06/04/11

Ainda sobre a unidade das forças democráticas

(1) Se um dia os principais banqueiros de um país se reúnem com o banco central do mesmo e declaram que o governo deve solicitar uma intervenção exterior, que lhes garanta a liquidez e condições óptimas de exercício da sua lucrativa actividade, e

(2) se,  no dia seguinte ou dois dias depois, o governo intimado — apesar de até essa data se ter recusado, literalmente até à queda, a solicitar a intervenção exterior — se apressa a solicitá-la e a obedecer — contra os próprios interesses do partido governamental e numa lógica brilhantemente suicidária do seu ponto de vista — à ordem dos bancos, dir-se-ia que

(3) a única coisa sensata a concluir é que são os principais responsáveis que ocupam os postos de comando da economia o governo efectivo e os detentores do poder político, e que, portanto, quem queira democratizar a vida pública e o poder político deve começar por iniciar a democratização interna da esfera da economia, reivindicando nos domínios do trabalho, da organização das empresas, da repartição dos rendimentos e da condução da actividade económica as liberdades e direitos fundamentais, que, em princípio, a ordem constitucional desse país estipula e garante.

Ou seja, a defesa e extensão da liberdade política e dos direitos sociais têm de ser feitas e decididas hoje, prioritária e mais claramente do que nunca, no campo da economia. O que significa que deverá ser à luz da exigência imediata de democratização das relações de força e do poder político da economia, que teremos de agir e organizar a acção e a luta comuns, ou, em suma, as forças da democracia. Portanto…

2 comentários:

Anónimo disse...

Quando se escreve, dentro de uma lógica pós-moderna: «democratização das relações de força e do poder político da economia» está-se a esquecer o óbvio: NÃO HÁ DEMOCRATIZAÇÃO POSSÍVEL DAS RELAÇÕES DE FORÇA E PODER QUE OPÕEM AS CLASSES DOMINANTES ÁS OUTRAS CLASSES E GRUPOS SOCIAIS SUBORDINADOS! E não é necessário ser-se marxista para compreender isso, basta ser-se anti-capitalista ou, muito simplesmente, um ser vivo atento à realidade dos nossos dias...

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo,

não, não se está a esquecer que a democratização terá de suprimir, à medida que avance, as relações de dominação classista, as desigualdades hierarquicas e económicas.
Onde é que V. leu escrito por mim que a democratização da economia e das restantes áreas de poder político não implicaria a transformação das relações de poder - incluindo essas relações de poder que são as relações de produção - e a sua redefinição em termos de participação igualitária?
O anticapitalismo é, deste ponto de vista, uma consequência necessária da vontade de democracia.

Alguma dúvida mais?

Saudações libertárias

msp