19/04/12

A TMN e o lixo estão a chamar por nós


Em 2005, a TMN assumiu o difícil pelouro de prozac da nação. Usando os blocos publicitários para nos reconciliar com a vida cinzenta, medíocre, apagada e mansa a que nos dizem condenados. A sua campanha de então rejubilava porque “gostamos da vida como ela é”. Com barrigas, gente triste, diarreias (foi um clássico automático o MUPI com alguém de calças em baixo devido à “comida indiana”...) e uma catrefa de temas deprimentes. Se calhar, era mesmo pelo melhor; quem nutre expectativas rasteiras arrisca-se menos a contrair neuroses quando dá de caras com a realidade. 
Agora, mesmo depois de mudada a voz do dono, continua a TMN a servir de megafone para slogans governamentais. 
A tónica passou para anúncios motivadores, aspiracionais, positivos: “Acreditamos, antes de mais, em nós, portugueses”, reza o folheto. E vai de nos gritar com rostos que supostamente provam que “ficar nos nossos lugares, imóveis, é morrer”. Começando com uma realizadora de reclamos, emigrada, que tem como cartões de visita um disparate com uma chuva de azeitonas e um teledisco em que revisita o Portugal honesto e trabalhadeiro dos pescadores, para desfrute do camone amante do very typical. Depois, seguem-se histórias de sucesso em terrenos tão distantes da vida comum quanto a pintura ou o motociclismo. 
E que dizer do spot televisivo? O colorido hiperestiloso de um país das maravilhas sob a câmara de Tim Burton, povoado por gente de olhos claros (tipicamente tuga, claro) e cenários de postal ilustrado. 

Pior do que isto só mesmo o “Hino Contra o Desperdício” que por aí anda; uma verdadeira ode à mediocridade tuga disfarçada de incentivo canoro à caridadezinha de antanho. Onde a música inenarravelmente pirosa embala os cromos do costume (só faltam o Toy e o Miguel Ângelo) num Live Aid dos pobrezinhos e o Manuel João Vieira é o único a aproveitar o momento pelo que é: uma eucaristia do kitsch salazarengo mais berrante – veja-se o entusiasmo com que ele brande um espeto com um pedaço de carne, enquanto o lindo cartaz passa de mão em mão. Nem consigo comentar a parte do “que eu não aproveito/ ao almoço e ao jantar/ a ti pode dar jeito”, pelo menos sem usar palavrões. Hinos de um lixo de país.

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