31/07/11

Com medo e sem vergonha

Não dou com um link utilizável para a Visão, mas não é difícil encontrar na rede excertos da crónica de Boaventura Sousa Santos ou arranjar a revista em qualquer quiosque. Sublinho — na esteira de outros — a frase: "Não tenho vergonha de o dizer publicamente: podemos ser preguiçosos, podemos não saber como nos governar, mas não matámos 6 milhões e judeus e ciganos. Tenho pena de o dizer, mas tenho de o dizer. O nacionalismo puxa o nacionalismo. A Europa sempre foi isto. E é disto que tenho medo".

A profissão de fé do guru não podia ser mais clara e o espírito eclesiástico-inquisitorial entranhado de BSS revela-se aqui em todo o seu mais viscoso brilho. É toda a escolástica do anti-semitismo em concentrado que o professor predicante retoma, assestando-a embora sobre um alvo diferente. Mas o seu anti-germanismo é tão racista e viciosamente identitário como o anti-semitismo. Segundo BSS, os alemães são anti-semitas e exterminacionistas — é a sua identidade —, como para os nazis os judeus eram degenerados, falsos e lascivos, ou, para os anti-semitas cristãos, eternos herdeiros da culpa do deicídio. É o fundo do seu pensamento, que se trai sob o efeito do vinho da crise. E, se esta última significa o momento em que é necessário decidir fundamentalmente, vemos aqui bem a que ponto o nacionalismo e o medo informam as escolhas políticas últimas de BSS e compreendemos melhor como de há muito a sua invocação retórica da democracia não passa de embuste académico e decoração postiça.

6 comentários:

Anónimo disse...

Miguel, sem ofensa: vá lamber sabão...
Isto não é um insulto, é uma posição.
Tão legítima como a sua.
Fique bem.
Mas não chateie...

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo das 14 e 29,

Lamber sabão? Acha agradável? Nunca pensei nisso, mas parece-me preferível a lamber botas - ainda que do Mestre, mas sem dar sequer a cara em defesa do visado.

msp

Anónimo disse...

Agora só falta algum alemão nos vir recordar a Inquisição, as nossas chacinas, o tráfico negreiro.
Evocar o passado dos povos, os seus momentos mais desastrosos ou criminosos, nestas discussões sobre a realidade política do momento só prova que até os profissionais das ideias e dos discursos, rodados como o Prof. Boaventura, são capazes de dar barraca em público...Lá se foi a máscara fleumática do professor de Coimbra.

Manojas disse...

Não entendi MSP, porque da frase de BSS só se deduz condenação do nacionalismo e do nazismo. Ou li mal?

Miguel Serras Pereira disse...

Manojas,
da frase, deduz-se a condenação do nacionalismo alemão e a afirmação do nacionalismo luso (somos superiores aos alemães, melhores do que eles). Ao que se segue a imputação aos alemães de uma identidade colectiva genocida e anti-semita, racista. O que é uma posição racista semelhante à adoptada pelos nazis perante os judeus, tidos por degenerados ou inferiores, e/ou à assumida pelo anti-semitismo cristão, que identificava os judeus como deicidas.
Não vejo como ler de outra maneira.

Saudações democráticas

msp

Manojas disse...

Miguel Serras Pereira,
Obrigado pela sua explicação da qual deduzi que a minha imaginação está muito aquém da sua. Eu li a frase sem me ocupar do seu autor, e não tinha que o fazer, o que, claramente, não aconteceu consigo. Também não vejo como pensar de outra maneira.
Evidentemente, saudações democráticas
Manojas