20/06/11

A esquerda e o FMI/troika

Ontem Francisco Louçã declarou que tinha sido um erro a recusa de negociar com a troika. Uns dias antes, também alguém do BE (que, sinceramente, não me lembro quêm) fazia qualquer referência a se ter sobrevalorizado a oposição popular à troika e subvaloriza as esperanças nela.

Até certo ponto, isso talvez seja uma situação em que uma estratégia desenhada para outra época foi levada demasiado longe no tempo.

No principio da Internacional Comunista, foi adoptada a estratégia que "o caminho para Londres passa por Cartoun" (ou algo parecido) - que a luta contra o colonialismo era um primeiro passo na luta pelo socialismo (creio que parte da chamada "ultra-esquerda" se opôs a essa linha, considerado que as lutas de libertação nacional - tal como as lutas pela "democracia burguesa" em países que ainda não tivessem lá chegado - eram um desvio face ao que interessaria, a luta dos trabalhadores contra o capitalismo).

O discurso anti-FMI, que a esquerda até usou com algum sucesso em sítios como a América Latina, é um bocado um herdeiro dessa estratégia - basicamente, a ideia é que a melhor maneira de agitar as massas contra a classe dirigente local é dirigir a pontaria ao FMI ou a instituições similares e assim levar a burguesia nativa a assumir o papel de colaboracionista dos inimigos da independência nacional (ou seja, embrulhar a luta anticapitalista em vestes anti-imperialistas).

Se calhar o que se passou em Portugal em que o povo já está divorciado da sua classe dirigente (pelo menos da classe dirigente politica; ainda não totalmente da económica) pelo que a "estratégia anti-imperialista" talvez já não faça sentido. Por outras palavras, grande parte do povo não sente razão para achar o seu governo melhor que a troika, logo não se revê em atitudes de não discutir com a troika (e ainda menos em atitudes de "Portugal tem um governo, logo é a esse governo que vamos apresentar as nossas ideias, não à troika").

1 comentários:

Miguel Lopes disse...

"grande parte do povo não sente razão para achar o seu governo melhor que a troika"

Mas atenção que um deles tem um bocadinho mais de legitimidade por ter sido plebiscitado...
Se bem que, nessa mesma entrevista, Louçã disse que reunir com a Troika era Anti-Nacional =P