02/06/11

Postos fora do euro?

De vez em quando fala-se da possibilidade da Grécia ser "posta fora" do euro. Da mesma maneira, no debates com Louçã e Jerónimo, Paulo Portas repetiu a tese de que, se não tivessemos chamado o FMI/FEEF o Estrado teria entrado em bancarrota e teriamos que abandonar o euro.

Na verdade, pelo que sei, os tratados europeus não fazem qualquer referência a um país poder ser "expulso" do euro; mais, mesmo por vontade própria um país membro da UE não pode sair do euro - um país-membro pode não adoptar o euro (como faz o Reino Unido, a Suécia, a Polónia, etc) mas, a partir do momento em que o adopte, só pode sair do euro se também abandonar a União.

É verdade que, mesmo que os tratados não permitem expulsar um país do euro, os outros países poderiam criar um sistema engenhoso para expulsarem um - era só abandonarem todos o euro, e depois criarem um "euro-II" entre eles, deixando a Grécia ou Portugal com o "velho" euro, mas isso deveria levantar montes de complicações jurídicas.

Agora, a respeito da relação entre a bancarrota e uma eventual saída do euro - a tese de que um Estado que caísse na bancarrota teria que saír do euro não faz sentido, como expliquei; no entanto, concordo há uma ligação entre os dois temas: o custo de saír do euro é muito menor para um país falido do que para um país "normal", logo a falência de um país aumento a possibilidade de este abandonar a moeda única. Porquê?

Sair do euro (no caso de um país que se espera que a moeda própria desvalorize) teria basicamente dois grandes problemas:

a) como a dívida do país está denominada em euros, sair do euro e desvalorizar a moeda irá aumentar brutalmente o valor dessa dívida face à riqueza nacional (a menos que o país re-denomine a sua dívida para "novos dracmas" ou "novos escudos", mas isso será uma espécie de incumprimento com outro nome)

b) a própria expectativa de saída do euro iria levar as pessoas que têm contas bancárias nesse país a transferi-las para outros, antes que o dinheiro fosse subsituito por "novos [qualquer coisa]", o que faria os bancos nacionais entrarem em ruptura; e o tempo que demoraria entre a decisão de saír do euro e a saída ser efectivamente posta em prática (para imprimir as novas notas, reprogramar os multibancos, etc.) seria mais que suficiente para essa "fuga" acontecer

Mas agora imagine-se um país cujo Estado e os principais bancos estejam falidos - nesse caso os dois problemas acima referidos tornam-se largamente irrelevantes (falido por falido...)

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