06/04/11

A Semântica do Centro

O Henrique Raposo e o José Manuel Fernandes escreveram em conjunto um post no Jugular sob o nome único de Paulo Pinto, mas, por um momento, vamos admitir que foi mesmo alguém do Jugular que escreveu um post de tão elevado nível como este. Pergunta-se no post se patriótico e de esquerda (como reclama amiúde o PCP por estes dias) rima com nacional-socialismo? E perguntamos nós: no slogan do PCP, o que é aquilo que tanto irrita um dos escribas do Jugular, a ponto de nos brindar com uma pérola como aquela? Dificilmente será a ideia de patriotismo. Porque ao PS (admitamos que Paulo Pinto é um apoiante do PS), como dizem os seus dirigentes, ninguém dá lições de patriotismo. A Soares ninguém dá lições de patriotismo, pois não? Não foi Soares, aliás, que nos salvou da influência estrangeira de Moscovo? E a Sócrates, alguém dá lições de patriotismo? A Sócrates também não, claro que não, tudo o que Sócrates faz é a bem da nação e ele não se tem cansado de dizer isso mesmo nestes últimos tempos, tentando mostrar o falso nacionalismo da retórica nacionalista de Passos Coelho e de Paulo Portas. Portugal e os portugueses (houve um tempo em que era mais os trabalhadores, mas devia ser ainda aquilo a que o Assis chama de "anacronismo") encontram-se uma e outra e outra vez nas bocas dos dirigentes do PS. Nem é preciso lembrar o último candidato presidencial apoiado pelo PS. Ou os constantes discursos sobre o "interesse nacional" do actual primeiro-ministro. Ou as posições do PS em relação às questões da imigração, sempre mais recuadas do que as do PCP. Já para não falar no culto macónico de um republicanismo que teria devolvido ao país a independência ameçada. Ou na política cultural nacionalista de grandes eventos, da Expo 98 ao Euro 2004, antes de mais liderada (embora também com apoio do PCP) por PSD e PS. Não sou um defensor da via patriótica para o socialismo, pelo contrário, e preferia mil vezes que o slogan do PCP fosse apenas de esquerda. Ou então que dissesse um governo internacionalista e de esquerda. Ou, talvez mais exequível (para utilizar uma palavra que os nossos amigos do PS por certo estimam) um governo de esquerda, internacionalista e patriótico. Mas não é porque criticamos qualquer via patriótica para o socialismo que nos tomam assim por parvos. Se a ideia de que os extremos se tocam pode ter alguma pertinência (é um longo debate), convém não esquecer que se tocam muitas vezes através do centro. Esse centro que se julga inimputável, que é o lugar do nacionalismo do Partido Socialista. Em rigor, uma diferença importante entre o patriotismo do PCP e o patriotismo do PS reside no facto do primeiro visar o socialismo e o segundo nada mais visar que não seja esconder uma certa vergonha. A vergonha de tentar fazer passar como apolíticas (sob a retórica gordurosa do tal do "interesse nacional") as políticas económicas liberais que nos têm governado.

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