É claro – sendo esse um dos pontos de partida da discussão
proposta – que só é possível pensar a precariedade do cognitariado e a
possibilidade de combatê-la tendo em consideração as condições específicas a
que estão hoje sujeitos os agentes da produção imaterial, investigadores, bolseiros ou não, professores, mais ou menos intermitentemente, artistas, etc. (flexibilidade,
mobilidade, intermitência...).
Acrescentaria no entanto que se faz sentido pensar especificamente a política do
cognitariado – nomeadamente, tendo em vista a criação de laços de entendimento,
de solidariedade, de eventual acção conjunto (reivindicativa, mas não só) – faz
talvez sentido alargar a compreensão desta especificidade,
do reconhecimento daquilo que partilham os produtores imateriais no que toca às
condições a que estão sujeitos, ao reconhecimento das forças que intervêm no
seio da produção imaterial (que abrange, nomeadamente, as
áreas da investigação e da produção artística).
Considerar estas duas vertentes dessa especificidade, o «quadro» e o «teor», se quisermos, da produção imaterial – sem complexos ou superstições
na articulação de conceitos sociopolíticos e estéticos – seria talvez vantajoso para fazer face ao pressentimento
desencorajante que poderá assaltar um investigador, um artista, de que o seu trabalho – enquanto investigador,
enquanto artista – nada tem a ver com as preocupações que partilha com outros
agentes de produção imaterial sujeitos a semelhantes condições de trabalho. Creio que um tal pressentimento, e o desânimo que o
acompanha, pode e deve ser desconstruído. Que, para tal, trabalho possa significar coisas distintas (ou que num dos casos se
deva escolher outra palavra) não nos deve assustar.
Por outras palavras, diria que os laços que unem os
produtores imateriais não concernem apenas àquilo que nos torna precários, mas
também ao modo como o que já fazemos, cada um de nós, pode animar o que podemos fazer, em conjunto, contra essa
precarização.
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