O INE pede, e cito, respostas "com rigor", caso contrário o cidadão "estará a impedir a nitidez e o rigor do retrato do País e das medidas que, a partir dele, vierem a ser tomadas". No entanto, na questão sobre o modo como se exerce a profissão, o INE indica: "Se trabalha a recibos verdes mas tem um local de trabalho fixo dentro de uma empresa, subordinação hierárquica efetiva, e um horário de trabalho definido deve assinalar a opção 'trabalhador por conta de outrem'". Ou seja, neste ponto, o INE pretende rigor na falta de rigor. Há que ser rigoroso na bandalheira.
Quem preenche o inquérito tem o dever de ser verdadeiro na aldrabice que vai prestar. Filosoficamente, é uma operação complexa. Se o cidadão se encontra numa situação laboral ilegal, deve assinalar que se encontra numa situação laboral legal. Se não o fizer, "estará a impedir a nitidez e o rigor do retrato do País e das medidas que, a partir dele, vierem a ser tomadas." Seria triste que, por causa de uma informação verdadeira mas fornecida com pouco rigor, fossem tomadas medidas para resolver um problema que existe mas torna o retrato do País um pouco menos nítido.
Ricardo Araújo Pereira, Sensibilidade e bons censos
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