23/04/12

25 de Abril: Se o governo quer proibir a manifestação, porque não quer proibir a manifestação?

Sob o título PSP prepara tolerância zero nas ‘manifs’ do 25 de Abril, leio no DN, a seguinte notícia:

Incidentes que marcaram a greve geral de 22 de março estão bem presentes na memória de quem manda nas forças de segurança portuguesas. Ordem aos agentes é para que nenhum sinal de ameaça ou desordem seja desvalorizado. 

Com o 38.º aniversário do 25 de Abril a aproximar-se, assim como a celebração do 1. o de Maio, a PSP re- cebeu a orientação de impedir todos os desfiles ou ações de rua quenão obedeçam aos procedimentos legais para a sua realização. É uma reação ao que sucedeu a 22 de março, dia da última greve geral. Uma avaliação operacional feita pela PSP deu conta da desvalorização de sinais relevantes sobre ameaças à ordem pública, erro que não deverá ser repetido pelos agentes. Já numa entrevista à Antena 1, o inspetor nacional da PSP, Magina da Silva, que coordenou a auditoria à operação do 22 de março, reconhecera que “o potencial de violência e desordem não teve o tratamento necessário”. Ao mesmo tempo, alertou que a PSP terá tolerância zero para novas manifestações por parte de grupos identificados como potencialmente desordeiros.

Ora, considerando que qualquer grupo de manifestantes é, por definição, "potencialmente desordeiro", e que, como Brecht já sabia bem, a simples superioridade numérica dos manifestantes, "potencialmente desordeiros", é, para as forças policiais, um — pelo menos potencial — "sinal de ameaça", a pergunta a fazer ao governo, parafraseando agora Pessoa,  é: se o governo quer proibir a manifestação, porque não quer proibir a manifestação?

Com efeito, se a ideia é, como tudo indica e com toda a clareza, proceder a mais uma demonstração de força repressiva, que continue e aprofunde a política seguida a 22 de Março último, a proibição explícita seria a via ideal, pois permitiria que, sem subterfúgios, dessa feita, as fileiras policiais atirassem a matar sobre os desordeiros, não jápotenciais mas efectivos, que insistissem — e então não haveriam de insistir, pá? — em comemorar o "Dia da Liberdade".

1 comentários:

Libertário disse...

Uma doce recordação dos dias seguintes ao 25 de Abril de 1974: a PSP fugindo dos manifestantes.

Se «o povo é quem mais ordena», não se trata de os manifestantes obedecerem à polícia no que se refere aos seus direitos. Menos ainda a uma polícia que são serviçais da máfia dos donos do Poder!