Cheguei até ele através da malta mais velha cá do burgo, o João e o Miguel. Desde então que as suas crónicas são das poucas coisas que procuro com alguma regularidade na comunicação social.
Hoje, mais uma vez, Manuel António Pina faz sua a nossa estupefacção:
Que alguém, por subscrever um manifesto onde reclama o respeito do seu governo pelos valores da "liberdade, igualdade e direitos humanos" e defende um sistema político assente na "democracia, [n]a república e [n]o constitucionalismo", tenha sido condenado a 11 anos de cadeia parece algo absolutamente incompreensível.
Infelizmente, na China e em mais países do Mundo onde não existe liberdade de expressão, defender valores democráticos é, como foi em Portugal durante 48 anos, "subversivo". E, infelizmente, muitos desses países são "países amigos" do PCP - um partido cujos militantes penaram longamente, quando não morreram, nas cadeias de Salazar por idênticos crimes de "subversão".
Sou dos que estranham que a generosa luta de Liu Xiaobo pela democracia na China, semelhante à de muitos outros militantes dos direitos humanos em países "amigos" (e "inimigos" também) do PCP, tenha merecido o Nobel da Paz, tanto mais que - ao contrário do que acontece, por exemplo, com outro "país amigo" do PCP, o Irão - ninguém poderá acusar o regime chinês de constituir uma ameaça para a paz na região ou no Mundo.
Mas mais estranho ainda (na verdade, é só estranheza retórica) é que o PCP, que entre nós passa por arauto das "amplas liberdades", tenha conseguido desastradamente condenar o prémio de Liu Xiaobo sem fazer qualquer referência ao facto de ele se encontrar preso nem às razões da sua prisão.
Amplas Liberdades, Manuel António Pina, Jornal de Notícias
2 comentários:
Pois foi, Jovem Camarada Ricardo, chegaste, desta feita, primeiro do que eu à crónica do Manuel António Pina - e esta, tal como tu, acho evidente que não poderíamos deixar de transcrever.
Abraço solidário
miguel (sp)
Ricardo, como sabemos o tanto quanto gostas de poesia, nomeadamente quando ela assoma no VdF, desafio-te a conheceres, agora, a poesia do MAP. Vais ter uma agradável surpresa: é muito melhor poeta que cronista, porque pertence ao que de melhor temos. Talvez dizendo melhor: ele é um excelente cronista porque é um grande poeta.
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