18/04/11

Ousar a democracia

Parece que BE e PCP recusaram reunir-se com FMI, CE e BCE (aka troika). Até pode ser que estejam com medo de apanhar a peste, mas acho mais provável que seja apenas postura pré-eleitoral. É que PCP e BE estão satisfeitíssimos com a perspectiva dum duríssimo programa de austeridade para muitos anos, imposto aos portugueses antes das eleições de 5 de Junho pelo actual governo de gestão, com o apoio de PSD e CDS, e ditado pela troika. Já esfregam as mãos em antecipação dum forte voto de protesto contra tal programa, que esperam irá dominar a agenda mediático-eleitoral, transformando as eleições num referendo onde dum lado estarão PS, PSD e CDS, e do outro BE e PCP. Claramente dum grande brilhantismo táctico, mas próprio de burocracias partidárias dependentes do subsídio estatal que lhes cai no colo em função do número de deputados eleitos. Porque, infelizmente, tal manobra assegura uma derrota política. Ou alguém acredita, tendo em conta os estrangulamentos mediáticos e a cultura política em Portugal, que BE e PCP conseguirão sequer impedir que PS, PSD e CDS assegurem mais de 2/3 dos votos a seu favor em tal "referendo"? A sua insistência em transformar as eleições de 5 de Junho num referendo aos ditames da troika terá como consequência de maior relevo a sua legitimização "democrática". Porque se BE e PCP tivessem realmente a defesa do princípio democrático no centro das suas preocupações tomavam outra atitude, radicalmente diferente: anunciavam que não compareciam às eleições de 5 de Junho, caso o governo em gestão corrente assine qualquer acordo internacional que restrinja severamente a capacidade de acção do próximo governo, o que considerariam um efectivo golpe de estado. Se o fizesse, e as eleições fossem por diante, BE e PCP transfeririam integralmente a sua acção para a rua. Posso-vos garantir que a oligarquia nacional apanhava cá um susto... tal como a burocracia europeia com a possibilidade duma Islândia dentro de portas. Seria um gesto de risco, com a ousadia que infelizmente não espero de burocracias partidárias enquistadas no actual sistema político e dependentes do Estado.

6 comentários:

Anónimo disse...

Ainda que fosse inicialmente a favor da frente eleitoral BE-PCP, estou inteiramente de acordo com o seu post. O falhanço do apoio pré-eleitoral inviabiliza também, pois claro, uma posição de absoluta ruptura num claro gesto de "vamos decidir isto na rua". Por mais que simpatize com a esquerda institucional está na hora de a deitar ao lixo, por um movimento popular de insurreição fora das instituições que nos prenderam ao legalismo democrático.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Pedro,

de um modo geral, estou de acordo com o que dizes. O problema que tenho é com a tua sugestão de boicote eleitoral, que não me parece nem táctica nem "estrategicamente" defensável neste momento. Em contrapartida, veria com bons olhos - não, nas condições presentes, uma insurreição -, mas uma via islandesa: mobilização, debate e consultas populares contestando o resgate, reclamando uma Europa mais "social" e mais efectiva (integração orçamental, carta de direitos sociais), sob maior controle eleitoral e participativo dos cidadãos, etc., procurando alianças e reforços ao nível da UE.

Por outro lado, a recusa de participar nas reuniões com o FMI, etc. por parte do BE ou de outras organizações que sejam contactadas nesse sentido parece-me um erro táctico grave. As forças democráticas e populares - de índole partidária ou não - deveriam reclamar a presença nas reuniões, controlar o seu funcionamento, informar sobre ele os cidadãos, apresentar as suas posições e assim por diante. Do ponto de vista da criação de um movimento de democratização radical das relações de poder estabelecidas, isso seria muito mais fecundo do que a exibição de pureza e repúdio de más companhias.

Abraço

miguel(sp)

Miguel disse...

Post estúpido.

Dizer que PCP e BE vão "esfregar as mãos de contentes" é um argumento quase facistóide, típico de quem vê a política com puro taticismo e acusa os outros de o fazerem.

Diogo disse...

Concordo consigo.

A.Silva disse...

Miguel disse..., tem muita razão naquilo que afirma, este post para além de estúpido mostra a limitada e doentia visão que o autor e o seu apoiante MSP têm da politica

Anónimo disse...

Ouçam isto malta: o otário do serras pereira quer democratizar radicalmente o fmi e por aí adiante, ou seja, as relações de poder existentes.
És pouco otário, és.