Não dou com um link utilizável para a Visão, mas não é difícil encontrar na rede excertos da crónica de Boaventura Sousa Santos ou arranjar a revista em qualquer quiosque. Sublinho — na esteira de outros — a frase: "Não tenho vergonha de o dizer publicamente: podemos ser preguiçosos, podemos não saber como nos governar, mas não matámos 6 milhões e judeus e ciganos. Tenho pena de o dizer, mas tenho de o dizer. O nacionalismo puxa o nacionalismo. A Europa sempre foi isto. E é disto que tenho medo".
A profissão de fé do guru não podia ser mais clara e o espírito eclesiástico-inquisitorial entranhado de BSS revela-se aqui em todo o seu mais viscoso brilho. É toda a escolástica do anti-semitismo em concentrado que o professor predicante retoma, assestando-a embora sobre um alvo diferente. Mas o seu anti-germanismo é tão racista e viciosamente identitário como o anti-semitismo. Segundo BSS, os alemães são anti-semitas e exterminacionistas — é a sua identidade —, como para os nazis os judeus eram degenerados, falsos e lascivos, ou, para os anti-semitas cristãos, eternos herdeiros da culpa do deicídio. É o fundo do seu pensamento, que se trai sob o efeito do vinho da crise. E, se esta última significa o momento em que é necessário decidir fundamentalmente, vemos aqui bem a que ponto o nacionalismo e o medo informam as escolhas políticas últimas de BSS e compreendemos melhor como de há muito a sua invocação retórica da democracia não passa de embuste académico e decoração postiça.
31/07/11
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6 comentários:
Miguel, sem ofensa: vá lamber sabão...
Isto não é um insulto, é uma posição.
Tão legítima como a sua.
Fique bem.
Mas não chateie...
Anónimo das 14 e 29,
Lamber sabão? Acha agradável? Nunca pensei nisso, mas parece-me preferível a lamber botas - ainda que do Mestre, mas sem dar sequer a cara em defesa do visado.
msp
Agora só falta algum alemão nos vir recordar a Inquisição, as nossas chacinas, o tráfico negreiro.
Evocar o passado dos povos, os seus momentos mais desastrosos ou criminosos, nestas discussões sobre a realidade política do momento só prova que até os profissionais das ideias e dos discursos, rodados como o Prof. Boaventura, são capazes de dar barraca em público...Lá se foi a máscara fleumática do professor de Coimbra.
Não entendi MSP, porque da frase de BSS só se deduz condenação do nacionalismo e do nazismo. Ou li mal?
Manojas,
da frase, deduz-se a condenação do nacionalismo alemão e a afirmação do nacionalismo luso (somos superiores aos alemães, melhores do que eles). Ao que se segue a imputação aos alemães de uma identidade colectiva genocida e anti-semita, racista. O que é uma posição racista semelhante à adoptada pelos nazis perante os judeus, tidos por degenerados ou inferiores, e/ou à assumida pelo anti-semitismo cristão, que identificava os judeus como deicidas.
Não vejo como ler de outra maneira.
Saudações democráticas
msp
Miguel Serras Pereira,
Obrigado pela sua explicação da qual deduzi que a minha imaginação está muito aquém da sua. Eu li a frase sem me ocupar do seu autor, e não tinha que o fazer, o que, claramente, não aconteceu consigo. Também não vejo como pensar de outra maneira.
Evidentemente, saudações democráticas
Manojas
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