderá então impedir de denunciar o que aos seus olhos só pode parecer uma usurpação.
É verdade que Lenine escreveu um dia que "um patife nos pode ser útil justamente por ser um patife" (cit. por Rui Bebiano, "Outubro", Coimbra, Angelus Novus, 2009, p. 22). Mas seria um alívio e motivo de regozijo para mim pensar que VD, neste ponto, não se sente obrigado a seguir Lenine…

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Zé,
tens razão, é claro - mas não me parece que aquilo que dizes infirme o post do João.
Por outro lado, a condição auto- ou hetero-proclamada de "militante comunista" é, e eu lamento-o tanto como tu, um critério bastante incerto. Precisamos de saber em cada caso como entende o militante em causa as vias de facto da sua militância (acção política, princípios organizativos) e a prática do seu comunismo. Lembro-te, para me ficar por dois ou três exemplos, que se diziam - e eram ditos por outros - "militantes comunistas" os coveiros dos sovietes, os carrascos do POUM e outros combatentes da Espanha de 1936-1939, os chefes locais da repressão do projecto de uma república dos conselhos na Hungria…
Ora bem, e para ver se saímos da cepa torta, admitindo uma definição maximamente inclusiva do "comunismo" segundo a qual o comunismo indica a vontade instituinte de acabar com a exploração e com o regime do poder classista, seria importante de facto discutir como lutar de modo a manter em aberto e a alargar esse horizonte - que é, no fundo, o horizonte revolucionário da democracia e da autonomia.
Mas veremos se o VD se mostra disposto a tanto.

Abraço autonomista

miguel sp

João Tunes disse...

Por causa das confusões, não sei se todas convenientes, esclareço:
1 - Eu não confundo, nem confundi, bajulador com bajulado. E obviamente que no caso, é o bajulador que, para mim, está em causa. Até porque este tipo de bajulador, alguém que explicita apetências e valências para ser torcionário, sobre posicionamentos políticos que gostaria de exterminar por internamento forçado num manicómio gerido por um Mengele formado no NKVD (e havia disso no "sol que iluminava a terra"), bajula tudo "para cima", para o patamar orgânico ou ideológico que considere mais poderoso, idependentemente do "chefe" ou "referência" que estiver de serviço ou se chegue à tribuna. Portanto, no caso, o bajulado de ocasião constituiu-se como irrelevância.
2 - Ficaram exaustivamente desfiadas e vincadas as minhas divergências com Rui Bebiano (publicamente antigas e aqui só retomadas) acerca das atitudes dos militares anticoloniais face á participação ou recusa dela na guerra colonial. Como discordo profundamente da leitura que ele faz da posição do PCP relativamente à guerra colonial e às "intruções" que dava aos seus militantes e simpatizantes mobilizados para a guerra (variáveis consoante a responsabilidade partidária, as circunstâncias e os condicionalismos e disponibilidades de cada um, aceitando aqueles que se dispunham a desertar e exilando-se antes de embarcarem, a outros que desertassem e passassem à clandestinidade, a outros que fizessem a guerra e aí encontrassem as formas posssíveis de fazerem trabalho de sapa contra a guerra e praticassem o activismo político que devia ser o máximo que as circunstãncias particulares permitissem). E escrevi aqui que entendia que o Rui Bebiano hipervalorizava uma única atitude, afinal a que ele pessoalmente recorreu (embora já depois do 25A), julgando que isso foi o suporte da sua infeliz, porque injusta, investida contra Manuel Alegre. Só que não necessitei, nem isso faria, de o desqualificar, pessoal, profissional e academicamente, para "juntar trunfos". Tanto mais que me honro de ser seu amigo. Numa discussão, em que VD, antes de argumentar, entrou no insulto pesssoal e profissional, o que contaminou aquela espécie de diálogo, não podia entrar em banhos de lama com que alguns entendem ser substitutos aceitáveis da discussão aberta acerca de divergências.

miguel disse...

Miguel Serras Pereira: "Mas seria um alívio e motivo de regozijo para mim pensar que VD, neste ponto, não se sente obrigado a seguir Lenine…"

Tiro-lhe o chapéu! O Miguel consegue, sem acrescentar quaisquer argumentos, enrolar o adversário em habilidades retóricas, falaciosas e associações de ideias com as quais ele próprio discorda, de tal forma que este fica impossibilitado de responder o que quer que seja que contrarie a opinião do Miguel, sob pena de ser atirado para o caixotes onde o Miguel enfia os "canalhas".

Reconheço-lhe todo o mérito na habilidade retórica (ainda assim um pouco aquém da magnífica e sobre-condimentada jactância do Júlio Carrapato).

Vítor Dias disse...

Santo Deus, grande baralhação, a de Miguel Serras Pereira!

Com efeito, aconselha-me a que devia ter feito o que J. Tunes uma vez fez quando apagou um comentário no seu blogue, esquecendo-se além do mais que a troca de comentários entre mim e Carlos Vidal ocorreu no «5dias» e não em «o tempo das cerejas».

Depois, vai buscar o caso «Vital Moreira/1º de Maio» (não, não é o deste ano porque este ano não foi lá) e, entre outras coisas que na altura foram suficientemente clarificadas, esquece-se que acabou por ficar bem identificada (até por imagens) a que corrente política pertencia o principal debitador da acusação de «traidor».

Por fim, uma nota que considero importante e mais do que adequada que se destina a vários «comentadores».

Sem me dar excessiva importância, estou na blogosfera há três anos, já não era propriamente um desconhecido e, por isso, sendo sabido que eu não tenho nenhum problema e antes tenho muita honra em assumir-me como comunista e como militante do PCP,sempre estranhei a quase geral necessidade que tantos bloggers sentiam de, quase sempre, se referirem a mim como «o comunista Vítor Dias».

Parece que têm medo que os leitores não saibam o que politica e partidariamente sou mas já, salvo ocasionalmente, ninguém anda a escrever «o bloquista Daniel Oliveira», «o "social-democrata" Pacheco Pereira» ou «o socialista Vital Moreira» ou, com mais rtigor «o socialista Paulo Pedroso».

Agora aqui em alguns comentários já não é só o «comunista» mas também o «militante» do PCP que, em matéria de opiniões de um blogue, vem à colação.

Não acho graça e, em alguns, acho que isto não é inocente. Não apenas porque isto favorece uma ilegitima dedução que sempre combati - a de que o que um blogger comunista escreve responsabiliza o PCP - como também reconduz e aprisiona a minha pessoa na EXCLUSIVA qualidade de militante comunista.

Triste sinal dos tempos e do esquematismo e desumanização que povoa a cabeça de certos humanistas e anti-esquemáticos, parece quase ser uma boa obra de caridade que eu aqui declare que a minha militância comunista tem o peso e a importância estrutural que tem na minha vida mas nem por isso deixa de existir o homem, o cidadão, o ser humano Vítor Dias, apenas Vítor (Manuel Caetano) Dias.

Miguel Serras Pereira disse...

Vítor Dias,
você não me lixe, pá! O que é isso de dizer que eu lhe recomendei que fizesse a mesma coisa que o João Tunes, quando só lhe disse - e mantenho - que uma atitude como a do João, que adoptasse os critérios de coerência antifascista da que ele tomou, o levaria a si a recusar um apoio à sua causa que se vira contra ela.
Quanto ao exemplo do J. Saramago, é válido: substancialmente, ele exigia que o partido de que se declarava "militante disciplinado", uma vez que fora posto em causa por uma forma de "defesa" inaceitável, a repudiasse inequivocamente, etc.
Mas o que lamento agora é que você não pareça muito disposto a encetar a discussão sobre os temas acerca dos quais valeria politicamente a pena ouvi-lo.
E que são do tipo daqueles a que aludi no meu anterior comentário ao comentário do Zé Neves: como lutar contra a dominação classista que nos governa por meio de um Estado -que usurpa o título de democrático e esvazia de sentido, restringindo-as hoje cada vez mais, as próprias liberdades conquistadas contra ele por séculos de lutas operárias e populares - e de um aparelho económico que nos dita as suas leis tanto mais eficazmente quanto menos declara fazê-lo? Que princípios e formas de organização convêm a essa luta e que representações ideológicas e soluções orgânicas tendem, pelo contrário, a condená-la a reproduzir, e por vezes a agravar, a exploração e a dominação hierárquicas (classistas)? "Como construir que democracia", se é nisso que estamos interessados, que não esqueça e reactualize, aprofunde e potencie, os propósitos de acabar com a exploração do homem pelo homem e de instaurar formas de auto-governo fiéis ao legado da Comuna?


Miguel,
olhe que não. Não me deve ter lido bem. Ou terei sido eu que me expliquei mal. O que sustento é precisamente o contrário de usar os caixotes de lixo da história para eliminar o livre-exame das questões, a reflexão sobre as acções a empreender, a construção de plataformas políticas que permitam a unidade de acção em vista de uma transformação radicalmente democrática das instituições e do regime político-económico dominante.

msp

Zé Neves disse...

caro miguel serras pereira,
de acordo, com a necessidade de destrinçar o comunismo de que falamos. para mim é um programa mínimo, não um horizonte futuro, isto é, é um modo de transformação e não a obra que resulta dessa transformação.

caro vítor dias,
quando referi que era militante comunista, acredite, estava a referir-me à sua condição supra-partidária e não à sua condição de militante do PCP. Houve um equívoco, aliás compreensível. É que eu, por exemplo, não sendo militante do PCP, considero-me militante e comunista, seja lá isto o que for (isto é, isso é outra discussão).

quanto ao mais, acredite sinceramente que não me importava nada que o Vítor Dias fosse uma das vozes oficiais do PCP, em lugar da sua voz ser apenas a sua voz.

abç

Anónimo disse...

Já chega Miguel Serras Pereira. Estás obstinado, já chega.

Não se pode censurar ninguém de não querer discutir connosco. Sobretudo quando, como é nítido e comprovável nas mensagens anteriores, se começa a tresler as palavras dos outros e, mais grave ainda, a tresler as próprias palavras (a dar o dito por não dito, a retorcer o texto, a forçar interpretações, a desviar as conversas para terrenos de discussão que não estavam em causa, etc.).

Miguel, pareces um puto da primária que anda bulha e só fica satisfeito se der a última palmada (ainda que, merecidamente, tenha levado nas fuças).

Rui Fontes

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Zé Neves,
cem por cento de acordo quando escreves: "para mim é um programa mínimo, não um horizonte futuro, isto é, é um modo de transformação e não a obra que resulta dessa transformação". De resto, a destrinça que é necessária também para mim não tem sentido em termos de grandes fins últimos, abstractos e que não comprometem a grande coisa, mas deve resultar do confronto dos "modos de transformação". Isto sem deixar de reconhecer que o "horizonte" também faz parte do presente - tal como a memória. Dito isto, é a propósito do que chamas o programa mínimo e o modo de transformação, do trabalho vivo e não da obra, que é preciso definir posições e escolher politicamente.
Abrç

miguel sp

Miguel Serras Pereira disse...

Rui Fontes,
não me parece que nesta caixa de comentários os intervenientes estejam a dar nas fuças uns dos outros. Mas que você parece, com o desacerto da palmada que menos perspicazmente me atribui como propósito, querer dar um tiro no seu próprio pé, lá isso, sim, é o que parece. Tome cuidado, homem, não se estropie.

Atentamente

msp