Sobre a entrevista de um sacerdote católico romano posta a circular na Internet, mal fará quem não der ouvidos ao alerta do Alfredo Barroso no Traço Grosso:
(…)
Foi com discursos como este que a (extrema) direita católica e os militares reaccionários deram o golpe do 28 de Maio, em 1926, acabaram com a I República, foram buscar Salazar e implantaram o Estado Novo, que oprimiu o País durante quase meio século.
(…)
Não admira que, no ambiente tão deletério em que estamos a viver, tenha aparecido agora outro padre (nos telejornais) a celebrar a missa numa igreja cheia de devotos (fregueses) com capacetes na cabeça (tal como ele) e a proclamar que a I República «roubou» aquele templo à Igreja, faz agora 100 anos.
O padre Ventura chega mesmo a sugerir que os políticos sejam levados a tribunal. Mas ainda não vai ao ponto de propor – como ouvi um «popular» dizer, num fórum da SIC Notícias – que os militares deviam prender estes governantes e julgá-los em tribunal marcial.
Nada disto acontece por acaso. E é vergonhoso que a Igreja esteja, insidiosamente, a aproveitar-se da situação de gravíssima crise que o País atravessa, para pôr as garras de fora e atacar brutalmente a democracia.
É evidente que isto não me dispensa de criticar duramente José Sócrates e Pedro Passos Coelho - políticos de plástico que rivalizam na demagogia, na irresponsabilidade e na incompetência políticas - nem de desejar a demissão de um dos mais patéticos Ministros das Finanças que já tivemos desde o 25 de Abril: Teixeira dos Santos.
Mas julgo que os democratas devem ter o cuidado de saber distinguir entre a crítica política necessária - e contundente – ao poder do dia, e este discurso reaccionário, «neo-clericalista» e antidemocrático de um padre que é, manifestamente, oriundo da direita mais reaccionária.
27/10/10
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1 comentários:
caro msp: uma sotaina não faz a primavera. um tradutor fascista, por exemplo, não transforma toda a «classe» (salvo seja!) num grupo de entusiastas do benito. não me parece que a «igreja esteja, insidiosamente, a aproveitar-se da (...) crise (...) para atacar a democracia». parece-me é que a crise é pasto fértil para os malucos da conspiração. da esquerda à direita. a «igreja» é um corpo multiforme, plural e multívoco; é uma comunidade de crentes (comunistas, fascistas, verdes, sociais democratas, apolíticos, &c.), não é o padre ventura e quejandos. cumprimentos democráticos.
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