A re-eleição de Aníbal Cavaco Silva demonstra que uma parte muito significativa dos portugueses aceita o chico-espertismo e o compadrio. Tal como já tinha ficado claro quando José Sócrates conseguiu que o PS fosse de novo o partido mais votado nas últimas eleições legislativas.
A candidatura de Manuel Alegre prova que o eleitorado habitual do PS divide-se quase ao meio entre quem aceita alianças à Esquerda e quem nem pode ouvir falar no assunto. Ou seja, o PS está pronto para ser cindido. Mas não é claro que o BE venha a beneficiar disso. A sua direcção queimou-se seriamente, ao decidir apoiar Manuel Alegre. A estratégia, de aceleração do processo de cisão do eleitorado do PS, talvez tivesse resultado se Sócrates tem decidido não apoiar Manuel Alegre. Agora a direcção do BE vai ter de realizar um delicado trabalho de reconstituição do seu eleitorado habitual, que se fragmentou fortemente (Manuel Alegre, Fernando Nobre, José Manuel Coelho, votos brancos e nulos, abstenção). Fica a saber que qualquer aliança com o PS de José Sócrates será suicidária.
Francisco Lopes não terá conseguido atrair quase nenhum voto fora daqueles que habitualmente votam PCP. Note-se que Francisco Lopes não só obteve apenas cerca de 2/3 dos votos conseguidos por Jerónimo de Sousa e CDU, respectivamente nas eleições presidenciais de 2006 e eleições legislativas de 2009, como ainda por cima ficou percentualmente abaixo desses dois resultados. Isto num cenário de forte abstenção, algo que - pretensamente - afectaria menos o eleitorado habitual do PCP, e em que era a única candidatura assumidamente de Esquerda e de oposição ao actual governo. Fica demonstrado que o PCP tem neste momento um poder de atracção praticamente nulo, não conseguindo sequer aliciar um pequena parte de quem tem votado (por vezes) no BE.
A elevada votação em José Manuel Coelho, os votos nulos, os votos brancos e a abstenção, são um aviso, por ordem decrescente de perigosidade para o actual sistema político, de que muitas, mas mesmo muitas pessoas estão a ficar fartas da partidocracia em que vivemos. Não é segredo que votei em José Manuel Coelho. Como então afirmei, mais que não fosse em solidariedade com quem na Madeira vive sob o jugo dum tiranete. E não são poucos: quase 40% dos votantes na Madeira votaram contra a partidocracia que os rege. Não apenas contra Alberto João Jardim. Contra todos os partidos, que ao aceitarem sentar-se respeitosamente na Assembleia Legislativa da Madeira são coniventes com o sistema. As eleições regionais na Madeira em 2011 serão muito interessantes. Votei em José Manuel Coelho, e votaria nele para deputado à Assembleia da República. Se é para ser representado, então quero sê-lo por alguém que teria coragem e discernimento suficiente para saber quando será altura de abandonar a sua cadeira confortável e juntar-se à multidão que cá fora clama pela devolução do Poder para as mãos do povo.
As votações em Fernado Nobre e Defensor de Moura são inconsequentes, em particular para o sistema, e está tudo dito.
24/01/11
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