Fantasia política, mas decididamente realista e escrupulosamente documentada, como adiante se lerá

Calhar-me-ia descobrir, por parentes seus que frequentassem a recreativa onde também eu espraio parte dos meus ócios, que um dos responsáveis policiais de serviço na operação repressiva levada há dias a cabo no Rossio seria leitor assíduo ("É assim a modos que uma adição", no dizer de um insuspeito trabalhador social seu familiar cá da terra), não de um, mas de dois, de três e até de mais alguns escribas do 5dias, sem que isso o impedisse de nutrir um verdadeiro horror corporativo à produção de outros, e mais numerosos, membros do blogue.

O curioso seria ter sido esse representante da autoridade o referido pelo comentador nao na caixa de um post sobre os acontecimentos publicado justamente por um dos escribas do blogue mais abominados pelo agente. Com efeito, este teria justificado a acção empreendida, com a citação automática e literal de um dos seus postadores favoritos:

— Porque o diálogo não é obrigatório, nem cívico, nem fundamental, nem imprescindível, nem necessário. E mais, se queres saber, que se f(…) a democracia!

Por fim, a um alegado jornalista alegadamente espanhol, que — depois de lhe fazer notar que, do facto de o diálogo não ser obrigatório nem necessário, não se podia concluir que fosse proibido — lhe perguntaria se a acção repressiva não teria abusado do cassetete, o mesmo agente, recorrendo a nova combinação de excertos do dilecto postador já citado e de um outro dos seus decantadíssimos autores cinco-diaristas de compulsiva referência — "um tipo com uma cabeça do caraças, sem nada a ver com essa corja dos outros que nem escrever sabem e só lá andam para destruir" — replicaria:

— E o trabalho, pá? Além disso, a nossa acção foi dialogante e a prova é que toda a gente diz que houve cacetete a mais, o que não deixa de ser uma forma de diálogo. Só quem prescinde do debate não precisa de chicote. E, se queres saber, eu repito, que se f(…) a democracia!