04/01/11

Muito fácil, muito giro e muito moderno

 Aliás, talvez sejam a última geração por largas décadas que em Portugal tem gosto literário que lhe permite ler Eça, pois as gerações seguintes, tendo frequentado aquilo a que a geração de 60 chamou escola inclusiva, multicultural, progressiva… etc. … etc., terão grandes dificuldades em ler algo que não lhes seja apresentado como muito fácil, muito giro e muito moderno. O que é sinónimo de não ler nada que valha a pena.

A ensaísta Helena Matos tem a particularidade de pegar num tópico e ir subindo paulatinamente de tom, para saber com precisão quando transpôs o limiar que provoca uma resposta indignada. Aqui fica a minha: é ultrajante que as faculdades formem ensaístas incapazes de escrever a palavra "curriculum". Naturalmente, fica no ar a hipótese de Helena Matos ter tentado uma reacção à entrada do símbolo "@" no abecedário, que forma agora palavras hermafroditas, isto é, com duplo género. 
Respondendo com as mesmas armas, Helena Matos terá introduzido acentos gráficos no latim, para reforçar as sílabas tónicas na língua-mãe, o que pode ser entendido como uma defesa da tradição, ainda que algo paradoxal - é complexa a mente de um ensaísta. O problema da tese supracitada é que, segundo pelo menos um dicionário, o "cicrano" da nossa Helena escreve-se "sicrano", o que nos leva a pensar que Helena Matos, da pontuação à acentuação, passando pela ortografia, escreve como pensa: mal. 

7 comentários:

Anónimo disse...

Lambe-cús

Ana Cristina Leonardo disse...

o que prova, já agora, que a geração de 60 tem pelo menos uma vantagem sobre a helena matos: aprendia latim na escola.
quanto ao resto, "cicrano" é um erro em qualquer dicionário e, já agora, informo o anónimo aí de cima que cus tb. não leva acento

Ricardo Noronha disse...

Eu também aprendi latim na escola, na década de 90. E também com aquele pirata velhote do Astérix, que tem sempre uma sentença quando o barco vai ao fundo.
Depois do et allia da Fernanda Câncio, o currículum de Helena Matos. O jornalismo português já tratou melhor os clássicos.
Como dizia o outro:o quam cito transit gloria mundi.

joão viegas disse...

Bolas, la estão vocês...

Eu acho que a HM consegue quase todos os dias uma proeza que me deixa perfeitamente estupefacto : fazer com que falem dela. Proeza alucinante e de se lhe tirar o chapéu tendo em conta a indigência total daquilo que ela escreve...

E reparem que sou grande apreciador de textos reacionarios (é defeito profissional : como advogado, sou sensivel à qualidade estética daquilo que é dito pelo adversario), desde que minimamente construidos...

Ricardo Noronha disse...

Bom João, mas por este andar acabávamos a ignorar tudo o que se escreve e diz no espaço público português. Se João Lopes merece silêncio e Helena Matos indiferença, porque não JMF, Pacheco Pereira ou Vasco Graça Moura? Passamos a escrever então apenas sobre aquilo com que concordamos? Ou sobre os conservadores e liberais com um mínimo de fôlego intelectual? Não sobravam muitos...
Todas estas pessoas têm uma posição de destaque, o que escrevem contribui para moldar o senso comum e participa (bem sei que isto é estafado, mas neste caso parece-me apropriado relembrá-lo) no combate pela hegemonia. Desmontar, rebater, criticar, descodificar e refutar não é uma tarefa secundária.

mater tua mala burra est disse...

fica-vos mal. aí tão pressurosos a criticar a forma de se expressar da "verbalista pequeno burguesa" , mas rien sobre o que ela diz.
quando discutem perguntam as "fontes" daquele que vos contradiz? se não for de um marxsitologo qualquer a ideia saida da cabeça de um com olhos para observar o que há já não serve? bem me parecia.
e só cá vim dizer que na pedopsiquiatria é ponto assente que pais permissivos prejudicam muito mais os seus rebentos que os autoritários. a vida é sacrificio , à mistura com montes de prazeres , se proibidos ainda sabem melhor.

joão viegas disse...

Caro Ricardo,

Pois é, escapou-me que ja tinha feito um comentario sobre o João Lopes. Desculpe la se lhe soou a embirração.

Repare eu, aqui na blogosfera, interesso-me sobretudo por aquilo que dizem os textos. Trata-se de um tecido de banalidades daquelas que eu posso ouvir do homem do talho ? Então vou ao talho, assim sempre compro carne ao mesmo tempo...

Os dois textos que critiquei têm em comum ser flagrante que não dizem coisa com coisa. O da HM, não tem estrutura nenhuma para além dos eternos "esses guedelhudos e essas raparigas de agora que usam calças" tão do agrado dos seus leitores.

Ha textos com nivel nos blogues conservadores. O João Miranda, por exemplo, diz coisas com um certo tino. Pode discutir-se. Alias, se você la fôr comentar, ele debate de boa fé. Mesmo discordando, quem o lê sempre vai aprendendo alguma coisa.

Agora a Helena Matos (ou o João Lopes), tenha paciência...

Não é digno de si comentar semelhantes disparates, nem é alias necessario, eles estão à mostra.

Repare que, pelas mesmissimas razões, não costumo perder tempo comentando os textos com os quais concordo, ou que acho interessantes e instrutivos a ponto de não me parecer necessario acrescentar nada. Isto vale para muitos dos seus posts e para muitos outros posts do Vias (tirando as querelas religiosas entre sectarios de Badiou e outros, para as quais confesso não ter nem pedalada nem, sequer, paciência).

Tudo de bom para si e excelente ano para o Vias !