Não é só, nem principalmente, em termos de aritmética eleitoral que se põe a questão que este post do Rui Bebiano sensatamente levanta. Com efeito, qualquer "unidade" que se faça ao preço de importar para o BE — ou de reforçar a sua presença já demasiado sensível nele - os traços de agressividade e de desconfiança no terreno, de absurdo controleirismo, de anti-europeísmo, de subordinação a modelos totalitários e a estratégias do pensamento único que, década após década, e até com algum agravamento nos anos mais recentes, têm dominado o PCP, qualquer unidade desse tipo se traduzirá numa plataforma redutora que, em vez de contribuir para a transformação radical ou superação do tipo de organização hoje dominante no campo dito da "esquerda da esquerda", só poderá limitar e comprometer as condições de emergência de movimentos de democratização alternativa, capazes de oporem à oligarquia novas formas de autogoverno democrático da sociedade, do mesmo modo que só poderá servir para tornar mais remotas as perspectivas da reorganização radical que o BE teria de operar para vir a ser, em vez de um obstáculo, um animador e agente credível desse movimento alternativo.
Por outro lado, o Rui Bebiano acerta também ao denunciar como redutora uma plataforma que se proponha como unitária secundarizando à partida tudo o que o BE e o PCP não sintetizam. E, uma vez mais, esse alerta colhe muito para além da discussão sobre as coligações ou acordos parlamentares. Com efeito, se admitirmos que o protagonista de uma transformação libertadora e igualitária terá de ser o exercício activo da sua cidadania quotidiana por parte de uma grande maioria das mulheres e dos homens presentes, a conclusão é límpida e pode desdobrar-se em três pontos. Ou retomando parte de um post que escrevi em Janeiro último:
1, Em primeiro lugar, a possibilidade de resistir à ofensiva oligárquica e ao governo exercido sobre nós por decretos pela sua economia política passa pela construção de qualquer coisa como um "programa mínimo", a que prefiro (mas sem fazer disso cavalo de batalha) chamar "plataforma necessária e suficiente", tendo por denominador comum a democratização a todos os níveis do exercíco do poder e das relações de forças governantes.
2. Em segundo lugar, parece-me igualmente claro que essa plataforma terá de reunir enquanto base a maioria dos que actualmente se reconhecem mais ou menos militantemente no PCP, no BE e no PS, bem como um conjunto muito mais amplo de elementos não integrados nesses ou noutros partidos.
3. O problema é que estes protagonistas da plataforma ou programa de acção comum só poderão levar a sua construção por diante — ou: (i) deixando de se reconhecer nos partidos referidos, cujos métodos, formas de organização, divisão interna do trabalho político, etc. são um dos principais obstáculos a esse projecto — ou: (ii) transformando os mesmos partidos, se quiserem poder reconhecer-se neles, em termos necessariamente tão radicais que os tornarão irreconhecíveis na exacta medida em que os transformem em forças alternativas tanto ao regime da economia política dominante como ao dos seus próprios modos actuais de intervenção e funcionamento.
08/04/11
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2 comentários:
acho que vão ser reestruturados
ficam só uns fiozitos de fora
e daí...quem sabe
provavelmente não haverá grandes mudanças
a memória sempre foi curta
essa de meter a matemática na política
em vez de denominador comum
podia ficar uma verdade integral
ou uma probabilidade de um país mais justo e fraterno
também não querem dizer grande coisa
mas...
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