Diário da Assembleia da República de 17 de Fevereiro de 2012 [pdf]:
Mas o que é feito dos anti-proibicinistas do BE (é um pouco absurdo, parece-me, ser a favor da legalização de algumas drogas, ao mesmo tempo que se vota a favor de ilegalizar as que eram legais)? E, já agora, das alas "liberais" que parece que há no PSD e no CDS?
10/04/12
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
17 comentários:
Fazem alguma ideia da quantidade de gente que está com psicoses graves por causa da mefedrona?
É a esquerda puritana contra os custos que o indivíduo provoca à sociedade e ao Sistema Nacional de Saúde.
Muito bem observado!
O «muito bem observado!» era relativo aos textos, não aos comentários anteriores que não se encontravam publicados.
O comentário do CN é particularmente «mal observado» visto que a maioria dos deputados que aprovou a lei se identifica como sendo de direita.
Quanto ao comentário do JPT, os «anti-proibicionistas» ou «liberais» tenderiam a acreditar que deve ser o indivíduo a decidir se arrisca a sua saúde ou não (a existência do SNS justifica quando muito um imposto sobre a substância em causa), como aliás acontece no caso do tabaco e do alcool?
E fazem alguma ideia da quantidade de gente que está completamente lixada à conta do álcool?
João Vasco:
Mas o post não era sobre onde anda a esquerda "anti-proibicinista"?
Eu também li a frase que conclui o texto «E, já agora, das alas "liberais" que parece que há no PSD e no CDS?».
O texto mostra como é inconsistente estar silencioso perante esta situação, seja quem tenha defendido a legalização das substâncias que hoje são ilegais como a Canabis (a esquerda, não puritana, mas neste caso inconsistente), seja quem, à direita, tenha um discurso de defesa dos direitos individuais, de escolha e responsabilização pessoal - que na verdade é «só conversa».
É uma chamada de atenção contra a inconsistência, quer venha da esquerda, quer venha da direita. O problema, neste caso, vem dos dois lados.
Dizer que o problema está «na esquerda puritana» é errado, pois a esquerda sozinha não pode aprovar estas leis - a maioria da AR identifica-se como sendo de direita.
Então legalize-se tudo! Mas temos necessariamente discutir se queremos pagar o preço por isso. Legalizamos a heroína? Estamos dispostos a aceitar as implicações pessoais, sociais, laborais, económicas, etc? A anarquia só funciona, como utopia, com 100 % de indivíduos 100 % responsáveis. Se fosse um filho vosso a estar internado numa ala psiquiátrica com uma psicose grave por consumo de Mefedrona ("Bloom"), que foi livre até Fevereiro último? (conheço um caso destes).
Insisto: e não conhece casos terríveis com o álcool na sua raiz?
JPT,
Não é uma questão de anarquia. Hoje é legal ingerir álcool, mas é ilegal conduzir bêbado.
No primeiro caso a decisão afecta primeiramente quem a toma, no segundo caso afecta terceiros que não tomaram parte na decisão. É uma distinção fundamental.
O álcool é uma das drogas mais perniciosas para a saúde. É muito viciante, altera significativamente a percepção da realidade, é responsável por várias mortes. Muitos pais terão perdido os filhos por causa do álcool e se calhar julgarão - erradamente - que deveria ser proibido.
No entanto, já verificámos que a proibição do álcool teve péssimos resultados. Ao invés de diminuir o consumo, aumentou o crime e a corrupção, além da violação fundamental que constituiu para a liberdade individual.
Não sou um proibicionista, em sentido estrito. Cada droga é um caso diferente. Temos que avaliar os efeitos para a saúde, a aditividade, etc. O maior erro da atual lei é tratar todas as drogas por igual passar a mensagem que fumar um charro é o mesmo que fumar heroína, e não é. O álcool só é aditivo quando consumido em grandes quantidades por periodos longos. O mesmo não acontece com outras drogas.
quanto à responsabilidade individual, discutamos o seguinte caso: está alguém a preparar-se para saltar do topo de um edifício. Que fazemos? A) tentamos dissuadi-lo e/ou impedi-lo B) encolhemos os ombros, porque se trata de um adulto responsável e livre. Desculpem, mas não quero viver na sociedade B.
"A) tentamos dissuadi-lo e/ou impedi-lo B) encolhemos os ombros, porque se trata de um adulto responsável e livre."
Esse A) deveria ser sub-dividido entre um "A1) tentamos dissuadi-lo" e um "A2) tentamos impedi-lo" - é que são duas coisas diferentes (apesar do "e/ou").
JPT,
Se vir alguém a tentar matar-se posso impedi-lo, até pela força, assumindo que existe o risco de naquele momento não estar na pela posse das suas capacidades mentais, e tendo em conta que a morte é irreversível. No fundo, ao travá-la pela força (se for o caso - a persuasão seria sempre preferível) trato-o como uma criança irresponsável ou como um doente mental - também irresponsável. Assumo que é um «momento» de irresponsabilidade.
Não quero é viver numa sociedade onde uma pessoa não se possa suicidar. Se eu soubesse que uma pessoa se tinha tentado suicidar muitas vezes, que não era uma decisão momentânea mas profundamente consciente, então tinha de respeitar essa decisão, não a poderia tratar para sempre como um irresponsável. Não quero viver numa sociedade que trata as pessoas indefinidamente como irresponsáveis pelos seus actos, que não as deixa fazer a si próprias aquilo que as maiorias consideram como «mau».
OK, quanto ao direito ao suicídio, desde que livre e consciente. Mas estamos em terreno escorregadio.
"existe o risco de naquele momento não estar na pela posse das suas capacidades mentais, e tendo em conta que a morte é irreversível"
Repito que conheço alguém que está com uma doença psiquiátrica irreversível por consumo de Mefedrona. Em resumo: o que peço ao BE é que tenha uma atitude responsável e não que aja motivado por utopias irrealista. Neste caso, acho que esteve bem. O BE já está demasiado colado à imagem de imaturidade e irresponsabilidade.
"Eu também li a frase que conclui o texto «E, já agora, das alas "liberais" que parece que há no PSD e no CDS?»."
Mas essa ala na direita portuguesa sempre foi minoritária ou quase inexistente no panorama político formal, enquanto que alguma esquerda (a do BE e outra?) assumia-se como "liberal" nas drogas...
ou seja, o que vejo como fenómeno novo é a esquerda puritana, tal como na direita passei a notar a direita construtivista por influência do neoconservadorismo, mas esse é outro assunto. Ou talvez não.
"O BE já está demasiado colado à imagem de imaturidade e irresponsabilidade."
E lá estamos. Querem evitar as substâncias que podem, quem sabe, levar ao suicídio? E que tal a arte que pode levar ao suicídio? E outras coisas que tais?
Consta que "Os Sofrimentos do Jovem Werther", de Goethe, provocou uma vaga de suicídios após a publicação...
Enviar um comentário