21/06/11

Trocar Marx por Coelho

Já aqui escrevi: acho que o Rui Tavares devia renunciar ao seu mandato. E já escrevi em variadíssimas ocasiões um conjunto de posts e outros textos criticando as posições e propostas políticas do Rui Tavares e do Daniel Oliveira em relação a inúmeros temas. Não tenho pachorra, porém, para comentários e críticas cretinas, como as que acusam o Rui de querer mas é segurar o tacho e de ser oportunista e tudo o mais. Estas críticas dizem muito mais da miséria político-intelectual de quem as faz do que outra coisa qualquer. Miséria porque revelam a completa incapacidade de pensar fora da lógica economicista dominante. O único critério que conseguem encontrar para tudo e mais alguma coisa é a vil corrupção induzida pelo dinheirinho. Em alternativa celebram os heróis que serão incorruptíveis, é claro. Subsituíram a crítica política pela sobranceira moralista. Trocaram Marx por José Manuel Coelho.

22 comentários:

João Valente Aguiar disse...

Zé,

concordo parcialmente com as questões que colocas. Não acho que o Rui Tavares se queira agarrar ao tacho no sentido tradicional do termo. Creio que ele não precisaria disso.

A questão aqui em equação tem mais a ver com a descida da fasquia dos objectivos políticos a posições recuadas, a posições próximas das massas com menor consciência política, bem como a posição lamentável que ele teve para a abertura de um espaço aéreo de bombardeamento da Líbia. Bem como aquela afirmação de que não haveria esquerda em Portugal. Com as suas devidas (e relevantes) diferenças o PCP, a CGTP, o BE, a malta autonomista, outra malta que está nos sindicatos, em movimentos, etc. não são de esquerda?

Penso que é em torno destas questões políticas essenciais que se devem discutir as acções do Rui Tavares (em que não concordo com quase nenhuma no último ano e tal).

abraço

Zé Neves disse...

caro joão,

tudo o que escreves, subscrevo.

abç

LAM disse...

Não creio que as acusações de oportunismo a Rui Tavares neste caso, relevem de qualquer lógica economicista*. A coisa terá mais a ver com 2 factos, aliás assinalados por si no post anterior: o pretexto invocado para sair do grupo eleito do BE, e o afastamento do GUE/NGL com integração nos Verdes (cos diabos, não consta que o Louçã "risque" no GUE);

O importante aqui é não transformar uma amizade pessoal, ou até a comunhão de ideias políticas (caso de D.O.), em algo que nos turve o julgamento político do caso (não me parece ser de todo o seu caso).

*apesar de, por muito menos, já ter visto gente acusada de defesa do "tacho" o que, não estando bem, também não transforma Rui Tavares num caso singular, mártir com direito a foto emoldurada.

Rocha disse...

Com o devido respeito camarada João, para ti o problema pode ser esse. Mas para um desempregado de longa duração como eu que não tem onde cair morto (sem casa, sem emprego e sem futuro) o verdadeiro problema é corrupção sim, oportunismo sim, pegar nos votos e fazer o que lhe apetecer sim.

O programa do GUE/NGL nada tem a ver como o Grupo Verde Europeu. Mas Rui Tavares preferiu o tacho. Rui Tavares escolheu seu caminho, o mesmo de tanto carreirista da burguesia fez antes dele. Para o Zé Neves e sendo o Rui seu amigo isso poder ser uma questão menor.

Mas para quem está na mais profunda merda ver esta gente a gozar com a cara de eleitores de esquerda fere, ofende e revolta.

João Valente Aguiar disse...

Rocha,

eu não acho nada bonito o que fez o Rui Tavares. Se ele achava que não se revia mais no BE e no grupo parlamentar em que estava, regressava a casa. Agora, o oportunismo político é mto mais do que um posto. Eu não acho que o Rui Tavares seja exactamente igual a um Isaltino Morais ou um João Jardim. Ou seja, a vida dele não me parece que dependa do parlamento europeu para viver. E eu não concordo com praticamente nada do que ele tem escrito, tem dito e tem feito, bem como nem sequer o conheço. Portanto, não estou de maneira nenhuma a defendê-lo.

O oportunismo político que falas tem mais que ver com uma linha política que busca adequar os objectivos da luta dos trabalhadores e dos povos a patamares de luta o mais baixos possíveis. O oportunismo deve ser mto mais entendido enquanto reformismo e não tanto como uma atitude. A atitude, o comportamento são reflexos das ideias e dos valores que defendes. O reformismo é sempre mais grave e mais importante de combater do que atitudes evidentemente erradas. As atitudes ficam com quem as fez. Agora, o quadro ideológico em que um gajo se insere é mto mais poderoso e mais duradouro e, por exemplo, pode manter milhões de pessoas na apatia, em vez de as lançar na luta contra o capitalismo.

Em resumo, eu não desvalorizo o comportamento condenável do RTavares. Mas não o acho tão importante como o quadro ideológico em que ele se movimenta. É em torno destas questões que importa fazer a crítica política. Dele e seja de quem for.

Abraço

the revolution of not-yet disse...

é uma boa troca

Marx acho que já está morto

apesar do living marxism que há por aí

Anónimo disse...

Comentário,

começando por concordar com o tom e as ideias de José Neves nos seus dois últimos posts, quero só acrescentar duas coisas em relação ao que tenho lido em comentários sucessivos: Francisco Louçã é coordenador do BE, sem dúvida, mas ele não é o BE. O BE é obviamente as pessoas que o compõem, mas é igualmente o programa político, o corpo de ideias que lhe dão identidade. Portanto, seria perfeitamente legítimo - no meu ponto de vista - Rui Tavares entrar em ruptura com FL sem entrar em ruptura com o BE desde que os outros militantes do BE não reconhecessem nessa ruptura motivos suficientes para a perda de legitimidade do mandato. Aliás, mesmo a questão da votação no caso da Líbia, a partir do momento em que a votação divergente de RT foi aceite como legítima e não incompatível com a manutenção da confiança política, não faz sentido estar a trazer à colação. Já a mudança de grupo parlamentar e a renúncia ou não ao mandato é um outro nível de questão. Quanto ao que diz João Valente Aguiar no seu primeiro comentário não me pareceu que quando Rui Tavares dizia há uns dias que ''não havia esquerda em Portugal'' ele o quisesse dizer em sentido literal do termo. Não sei, não conheço o Rui Tavares de lado algum, mas pareceu-me que aquela afirmação era subsidiária de uma ideia que depois M Serras Pereira comentava dias depois, trocando a palavra esquerda por democracia: apelando Rui Tavares a uma união da esquerda no sentido amplo do termo (e referindo-se a PCP, BE e PS, nesse texto) e definindo a esquerda como ''uma aliança'' e depois afirmando que os três partidos recusam esse princípio de ''aliança'' na prática, ele constata que dessa forma: - não esquerda quando não há aliança. Parece-me que é este o sentido das palavras do Rui Tavares nesse texto.

RS

Alberto disse...

Há muitas outras formas de corrupção para além da do "dinheirinho", se calhar muito mais sedutoras e poderosas porque subtis e insinuantes. Daquelas de que o próprio nem se apercebe. O que se passou, e está a passar, com o Fernando Nobre prova-o, e esse caso é uma versão bastante grosseira do fenómeno a que me refiro, um caso de degradação gradual que só escapa ao próprio por evidente fraca capacidade mental. Há formas tão mais doces e perfumadas. E inconscientes... O lado negro da força é muito sedutor, e o inimigo (externo e interno) de que não temos consciência é muito mais perigoso do que aquele que se deixa facilmente perceber. Que maniqueísta que eu estou!

Já agora: "The road to hell is paved with good intentions."

Miguel Serras Pereira disse...

Subscrevo o teu post no essencial.
Duas reservas, que não chegam a ser objecções:

1. o comportamento de FL foi um acto político - com implicações organizativas e ao nível da concepção do funcionamento do BE - que é estranho não ver discutido e rejeitado como tal. O que seria talvez mais importante do que discutir o acerto da forma que assumiu a ruptura do Rui Tavares.

2. Não me parece que se possa dizer que o RT e o DO são politicamente idênticos. Creio que o Rui faz valer mais a dimensão participativa e igualitária, e que, apesar de todo o seu "possibilismo" por vezes sumário, mantém uma exigência de autogoverno e autonomia e - até mesmo - uma concepção dos "muitos" e dos "comuns" que é, no fundamental, solidária do que tu próprio defendes. O DO, tanto quanto me é dado ler, não vai além de uma concepção parlamentar limitada e de uma via "governamental" de reforma ou reciclagem do "Estado-Providência".

Abraço grande

miguel (sp)

Vera disse...

Ó Zé, não sei se tu te dás conta, mas esses "heróis incorruptíveis" são precisamente os gajos tipo Louçã...

Anónimo que assina miguel disse...

MSP: "Creio que o Rui faz valer mais a dimensão participativa e igualitária, e que, apesar de todo o seu "possibilismo" por vezes sumário, mantém uma exigência de autogoverno e autonomia [...]"

Partilho dessa ideia: o Rui AUTOgoverna-se AUTOnomamente. Será que serve como representante/delegado de outros? Ou a ideia é mesmo a de cada um tratar da sua vidinha abarbatando-se dos cargos públicos?

LAM disse...

Continuo a não ver em quê ou onde, cingindo-nos à "nota" no facebook, o comportamento de Louçã teve "implicações organizativas e ao nível da concepção do funcionamento do BE"; foi uma nota de esclarecimento em que o nome do visado aparece "à tangente" e como nome referido por um jornalista. Muito diferente da reação de Rui Tavares, essa sim com "implicações organizativas e ao nível da concepção do funcionamento do BE".

Aceito as diferenças que dizem existirem entre Rui Tavares e Daniel Oliveira, e que o primeiro fará valer mais a dimensão participativa e igualitária, mas deixo essa distinção aos amigos de ambos: objetivamente, and so far, e no que é público essa diferença não se tem notado. Pelo contrário, a insistência de RT na manutenção do cargo bem como da auto-transferência para um grupo parlamentar diferente, são o retrato de que a participação democrática e igualitária não vai assim tão longe quanto é pintada.

abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Caro camarada LAM,

pouco me importa agora discutir as concepções políticas do RT e o que a separa das minhas e dou de barato que a sua resposta "organizativa" ao FL não foi a mais adequada.
Mas não escondamos o sol com a peneira.

Um partido ou organização minimamente apostados numa versão da democracia entendida como participação igualitária e directa dos cidadãos no governo dos seus assuntos colectivos (o que inclui tudo aquilo a que nos habituámos a chamar "socialismo") pode e deve ter delegados, e estes, revogáveis e responsabilizáveis, podem ser mandatados para tarefas de coordenação. Mas um delegado-coordenador que abuse da sua posição recorrendo a métodos como os usados por FL não tem condições para continuar a sê-lo, além de que atenta gravemente contra o partido ou movimento que o mandata.
O problema que aqui se põe é esse e não o das concepções políticas expressadas por FL ou RT, mas o do comportamento que desencadeou a crise, consistindo numa tentativa de queimar RT sem discutir as suas ideias…

Abraço

msp

Vera disse...

Nem mais, msp.

Chalana disse...

O Rui Tavares é um cronista do Público/Sonae pago pelo Belmiro de Azevedo que o BE$ convidou para ser €urodeputado independente.

Agora diz-se traido por um post no facebook escrito pelo Louçã - ou se calhar por um acessor - e abandonou a bancada do BE$, mas não o lugar... Quanto mama um €urodeputado por mês? É isso, não é?

Chalana disse...

Curios que essa lista ao parlamento europeu já tem duas baixas: o independente e o mandatário. TUDO GENTE BOA, claro.

Rocha disse...

O Rui Tavares afirmou que Cohn Bendit (vice-presidente do Grupo Verdes Europeus) mentiu a propósito da sua transferência: estou à espera da ruptura de Rui Tavares com este Grupo Parlamentar em coerência com os seus princípios!

adrianocampos disse...

Pois é Zé Neves. Tenho cá para mim que a discussão é de carácter sim senhor. O R.Tavares invoca unicamente a troca fabookiana com o F.Louçã e martela no Público a questão da perda de confiança em relação ao coordenador do BE. Marca dessa data a sua discordância, diz até que apenas falou com o verdes na "segunda", perante isto: http://publico.pt/Política/cohnbendit-diz-que-rui-tavares-lhe-comunicou-a-decisao-de-se-juntar-aos-verdes-na-semana-passada_1499834, e sabendo muita gente que ele já havia anunciado a saída há duas semanas como é possível levar a discussão avante. Ou o R.Tavares assume a sua disputa política (inteiramente legitima) ou se afunda neste posso de cobardia e encenação. Não é um questão de tacho é uma questão de frontalidade e honestidade política.

Anónimo disse...

posso ou poço?

Anónimo disse...

passo*

LAM disse...

caro MSP,

Continuo sem ver nada na "nota" de FL, nem nos métodos usados (que francamente para além do evidente e público não conheço) que pudesse suscitar uma tal reação. Quanto muito, e como já o disse, não me parece o facebook o meio ideal para se fazerem esclarecimentos públicos de algo que se considera importante.
Podia a "nota" ter sido a tal gota de água que fez transbordar o copo (e esta parte da história que, sendo a meu ver determinante para a reação), não a conhecemos e, como tal, não é sobre ela que tecemos juízos.
Expandindo o conceito de democracia ao mais importante do que neste momento parece passar-se no BE, diria que a auto atribuída liberdade de se manter no parlamento europeu, bem como a autonomia para se auto propor a membro de um outro grupo parlamentar, sem respeito democrático pela organização política que o fez eleger e as pessoas que nele votaram é para certas pessoas, quando o protagonista é Louçã, e o não abandono do cargo no partido, um sinal de caciquismo e apego ao poder. (quando até sabemos que dada a correlação de forças atual dentro do BE, o mais certo seria a recondução dos atuais dirigentes).

abraço

João disse...

Um ponto de ordem, se me permitem. Rui Tavares assinou um compromisso eleitoral, que foi a forma usada por quem dirige o BE para convencer a Mesa Nacional a aceitar a sua inclusão como número 3. O que RT vem fazer agora é negar o conteúdo desse compromisso. Pode ter-se arrependido, mas tem daí que extrair as conclusões, renunciar ao mandato e concorrer em próximas eleições.
Caso não tenha ficado claro, RT não foi candidato independente com mandato para fazer o que lhe apetecesse, mas sim para defender o compromisso e o programa eleitoral do Bloco. No meu ponto de vista o Bloco já lhe devia ter pedido que renunciasse ao mandato no caso da Líbia.