10/04/12

A evolução segura na continuidade da luta socratista do PS contra a social-democracia

 A breve crónica de Viriato Soromenho Marques, hoje publicada no DN, tem o mérito de resumir as razões que fazem com que o PS local contribua para que, como diria o João Rodrigues, o lugar da social-democracia continue vazio. E, o que é mais, fá-lo sem  incorrer na adoração fetichista das virtudes do Estado-nação que por vezes limita deploravelmente as intuições e argumentos mais interessantes do ladrão de bicicletas acima citado.

Claro que saber se a metodologia social-democrata é suficiente e verosímil como via de uma democratização efectiva que garanta que sejam os cidadãos a governar, e só por si próprios sejam efectivamente governados, é outra questão (para algumas considerações preliminares sobre o assunto, remeto aqui para um meu post de há meses sobre a democratização como plataforma necessária e suficiente).  Mas, seja como for, aqui fica na íntegra, porque vale a pena, a crónica do Viriato.

Na semana em que o Parlamento vai discutir o Pacto Orçamental, a entrevista de Vital Moreira (VM) ao diário i no sábado é de uma enorme utilidade. Destaco apenas dois aspetos. Depois de confessar que é "amigo" de José Sócrates, e instado a comentar as atuais dificuldades do PS, o eurodeputado que comandou as hostes socialistas às eleições europeias sai-se com uma observação onde mistura superficialidade e arrogância: "Eu encaro tudo isto sem paixão. Tenho idade para saber que estes processos são absolutamente naturais." De facto, a paixão de VM deve ter-se afogado toda no Mondego, nesses anos distantes de fogoso bolchevismo constitucional. Dali já não se espera o fervor turbulento que costuma acompanhar as juvenis éticas da convicção. A VM aplica-se mais a advertência de Max Weber para as extremadas e serôdias éticas da responsabilidade, em que a quebra de paixão é uma mera desculpa para a falta de alma e o abandono de princípios. Depois, sobre a crise europeia, afirma o académico socialista: "Penso que, embora com hesitações e atrasos, a União respondeu bem à crise, e, no caso de Portugal, penso que estamos no bom caminho." É impossível não sentir uma mistura de simpatia e pena por A. J. Seguro. Por duas razões. Primeiro, tem um chefe de bancada no Parlamento Europeu que repete - com um absoluto vazio de pensamento próprio sobre uma crise europeia que manifestamente não compreende - os comunicados de Vítor Gaspar sobre como o País se vai redimir empobrecendo. Segundo, a entrevista de VM é um sintoma claro de que Seguro jamais será o líder da oposição que o País precisaria, enquanto caminhar no campo minado pelo "socratismo" em que o PS se transformou.

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