274.337 votos a menos para a Esquerda. O Bloco quase acordou no seu pesadelo de perder metade da votação e a CDU, apesar das alucinadas declarações de “consolidação”, ainda conseguiu perder um pouco mais de 5.000 votos (de 2009 para 2011, resultados do território nacional).
Das culpas do Bloco neste descalabro, nem vale a pena falar muito, de tão evidentes que são: do apoio ao inenarrável Alegre à moção de censura, os passos em falso foram muitos e muito graves. Mas não explicam tudo; não explicam como é que o PP conseguiu escapar ao pânico do voto útil mas a esquerda não; como é a maré de descontentamento generalizado não chegou às urnas; como é que não se soube oferecer uma plataforma credível de esperança para os receosos, de mudança para os descrentes.
Se calhar, trata-se de um partido que perdeu parte da sua utilidade: quem protesta nas ruas sente-se livre para não votar ou votar de outras formas, quiçá pela suposta “utilidade” de tentar manter o PSD fora do poder pelo voto circunstancial no PS. Ou talvez o medo das iminentes avalanches de desgraças tenha empurrado muitos para uma via “realista”, desencorajando-os de votar em quem de forma evidente não estava fadado a governar (nem agora nem num futuro imaginável).
De qualquer forma, e como bem aponta o Miguel, se o Bloco não quer desaparecer, ou, pior ainda, transformar-se num PCP II, urge repensar tudo. Das lideranças às ideias, das propostas concretas ao estilo e à forma. Ontem já ouvi apelos à calma embrulhados no truísmo de a próxima convenção estar a anos de distância. Vão longe assim, vão.
Quanto ao PCP, o que deveria ter sido uma noite de avanço e recolha dos frutos das muitas lutas acabou em mais uma celebração de coisa nenhuma e em estagnação. Lá vão todos continuar a crer que só eles é que sabem e o mundo anda todo enganado; ou que a culpa é dos media, das sondagens, do clima. Ou à espera do Godot das massas descontentes que um dia hão-de juntar-se ao partido.
Um quarto de milhão de desaparecidos. Há que partir hoje mesmo à procura deles.
06/06/11
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16 comentários:
E como sempre, como é tendência deste Blog, o desaire do Bloco vai ser culpado do pouco de esquerda que ainda resta, das suas aproximações com o PCP, das suas propostas mais marxistas como nacionalizações.
Miguel Portas e a corrente manifesto vão conseguir afirmar que o problema foi insuficiente alegrismo, insuficiente aprovação do emprestimo do FMI à Grécia, insuficiente ambiguidade que dá lugar à No-Fly-Zone dando lugar às bombas da NATO, insuficiente sindicalismo amarelo à António Chora que chorar a demissão do "amigo" ex-ministro Manuel Pinho (o tal que diz aos chineses que os portugueses se vendem barato), insuficientes apelos à fantasmagórica "ala esquerda do PS", vem aí o Sócratismo sem Sócrates, a direita do Bloco pode abrir correr para os braços do seu amado PS...
Vão conseguir negar que foram as cedência à direita que levaram o Bloco e este brutal desaire eleitoral, vão negar que quando o Bloco se cola ao PS o povo prefere o original à cópia, vão usar muito palavreado sem reconhecer o caminho que o Bloco tem feito em direcção à social-democracia e vão continuar a levar o Bloco mais para a direita em direcção ao desastre.
Podem não acreditar no que digo, mas... tenho pena. Tenho amigos que estão a ser enganados.
Lá volta um raciocinio trapalhão que tem tradições.
E que consiste em dizer que a CDU perdeu 5000 votos no esquecimento de que a abstenção aumentou.
Lamento muito ter de voltar a explicar caridosamnente que quando há variações na abstenção entre duas eleições o que mede o crescer ou descer é a percentagem obtida.
Vítor,
A CDU perdeu 5.000 votos. Para o PP, a abstenção também subiu mas esse partido aumentou a sua votação em perto de 60.000 votos.
Não escrevi se vocês cresceram ou encolheram; escrevi apenas um facto insofismável e imune à "caridade" solipsista: a CDU perdeu votos entre 2009 e 2011.
Não esquecer que, como me parece óbvio, também se perdem votos para a abstenção.
Bom post, grande camarada Luís.
Abraço para ti
Rocha:
se quiser ser consequente, terá de levar o raciocínio até ao fim: o ideal, do seu ponto de vista, seria que o BE se parecesse tanto com o PCP, aceitasse tão docilmente o seu magistério, que, apesar de não estar à altura de simplesmente se integrar nele, aceitasse, pelo menos, fundir-se na CDU. Ou não é assim?
O problema, que você não quer ver, é que, independentemente do juízo que façamos acerca da bondade do modelo, ou o BE tem diferenças que façam uma diferença pela qual vale a pena lutar, ou então reduz-se a um luxo, a um requinte elitista, a uma preferência ditada pela moda e pela busca de distinção (no sentido de Bourdieu). E é por isso que o seu reconhecimento do direito à existência política de uma corrente como o BE não considera que lhe seja legítimo existir mais do que até meio, na condição de não se atrever, sob pena de ser declarado agente do capitalismo, a afirmar-se como alternativa política ao PCP (que, assim, pelo que você diz, o deverá reconhecer apenas como complemento e apenas por concessão táctica provisória).
msp
Para o PCP, estamos perante "um sinal de inegável significado quanto a um mais alargado reconhecimento da acção, das propostas e do papel do PCP (...)"
"Mais alargado" implica, aparentemente, ter menos votos. Como é que se "alarga" seja o que for, encolhendo?
Se não queriam cair na aldrabice, podiam dizer algo assim retorcido como "mais significativo entre votos expressos" :-)
O Bloco está - ou esperemos que esteja e que haja coragem e força em colocar em causa tudo, de políticas a pessoas - numa encruzilhada.
Dessa reflexão, acima de tudo espero que o BE não embarque em críticas demagógico barulhentas que pouco mais representatividade têm do que a voz que lhes é dada por alguns espaços na internet, e que têm por base acusações, não detetadas por mais ninguém fora desses espaços (se falarem com votantes ou ex-votantes entendem isso), de algum tipo de "irmandade" com o PS, como razão para o presente resultado eleitoral.
O risco das oscilações eleitorais do Bloco é o preço a pagar pela liberdade, de opinião, de crítica, de disponibilidade ou demissão dos seus membros, que está na sua génese. Não sei se o futuro se fará com o Bloco de Esquerda, nem isso é muito importante nem ninguém andará aqui para, uns anos à frente comemorar o 100º aniversário com distribuição de medalhas comemorativas. O que tenho absoluta certeza é que qualquer mudança significativa do panorama político, ou se fará com qualquer coisa semelhante ao Bloco de Esquerda, porventura mais abrangente e mais democrático, ou não se fará. Esse o futuro e a potencialidade do Bloco de Esquerda que nenhum resultado negativo numas eleições pode tirar.
Que mais dizer estamos perante verdadeiras carpideiras no funeral do Bloco de Esquerda que unicamente estão preocupadas em prosseguir a ruinosa aliança com o PS - depois do Alegrismo vem o magnífico "Sócratismo sem Sócrates".
Dizem que se o Bloco se aproxima do PCP é engolido por este, fogem da esquerda revolucionária como o diabo foge da cruz.
Abominam as tradições de esquerda, o PCP tem quase 100 anos está ligado ao movimento operário, o que é terrível... Querem criar algo de novo sem aprender nada do passado, sem dar valor nenhum às gerações mais velhas, das lutas passadas.
Querem um bloco moderno e dizem que isso é continuar essa esquerda grande - tão grande que lá só cabe o Bloco e o PS - que só se vira para a direita nos momentos decisivos, que só se vira para o PS. Ignoram a esquerda extra-parlamentar, ignoram os que saíram avisando para a decadência (mais moral até que eleitoral)do Bloco e entre o PS e o PCP a escolha está feita: é com o PS alegrista sócratista sem Sócrates ou que mais D. Sebastião daí vier, apesar de ter propostas muito mais próximas do PCP.
As propostas do Bloco na AR podem continuar a ser (como sempre foram) mais parecidas com as do PCP do que com as do PS, mas a escolha do PS como aliado revela que mais do que as propostas valem as ambições pessoais, os carreirismos, o cheiro a poder.
Triste esquerda esta.
Desculpem lá, mas o que os eleitores entenderam da crise, da troika, do blá blá da campanha, dos "ilustres" comentadores era que tinhamos uma dívida para pagar e que nessa história havia culpados e vítimas. Havia que votar em quem talvez o fizesse diferentemente mas sem grandes mudanças. Por acaso a esquerda (os partidos à esquerda do PSD e do PS socrático)explicou bem explicadinho qual podia ser a alternativa? O que implicava? Como fazer? Não, não explicou. Teve medo.
Não sei se o comentário acima, de Rocha, pretende ser uma resposta ao que, ainda mais acima comentei.
Não sendo eu, como já disse algumas vezes, militante ou aderente (acho que é assim que se diz) do BE, posso no entanto esclarecer o comentador Rocha que não houve partido algum extra parlamentar de esquerda que não tivesse sido contactado à época da constituição do Bloco de Esquerda, bem como o outro partido com representação parlamentar, apenas acontecendo que esse, à época, mostrou estar mais interessado numa nova tentativa de aproximação ao PS. De qualquer forma e sobre isto, o seu camarada Carlos Carvalhas, em querendo, poderá esclarece-lo melhor.
Campanha eleitoral II - O Regresso
Agora a disputa é entre o PS e o BE para ver quem tem culpas na vitória da direita; entre PCP e o BE para ver quem é «mais de esquerda»; dos BEs para ver qual a "tendência" que é responsável pelo desastre nas eleições.
A solução é simples meus caros e vem da sabedoria popular: a culpa é do outro.
Apesar de tudo isso eu continuo abstencionista! Nem esta segunda disputa eleitoral me motiva...
Facto n.1 - A CDU teve menos 5.322 votos (continente)
Facto n.2 - A abstenção subiu 186.202 votos (continente)
Facto n. 3 - A CDU perdeu votos em alguns círculos eleitorais e ganhou votos noutros círculos eleitorais (continente)
Facto n. 4 - A CDU manteve todos os deputados eleitos em 2009 e acrescentou-lhes um deputado eleito em Faro, que não foi o último
Facto n. 5 - A deputada Cecília Honório, do BE, só foi eleita porque o círculo de Coimbra perdeu um deputado para o círculo de Faro. Caso não se tivesse verificado essa alteração entre 2009 e 2011 o bloco teria apenas 7 deputados, já que nem Cecília Honório teria entrado por Faro, nem José Manuel Pureza teria entrado por Coimbra.
Face a este factos Luis Rainha apenas consegue fazer um "excelente post" (MSP dixit) declarando que o PCP não cresce, porque se esquece dessa insignificância de o grupo parlamentar comunista ter mais um deputado.
Cada um é com cada qual e ninguém é como evidentemente (ditado "prapular" da minha terra)
fjsantos,
digamos, então, que a CDU perdeu alguns votos, embora conseguindo eleger mais um deputado - o que significa um quadro fundamentalmente de "estagnação" como justificadamente escreve o LR.
O enigma é querer transformar isto não num "vá lá, do mal o menos", mas numa vitória histórica. A menos que a vitória histórica seja indirecta: o BE terá perdido, sobretudo, para a abstenção e a sua descida não se traduziu em mais votos na CDU - mas é verdade que perdeu e recuou, ao contrário do PCP. Pois bem, talvez seja essa a explicação do triunfalismo assumido perante resultados eleitorais tão modestos. Não vejo outra, embora esta não seja particularmente edificante, nem tenha sido obra de quem a celebra.
msp
Extraordinário LAM:
Estava lá e não dei por ter havido proposta e o assunto ser sequer discutido.
Mas se porventura, tirando as questões de funcionamento colectivo, o meu querido amigo
e camarada Carlos Carvalhas rejeitou a integração do PCP no então projectado Bloco de Esquerda
acho muitissimo bem embora, se fosse comigo, teria simplesmente respondido que há propostas que, por ofensivas para um partido com a história do PCP, nem se fazem.
fjsantos,
Como poderia reparar se não fosse pela atenção exclusiva a um tema, o centro deste post foi precisamente a hecatombe do BE. Quanto à CDU, não vejo mesmo qualquer motivo para alegrias. Mas cada um olha para o mundo com as lentes que prefere, claro.
Vitor Dias,
Se chegou a discussão ou não o Vitor saberá melhor. (como isso não retira nada do que eu disse atrás, retirava por precaução o "extraordinário").
p.s. ao contrário do que especula o Vitor, eu não falei em parte alguma em qualquer proposta que pudesse levar à diluição do PCP no que quer que fosse. E vamos ficar por aqui.
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