Num post chamado Nobre Dúvida, e que conjuga bem à sua maneira o humor e a perspicácia, fazendo com que uma e outro mutuamente se potenciem, a Joana Lopes cita a seguinte declaração de Fernando Nobre: Manuel Alegre, com o seu radicalismo, encostou-se de tal forma a alguns sectores da sociedade, que não tem a mínima hipótese de vencer Cavaco Silva numa segunda volta — perguntando-se a seguir: Em Portugal não vale «encostar» (ao Bloco), na Europa sim?
O problema é que alguém que tivesse os superiores dotes de ironia da Joana — mas sem ceder como lhe acontece agora (por uma vez sem exemplo, esperemos) à falta de sentido democrático e estético de apoiar a candidatura nacionalista, messiânica e supersticiosa, politicamente "platónica" (como se diz dos amores sem chama), de Manuel Alegre —, alguém assim, dizia eu, poderia devolver-lhe a dúvida, perguntando-lhe se não será uma ALEGRE ILUSÃO apoiar contra as políticas governamentais e as medidas de reciclagem autoritária do regime praticadas por Sócrates um candidato que afirma à sobremesa de um jantar de campanha: “Ontem um senhor encorajou Cavaco Silva a bater-se contra Sócrates e ele respondeu: ‘é por isso que aqui estou’. Ora, isto é uma coisa extraordinária!”, contou [Manuel Alegre] aos [seus] apoiantes, sublinhando que “alguém que faz esta afirmação não dá garantias de estabilidade política”.
12/01/11
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2 comentários:
só não acho bem que chames o platão à conversa; podes não apreciar, mas o homem era um génio que não devia ser invocado a propósito de temas tão ilusórios...
Mas, Ana, eu não chamo Platão lui-même à colação, evoco apenas a título de símile a expressão corrente "amor platónico", no sentido pouco fiel aos textos e ao espírito crítico, de amor "sem chama", "empata", etc. E tenho o cuidado de escrever o adjectivo entre aspas, como se faz quando se quer significar que um dado termo é abusivamente invocado por quem dele se serve.
Contrariado embora e reconhecendo a justeza em abstracto das tuas considerações sobre o filósofo, lamento não poder, desta feita, dar a mão à palmatória, por meio da qual condicionas o teu apoio - que, evidentemente e não obstante, te agradeço com o mais caloroso entusiasmo democrático.
Abrç
miguel (sp)
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