12/05/10

Juiz Garzón, «o último exilado do franquismo»

Baltasar Garzón aceitou o convite que lhe foi dirigido pelo presidente do Tribunal Penal Internacional para exercer a função de assessor externo naquela instituição, durante sete meses, e pediu para esse efeito a respectiva autorização ao governo espanhol.

A «Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica» já reagiu considerando este «exílio» de Garzón como uma «amputação na justiça espanhola»: «"Que el único juez que se ha atrevido a investigar estos crímenes se tenga que marchar de España es un estrechamiento de la democracia", opina Silva. El colectivo cree que es "un hecho de extrema gravedad como precedente para otros jueces que intenten investigar los crímenes del franquismo"».

Quem o diz é Emilio Silva, presidente da referida Associação, que conheci há alguns meses num colóquio do CES, em Coimbra, e que é autor do livro Las fosas de Franco. Nele relata, detalhadamente, os esforços e toda a espécie de peripécias que o levaram a encontrar as ossadas do seu próprio avô, militante da Izquierda Republicana, assassinado pelos falangistas em 1936.

Por mais que nos indignemos com este verdadeiro escândalo que se passa aqui bem perto de nós, nunca conseguiremos realizar a revolta dos que nela estão directamente envolvidos, como é o caso dos familiares das vítimas do franquismo, que vivem naquilo que chamam uma «grande fossa chamada Espanha».


(Publicado também aqui)

3 comentários:

Jorge Conceição disse...

"Por mais que nos indignemos"? Quem é que se indignou? Melhor, qual é a dimensão da indignação em Portugal? A um dia da passagem de mais uma data assinalando o 25 de Abril de 1974, para a vigília de apoio a Baltasar Garzón em frente da Embaixada de Espanha, o melhor número de pessoas ali "concentradas" não ultrapassou as quarenta. E seis delas eram espanholas que tinham vindo a Lisboa assistir à comemoração "popular" do 25 de Abril... Sem contar com os sete polícias armados e com fardas operacionais, mas contando com os dois ou três repórteres ali presentes e com um ou dois polícias à paisana que por ali circularam e que, depois, foram conferenciar e galhofar com os fardados. Imagino que, se o Embaixador espreitava por detrás das cortinas, deverá ter colocado um sorriso de orelha a orelha e comentado que "Destas solidariedades, gostamos! Que venham mais!"

Joana Lopes disse...

Tens razão, Jorge, o meu «indignemos» foi provavelmente um plural majestático.
Julgo que essa concentração foi organizada a partir do FB, provavelmente sem a liderança necessária. Sei que houve uma outra sessão (?)em Lisboa enquanto estive em viagem mas não cheguei a perceber qual nem se teve pouca ou muita gente.

Jorge Conceição disse...

É verdade que a concentração foi organizada por anúncio no FB e que não houve nenhuma organização que lhe desse suporte, para além dos subscritores. (E isso, quanto a mim, foi um modo de os partidos dizerem "vejam como sem nós vocês não são nada!"). Desconheço, no entanto, se houve qualquer outra acção alternativa. Se houve, não teve divulgação. Na verdade esta "manifestação", autorizada pelo Governo Civil, foi a única noticiada por El Pais e pela RTP, na mesma sequência em que informaram as manifestações no mesmo dia nas várias cidades espanholas, em Paris, em Londres e na cidade do México. A RTP filmou-nos de relance, depois de nos ter feito "concentrar", talvez para não mostrar a escassez de participantes...