21/01/11
Proletários e Comunistas
por
Zé Neves
A ideia de que os comunistas devem ser patrióticos porque as circunstâncias em que actuam são nacionais não é mais do que a simples aceitação do peso das circunstâncias. Ora o problema é que tal ideia pressupõe que estejamos de acordo em relação ao que sejam as circunstâncias. E não estamos. E não estamos não apenas porque os pontos de vista diferem, mas porque a própria circunstância é instável. Por exemplo, as circunstâncias são e não são nacionais. Otto Bauer, entre muitas críticas que possamos fazer às suas teorias em torno deste e de outros temas, tinha muito claro quão ridículo seria tentar medir que sentimento identitário seria mais forte, se o de classe ou se o nacional. Ou seja, na medida em que as identidades são identificações em curso, quantificar a intensidade das identidades, sendo um exercício tão possível como qualquer outro tipo de sondagem, jamais poderá ser um argumento final. O diagnóstico sociológico não cauciona nem deixa de caucionar as opções políticas. A realidade não é heterogénea. Os comunistas determinam uma realidade susceptível de ser determinada de formas antagónicas. Do meu ponto de vista podem e devem determinar essa realidade no sentido de um internacionalismo independente da nacionalidade. No Manifesto Comunista, entre a frase os operários não têm pátria e a ideia de que o proletariado se deve constituir a si mesmo como nação, existe uma terceira, não tão frequentemente citada e atendida, mas importante: a frase que diferencia proletariado e comunistas no que a este tema diz respeito. Cito o Manifesto: «Em que relação se encontram os comunistas com os proletários em geral? Os comunistas não são nenhum partido particular face aos outros partidos operários. Não têm nenhuns interesses separados dos interesses do proletariado todo. Não estabelecem nenhuns princípios particulares segundo os quais queiram moldar o movimento proletário. Os comunistas diferenciam-se dos demais partidos proletários apenas pelo facto de que, por um lado, nas diversas lutas nacionais dos proletários eles acentuam e fazem valer os interesses comuns, independentes da nacionalidade, do proletariado todo […]». Não é o que vai acontecer domingo.
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