Um extracto:
A cidade de Portimão, um importante centro operário conserveiro e piscatório também teve uma participação notável no 18 de Janeiro de 1934. Aqui existia uma União de Sindicatos, compreendendo os Sindicatos Operários da Indústria de Conservas, da Indústria da Construção Civil, da Indústria do Calçado, dos Carpinteiros Navais, dos Chaffeurs Marítimos, dos Estivadores, dos Fragateiros, o Sindicato Único Metalúrgico e a Associação de Classe dos Operários Corticeiros.
Em Portimão foi constituído um Comité Revolucionário, tal como sucedeu noutras localidades do Algarve. A formação deste Comité surgiu na reunião realizada na oficina do sapateiro José Mendes do Carmo, com a presença do anarquista José Negrão Buízel. A directiva para a constituição destes Comités teria partido do dirigente máximo da CGT, Mário Castelhano que, nos meses de Novembro e Dezembro de 1933 participou em várias reuniões na região algarvia, incluindo uma na Praia da Rocha.
No dia 18 de Janeiro milhares de operários e outros Portimonenses foram para a rua manifestar-se contra o encerramento dos sindicatos livres e a criação dos “sindicatos nacionais” fascistas. Esta enorme manifestação ocorreu no Largo do Coreto, nela participando operárias conserveiras que lutavam contra o encerramento do Sindicato das Conserveiras, pescadores que estavam em luta contra o encerramento da Mútua dos pescadores, operários agrícolas do Morgado do Fialho e de outros latifúndios, que lutavam contra o encerramento do Sindicato dos Operários Agrícolas. A GNR, tendo à sua frente o Capitão Quintino, reprimiu ferozmente a manifestação, batendo nas pessoas e atirando contra elas os cavalos que as esmagavam. Horrorizados, os manifestantes debandaram, muitos outros ficaram feridos ou foram presos, muitos deles sindicalistas e do Comité Local do Partido Comunista
[E]m ofício datado de 14 de Março de 1934 (...) é remetido o processo organizado pela Polícia de Faro em que constam os nomes de diversos elementos detidos na prisão do Governo Civil e à disposição do referido Tribunal. Esses elementos são os seguintes: José Negrão Buísel, José Mateus da Graça, Joaquim Pedro, Abundancio José, Manuel d’Arez, Artur da Silva, o “Nicho”, Gregório da Purificação ou Gregório Rita, António Rodrigues, Manuel Dias Pereira, José Mendes do Carmo e Manuel Marques.
No fl. 64, um outro ofício (...) remete o processo de mais alguns presos, organizado igualmente pela Polícia de Faro, detidos na 1.ª Esquadra da P. S. P. de Lisboa e que são: José d’Oliveira Calvário Júnior, António do Carmo Carrasco ou António Catarino, António José dos Santos, o “Galaraz”, Francisco António da Luz, Abílio da Silva, Francisco Diogo, o “Chico Miúdo”, Francisco da Glória Perrólas e José Dantas.
Todos estes presos fazem parte do Processo n.º 27/A – 934, cit., fl. 7, organizado pela PVDE – relação dos presos enviados ao T. M. E. em 1934 – num total de 435 elementos, «incriminados por terem tomado parte activa no último movimento revolucionário de 18/1/34».
Segundo entrevista realizada em Portimão (...) a José Marques (...), filho do detido Manuel Marques, confirma-nos o mesmo que todos os elementos acima mencionados eram efectivamente de Portimão. José Marques recordou-nos ainda algumas das suas profissões: José Mateus da Graça, trabalhador da fábrica de gasosas, Abundancio José, carpinteiro (criador de uma biblioteca popular), Artur da Silva, conhecido pelo “Nicho” e Gregório da Purificação, trabalhadores na Litografia da Fábrica Fialho, José Mendes do Carmo, sapateiro, Manuel Marques, António Rodrigues e Manuel d’Arez, operários conserveiros, António Catarino, estivador e António José dos Santos, conhecido por “Galaraz”, tipógrafo.
O entrevistado José Marques confirmou-nos ainda que seu pai, Manuel Marques, era na altura do 18 de Janeiro já adepto das ideias comunistas e não ligado à C. G. T., conforme afirma Fátima Patriarca em Sindicatos contra Salazar..., cit., p. 518. Condenado, acabou por ir parar à Fortaleza de Peniche, de onde saiu em Outubro de 1935.
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