16/05/10

É esta a igualdade que Manuel Alegre compreende?

Foi um post do Tiago Mota Saraiva que me alertou para isto:

José Sócrates defendeu hoje o aumento do IVA em todas as categorias, salientando que a medida vai afectar todas as pessoas e não só as famílias de baixos rendimentos.

A exigência de igualdade de Sócrates fica satisfeita com o "não só as famílias de baixos rendimentos".  Mas a pergunta a fazer a Manuel Alegre - à sua candidatura enquanto movimento - é se é esta a concepção de igualdade que, embora não a aplauda, ele compreende. Devemos compreender que, se fosse Presidente da República nestas circunstâncias,  não aplaudiria nem vetaria as medidas em apreço? Que as aprovaria, como quem não quer a coisa, lavando as suas mãos da iniciativa, e dizendo que a questão não faz parte das competências do Presidente de todos os portugueses?

Já percebemos o "nem…nem…". Mas, e depois, o quê?

8 comentários:

Joana Lopes disse...

Miguel,
Isto não responderá às tuas perguntas, mas sempre é mais completo e mais recente:

Anónimo disse...

Joana

Parece-me que de facto o texto de Manuel Alegre, para o qual remete a atenção do Miguel Serras Pereira, não só ajuda a esclarecer as suas dúvidas como fundamenta a sua implícita perplexidade.

Com efeito, por mais que me esforce por - e apele à minha “simpatia residual” por MA – não consigo ler no seu texto outra coisa que não seja isso mesmo:

1 – uma mensagem de apoio e compreensão relativamente às medidas do governo; justificando-as e apelando a que sejam devidamente explicadas, com base no pressuposto de que na actual situação e dentro dos limites da lógica do sistema, não haveria outra coisa de substancialmente diferente a fazer;

2 – um aviso ao eleitorado de que se estivesse no governo – quis ele dizer “quando estiver” – em circunstâncias semelhantes não esperem dele decisões muito diferentes;

3 – e a última linha, apelando ao “talento para inventar novas soluções e abrir novos horizontes”, pelo seu carácter vago, não me soa a outra coisa que não seja um ornamento retórico de obrigação.

De MA não é legítimo esperar que se fique apenas pela verificação da inexistência de alternativas, antes porém a sua candidatura só se justifica se tiver algo de novo a propor. Mesmo que apenas sob a forma de esboço.

nelson anjos

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Nelson,
outros "fogos" impediram-me de responder à Joana. Mas tê-lo-ia feito precisamente nos termos em que você o faz. É verdade que o texto que a nossa amiga e camarada cita só confirma a minha leitura.
Nem uma palavra para dizer explicitamente que os encargos a pagar pela factura europeia poderiam ser distribuídos de outro modo - e que isso, por si só, não exigiria sequer decisões particularmente radicais.
Acresce que estas atitudes tacticistas ou resultantes da indecisão crónica de MA são tiros nos pés - já quebradiços - da sua candidatura, ao mesmo tempo que reforçam as posições da direcção socratista do PS. Não se combate o Bloco Central "compreendendo" as suas políticas, ou consagrando-as como necessárias e inevitáveis. Porque quem assim o entende só tem uma coisa honesta a fazer em relação ao mesmo Bloco Central: apoiá-lo sem papas na língua e defendê-lo sem equívocos. O resto - querer enfeitá-lo com símbolos rituais da cidadania activa e da democratização que, ao mesmo tempo, ficam para quando puder ser - é servi-lo por meio de uma mistificação. E esta politicamente não é menos devastadora se começar por ser auto-mistificação.
Abrç

msp

Joana Lopes disse...

Nelson e Miguel,
Vocês são uns líricos e esperam de MA mais do que ele próprio...
Claro que vai ter sempre posições deste tipo, mais coisa menos coisa. Qual é a dúvida?
Repito o que já disse alguns dias atrás: prefiro que Cavaco se vá embora o mais depressa possível - no início de 2011 - e só MA tem hipóteses, e poucas, de o tirar de lá. As minhas expectativas são apenas estas.

Miguel Serras Pereira disse...

Camarada Joana,
espero que compreendas que aquilo que o MA compreende sem aplaudir é também o Bloco Central - e o Bloco Central era justamente o que tu e outros que põem tanto empenho na campanha queriam esconjurar elegendo MA.
Não preferes com certeza um Bloco Central avalizado à esquerda, mascarado com o aval de um "Presidente antifascista", e, nessa medida, mais sólido e consensual… Não percebo qual é a tua ideia.
Mais ainda. Se seria sempre difícil a MA ganhar as eleições, estas atitudes enfraquecem ainda mais as suas possibilidades. Acalmam os ànimos, desautorizam o descontentamento em vez de o reconhecerem, se solidarizarem com ele e o mobilizarem, etc., etc. Desmentem as altivas proclamações suprapartidárias. Alimentam a resignação, a indiferença, a ideia de que as coisas são assim mesmo. Não arriscam nem riscam.
Vá lá, camarada, um bocadinho mais de pressão democrática sobre o candidato… e oxalá produza efeito.
Abrç

miguel (sp)

Joana Lopes disse...

Miguel,
As coisas vão mudando todos os dias e o Bloco Central AGORA já aí está, mais do que consagrado com o tango entre Sócrates e Passos Coelho.

Eu tenho talvez menos ilusões do que tu relativamente a MA, foi o que quis dizer. E não me parece que, NESTE MOMENTO, haja muitas pressões possíveis. Mas oxalá me engane.

Depois de o PS o apoiar (ou não, mas julgo que sim), começa uma nova etapa. Agora, ele está em compasso de espera e não sairá deste tipo de afirmações.

Miguel Serras Pereira disse...

Sim, Joana.
Está a liderança do PS com medo dele, MA, e MA com medo daquela. A liderança do PS teme a cisão e a perda de liderança do Bloco Central (sim, é pequena política da mais rasteira, mas é assim), e MA teme não ser eleito sem o apoio explícito da liderança do Bloco Central contra o qual fala, mas cuja inevitabilidade compreende. Só que para liderar um eleitorado que maioritariamente se divida entre a abstenção e a resignação ao inevitáve e a opção por dar a sua pouca confiança resignada na competência técnica, na "união de todos os portugueses" e na estabilidade como meios de minorar a crise, Cavaco é uma escolha mais verosímil do que MA. Com esta atitude, a candidatura de MA não só compromete as suas já difíceis perspectivas de vitória nas presidenciais, como as perspectivas de alimentar e promover, ainda que perdendo a batalha eleitoral, uma oposição ao Bloco Central capaz de pôr na ordem do dia outros modos de fazer política a exercer a cidadania, contribuindo para a reafirmação e reformulação instituintes de novas respostas democráticas à crise do sistema.
Dirás que, se vamos ter de aturar o Bloco Centra, será melhor tê-lo pintado de rosa do que de laranja? É muito duvidoso que se os que preferem o rosa não levarem essa sua preferência suficientemente a sério para dela tirarem a força de se opor ao Bloco Central, este não acabe por ser o grande beneficiado por uma tonalidade mais "social" puramente cosmética.
Abrç

miguel sp

Joana Lopes disse...

Eu estou de acordo com tudo o que dizes, da primeira à última linha.

Se preferisse o rosa para evitar o laranja, teria votado Sócrates com medo de Ferreira Leite, como tanta gente «insuspeita» fez. Não é o meu estilo.

O que já disse de dez maneiras diferentes, e repito, é o seguinte: neste momento, aguardo os próximos capítulos e prefiro calar-me a disparar sobre MA.