13/05/10

Resposta ao Miguel Serras Pereira

Claro, Miguel, que não pretendo declarar «a inviabilidade política da democracia», da «cidadania governante», nem mesmo da «autonomia da "multidão"». Pelo contrário, quem me conhece sabe que nunca tiro do horizonte esses e outros conceitos semelhantes que partilho contigo e com uns tantos, não muitos, e que é isso que me move na vida e me faz estar aqui – a crença na utopia de que, um dia, tudo isso será não só possível como acontecerá.

Mas há algo que nos distingue: eu não sou capaz, nem quero by the way, obrigar-me a não sair desse plano 24 horas dos 365 dias do ano. Mantendo-o como pano de fundo e tentando não o trair, olho para o curto prazo de uma forma «militantemente pragmática», como referi no comentário que deu origem a este teu post, e é nesse contexto que me comportarei relativamente às presidenciais de 2011. Sem qualquer tipo de esperança de que, algures no início do próximo ano, estejamos numa terra sem amos ou perto disso, mas sabendo que sempre houve, e haverá, alguns amos que são bem melhores do que outros (ou menos piores, se preferires).

Da mesma maneira que comemos, dormimos e fazemos outras coisas terra à terra todos os dias, em vez de entrarmos em greve da fome ou em vigília permanente contra o capitalismo selvagem que está a arrasar o mundo, também podemos e devemos, julgo eu, cuidar do amanhã o melhor possível para o que se segue não seja catastrófico. No caso concreto que nos ocupa, discutamos tudo no plano dos princípios, tentemos influenciar o curso dos acontecimentos no sentido que nos parecer mais correcto, mas sem contribuirmos para a inviabilização daquela que parece ser, até ver, a melhor alternativa disponível e que, para mim, é mais do que aceitável. Mas que fique bem claro que este meu «pragmatismo» tem muitos limites: por exemplo, não votaria amanhã em Sócrates, nem contra Passos Coelho, como não votei António Costa para evitar Santana Lopes…

Desiludo-te? Talvez, mas sou assim e já não mudo…

2 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Cara Joana,
o meu problema não está no voto no "mal menor" - ou como tu dizes: "melhor alternativa disopnível -em certas circunstâncias, que podemos avaliar de modo diferente.
O que continuo a não compreender é a absolutização desse apoio relativo, a exigência de silêncio, a idealização.
Por mim, não sei de votarei ou não em MA,mas sei que nunca votarei ou apoiarei um candidato seja ao que for que não possa criticar ao mesmo tempo que o apoio: nunca participarei numa plataforma ou organização que não possa pôr em causa; nunca, nem na mais democrática assembleia de cidadãos, aceitarei que haja uma proposta que exija ser aclamada sem reservas pelos que a defendam.
E é aqui que o ponto bate. O que verdadeiramente importa, quero eu dizer. E acrescento que creio que, no fundo, estarás de acordo comigo.
Forte abraço

miguel

Joana Lopes disse...

Mas qual é a dúvida, Miguel? Exagerei talvez na forma para explicar o objectivo da «não inviabilização» de uma possível vitória de MA.

O direito à crítica é a base de uma plataforma democrática mínima, obviamente. Era o que faltava que fosse eliminada!
Mas outra coisa bem diferente é a obsessão em sublinhar defeitos e lacunas de MA, que por aí grassa. (Não estou a pensar, de todo, no post do Rui B., com o qual a discussão começou neste blogue, mas na «onda» neste sentido, que reina sobretudo dentro do próprio PS e dos seus eleitores.)