Discutindo este meu post, o Renato Teixeira atalha caminho dizendo que ele releva do meu “relativismo pós-moderno que encontra sempre razões para o conforto da distância crítica” (fosga-se!!??!!).
Sinceramente, acho que o Renato ainda não percebeu o quanto me deve, a mim e ao meu conforto distanciado. É ele que torna necessário a emergência no espaço público de pessoas como o Renato. Se não existissem os que vivem no conforto da distância crítica, não seria necessário existirem os que, como o Renato, vivem no desconforto e estão sempre na proximidade, não deixando que o sentido crítico lhes entorpeça o gesto e faça vacilar o verbo. Para o Renato falar uma, duas, três, quatro vezes numa assembleia, é preciso que outros não falem e que outros tantos o escutem. Para o Renato liderar uma manifestação, é preciso os outros deixarem ser liderados. O meu silêncio é a tua voz, caro Renato.
É certo que não basta o meu conforto. Além dos académicos distanciados como eu, temos ainda o povo que é estúpido, a classe operária que está alienada, a assembleia cheia de freaks lumpen e anarcas e empatas, tal como as direcções do PCP e do BE que pecam pelo revisionismo e pela traição, isto tudo sendo, também, razão mais do que suficiente para que sejam necessárias pessoas como o Renato, os novos Lenines.
Agora mais a sério...
Quando sou confrontado com uma acusação do tipo “o conforto da distância crítica”, a primeira coisa que me apetece é pedir o registo de horas de militância de quem me acusa e depois vou confrontar com o meu.
Não é, porém, a coisa mais sensata e radical que há a fazer. Na verdade, o mais importante é evitar entrar na competição do pirilau militante: a competição que procura ver quem dá mais o corpo ao manifesto, se nós ou se quem nos acusa. Não que o meu pirilau seja maior ou menor do que o do Renato – não sei, não vi, não quero ver – mas porque semelhante confrontação inicia, desde logo, um processo que acabará por determinar a clara fronteira entre o que é o tempo de vida e o que é o tempo da política, o tempo dos heróis e o tempo dos homens comuns, o tempo dos representantes e o tempo dos representados.
Esta fronteira, diga-se, aproxima os revolucionários como o Renato e os reformistas como o Daniel Oliveira. Ambos pressupõem a política como um problema relativo à qualidade dos governantes; para o Renato, os governantes do Bloco devem virar à esquerda para não traírem as “massas”; para o Daniel, devem virar à esquerda para reencontrarem o seu “eleitorado”. O sentido pode ser diferente, a direcção é a mesma.
3 comentários:
olé!
(tirando a parte do bloco dever virar à esquerda para o Daniel, como já virava para o Renato. é que assim o sentido também era o mesmo e estragava a alegoria vectorial. mas isto são pormenores, e para bom entendedor meia palavra bas)
(claro que existem sempre fortes probabilidades de estar muito bem assim e de eu não ter foi percebido o alcance da metáfora em questão)
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