14/01/11

"Patriotismo" e "nacionalismo"

Ainda a respeito disto e da famosa dialéctica "patriotismo" vs. "nacionalismo" - qual é que é suposto exactamente ser a diferença entre as duas coisas, que eu ainda não percebi muito bem?

[Uma maneira de responder a esta questão seria dar um exemplo de uma questão politica em que seja suposto um "patriota" e um "nacionalista" terem posições distintas]

5 comentários:

Zé Neves disse...

miguel,
ele há para tudo. há os que dizem que o nacionalismo pende mais para uma filiação entnogenealógica a nível da comunidade e os que falam do patriotismo como devedor de uma concepção cívico-territorial. os que dizem que o patriotismo mantém uma relação com uma concepção universal (sendo a sua expressão particular e não a sua negação), ao passo que o nacionalismo seria simplesmente da ordem da irredenção. e por aí fora. o que me parece claro é que entre uma e outra dimensão não existem fronteiras absolutas. Aliás, toda a esquerda europeia (não falo da outra, porque a questão colonial "baralha" um pouco; sendo certo que a fronteira entre ambas não é rígida) que se tornou patriota parte do princípio que é importante não deixar o ânimo nacional nas mãos da direita, isto é, tem consciência do terreno ardiloso (para o mal e para o bem) da questão. O problema é que só se lembra da parte em que a coisa pode correr para o bem e nunca para o mal...
abç

joão viegas disse...

Caros,

Desculpem la, mas so hoje é que vocês descobriram que havia ai um problema ?

A questão consiste em saber como devemos interpretar as duas frases famosas "Le principe de toute souveraineté réside essentiellement dans la nation. Nul corps, nul individu ne peut exercer d'autorité qui n'en émane expressément".

Ja passaram mais de dois séculos desde que essas duas frases foram escritas e a demonstração de que é possivel perverter o seu significado esta mais do que feita.

Como lembram os dois ilustres Migueis deste blogue, o que é dificil, hoje, é antes identificar o que elas tinham de virtuoso (e de virtual), que, felizmente, adquirimos o (bom) habito de traduzir por outra palavra : a palavra "povo".

Esta palavra, note-se, também pode ser pervertida, mas geralmente os que o fazem deixam um "l" bem caracteristico la no meio.

Isto é basico, meus amigos, ou devia ser !

As nações so se devem admitir quando, e na medida em que, servem os povos, que são irmãos.

Não digo que não subsistam, hoje talvez mais do que ontem, problemas "internacionais".

Digo é que deveriamos saber identificar facilmente como devem ser resolvidos, ou seja em que direcção.

Isto porque, da mesma forma que a nação - e o nacionalismo original - puderam ser pervertidos no passado, também o internacionalismo, a que subscrevo, pode ser pervertido. E essencialmente pelas mesma razões !

E é o que se passa todos os dias, na medida em que muitos pseudo-internacionalistas julgam, e mal, que ele não passa da continuação do nacionalismo por outros meios.

Ou sou eu que devo lembrar a vossorias, que andam sempre com a boca cheia de referências historicas, que o primeiro internacionalismo foi SINDICAL e que, infelizmente, exclusivamente por culpa e incompetência nossas, não subsiste dele, hoje, senão um palido fantasma.

Citoyens, encvore un effort !

LAM disse...

"que o primeiro internacionalismo foi SINDICAL e que..."

isto nada tem nada a ver com a posta,e é uma "boca ao lado", desculpem, mas ocorreu-me que isso justifica a tendência cada vez maior dos sindicatos se transformarem em agências de viagens.... ;)

joão viegas disse...

Caro LAM,

Compreendo a sua reacção, devida à decadência do sindicalismo, mas mantenho que não estou "ao lado", antes pelo contrario.

Se a palavra sindicato lhe causa azia, substitua-a por organização de trabalhadores ou por união operaria e lembre-se que o primeiro movimento verdadeiramente "internacional" é a internacional socialista...

Ora bem, a organização das forças do trabalho contra as forças da repressão burguesa fez-se precisamente CONTRA a letra do artigo 3 de déclaração (e, em França, contra a sua tradução legal na lei Le Chapelier que proibiu as corporações e as organizações intermédias em nome, precisamente, da soberania nacional). Como vê, a "soberania nacional" serviu muito cedo como instrumento de opressão, primeiro como um pretexto para combater ameaças "internas", depois agitando o fantasma de ameaças "externas".

Foi o socialismo que, tanto a nivel interno, mostrando que era necessaria uma organização das forças do trabalho, como a nivel externo, pondo a nu a perversão do "(des)concerto das nações", soube fazer com que os trabalhadores tomassem consciência de que a ideia de nação estava a ser desvirtuada e utilizada contra os seus interesses. Foi assim que nasceu o internacionalismo, que veio para durar. Não julguem que nasceu do irenismo ! O Burguês vive muitissimo bem com uma guerra de vez em quando, vive melhor até !

O internacionalismo, ou seja a tomada de consciência de que as barreiras nacionais não devem ser utilizadas para impedir a organização das forças do trabalho, é à partida uma ideia de esquerda.

A titulo ilustrativo, lembro que, enquanto a Sociedade das Nações desapareceu do mapa ha muito tempo, a Organização Internacional do Trabalho, criada ao mesmo tempo, ainda ai esta para as curvas (o que, sendo longe de ser uma panaceia, sempre da um certo jeito).

Portanto, se me permite discordar, não penso que seja uma "boca ao lado".

Abraços

Ricardo Alves disse...

Talvez este texto do Orwell interesse:

http://www.resort.com/~prime8/Orwell/nationalism.html