14/01/11

A luta continua


Pode-se achar muita coisa sobre o que está a acontecer na Tunísia e qualquer juízo se arrisca a ser precipitado, num momento em que tudo é incerto. Mas parece ser cada vez mais difícil sustentar que a contestação da autoridade por meios violentos não produz qualquer efeito político. 
Primeiro o Presidente anunciou que se retiraria no final do seu mandato. Depois, e como a contestação não desse sinais de abrandar (90 mortos e mais de 1000 feridos depois),  anunciou a demissão do Governo e a convocação de eleições antecipadas. 
Entretanto, o estado de emergência foi decretado e o aeroporto submetido ao controlo militar. A «ordem» parece ter regressado às ruas de Tunes. E contudo, nada mais voltará a ser como dantes. Depois de ter caído na rua, o poder não volta de qualquer maneira às instituições. A seguir com atenção.

3 comentários:

André Carapinha disse...

Ricardo, não entendo essa conclusão. Neste caso tunisino, o protesto tornou-se uma espécie de "revolução de veludo", e a violência que ocorreu foi, isso sim, exercida pelo Estado na repressão. Lembro que tudo começou com uma imolação pelo fogo em protesto, um acto altamente simbólico e por natureza não-violento, na medida em que é a própria pessoa que se sacrifica voluntariamente, em liberdade, e sem qualquer coacção. A mim parece-me que a situação descarrilou precisamente por a receita habitual de carregar sobre os manifestantes ter dado um resultado ao contrário do esperado, com o aumento da mobilização. Violência do lado da revolução, não sei de nenhuma, nos 60 mortos de que se fala não consta que haja soldados ou polícias. Acho, isso sim, que nos deve levar a reflectir sobre o grau de determinação que um protesto deste tipo tem de ter para ter sucesso, do quanto estamos dispostos a arriscar para levar a revolução a bom porto sem exércitos de guerrilha ou partidos de vanguarda a comandar as operações. A meu ver, esta expressão de cidadania que resultou na explosão revoltosa dos tunisinos revelou, sim, e mais uma vez, que com muita coragem e determinação, e quando se sente que há mesmo razões para arriscar a pele, é possível derrubar governos através de uma revolução pacífica e sem partidos revolucionários a puxar os cordelinhos.

Niet disse...

A " cena " político-institucional - construida milimetricamente pelo ditador Ben Ali- pode dar para o torto, caso não se destaque um general democrata das Forças Armadas tunisinas - fala-se muito de Rachid Ammara- e os Estados Unidos " abrandarem " as suas pressões sobre a élite politica que se sucede em Tunis... Elliott Abrams, um dos grandes especialistas do Médio Oriente no site do Foreign Affairs, previu a queda " do ditador mas aconselha muita prudência! Niet

Ricardo Noronha disse...

Foram queimadas esquadras de polícia e houve confrontos em vários sítios André. A polícia não costuma disparar em multidões por sadismo, mas por medo. E desta vez tiveram bastante medo. Revoluções de veludo costumam ser coisas muitissimo mais pacíficas. Desde logo, sem mortos.