10/04/11

Contributos para a explicação de um enigma menor

O facto de o PCP não estar disposto a integrar a plataforma de Um compromisso nacional não significa que pelo menos uma parte dos "rostos" e/ou das "eminências pardas" da iniciativa não tenham a ideia de que o "governo de salvação nacional" coeso que propõem, e que a oligarquia dos decisores da UE exige quando declara que sem entendimento entre partidos não haverá resgate financeiro, só teria a beneficiar, em termos tanto de credibilidade como de funcionamento, se a atitude do PCP fosse diferente.
Aliás, a 23 de Março último,  podíamos ler no esquerda.net que o chairman da Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos, defende um “governo de salvação” composto por PS, PSD, CDS e “eventualmente” o PCP. O Bloco de Esquerda deve ficar “completamente excluído” deste governo, já que, segundo Soares dos Santos, só se limita “a criar a confusão, a injectar ódio na sociedade portuguesa e nunca apresenta completamente nada”.

A almejada participação do PCP teria por efeito apresentar o governo de "salvação nacional" como superior aos antagonismos sociais e à oposição esquerda-direita — uma medida de emergência, puramente "patriótica", no "interesse de todos", e, nessa medida, dotada de uma autoridade também de emergência,  com as mãos livres para executar os gestos necessários, por um lado, a tranquilizar a oligarquia europeia e, por outro, a conter, com a severidade indispensável, os desmandos dos agentes sociais e/ou forças políticas — o BE e, sobretudo, o "espectro da anarquia" que ele evoca, queira-o ou não — que se excluíssem da participação, aberta a todos, na implementação das soluções necessárias à "dignidade dos portugueses" (como diz, pouco mais ou menos, Boaventura Sousa Santos).

Creio que são estes cálculos, com motivações variáveis no espírito dos subscritores do documento, que explicam a presença entre aqueles de nomes inesperados. Tratar-se-ia, em suma, para alguns de impedir que fosse deixada à direita a "salvação nacional". O problema é que a saída encontrada tem por resultado a adopção do problema da mesma direita, oferecendo a esta o bónus de poder apresentar o seu programa como suprapartidário e baseado em razões "universais".

5 comentários:

Zé Neves disse...

miguel, é o chamado gramscianismo de pacotilha; para combater o "fascismo", sê "fascista".
abç

Anónimo disse...

Valerá mesmo a pena "teorizar" em cima de provocações baratas de calhordas tipo "J. Martins" ou Santana Lopes, como essa de imaginar o PC a participar num governo com o CDS e o PPD... ou mesmo "ESTE" PS? - se é que há outro...

Se a ideia é de que o BE apareça como o único "puro" e de esquerda... é bastante pífia!

Anónimo disse...

O PCP já participou de governos de «salvação nacional» com o PPD e o PS depois do 25 de Abril. Tem pois experiência acumulada...

Miguel Serras Pereira disse...

Não me parece que o PCP esteja disposto a desempenhar o papel que lhe caberia num eventual "governo de salvação nacional" nos termos previstos por "Um Compromisso Nacional".

Saudações democráticas

msp

Niet disse...

MS. Pereira e todos em geral.Trata-se, efectivamente, de uma operação política ultra-sofisticada- a que elaborou o texto "Compromisso Nacional". A questão da produção do documento é um trecho de linguagem autoritária e de constrangimento estrutural que nos deixa pasmados e atónitos pelo valor individual de duas ou três assinaturas...A " razão instrumental" do texto, em termos reduzidos, desmonta-se no que,Habermas estilizando a teoria da dominação de Marcuse, chama a estratégia tecnocrática disfarçada/envolvida numa crise estrutural multipolarizada.Mas, e aqui é que está o núcleo da operação ela arrasta e unifica- por assinatura individual- uma adaptação passiva de todas as instituições ao sector económico de ponta e os controlos de Estado que neles estão associados. Que se desdobram ainda pela " aceitação cultural/social e política do princípio da eficácia e da contabilidade, a elevação da exigência dos papéis etc, todas essas coisas que determinam as condições de limitação à acção social admissível e criam, por conseguinte, um impedimento estrutural imposto ao tipo de problemas e soluções que são politicamente colocados ao público.(...) o único quadro válido para a compreensão( da crise política e económica...) seria um quadro estritamente científico e a sua realização exprimir-se-ia no interesse maioritário do controlo técnico ", in " Marxisme Culturel ", T. Schroyer. Salut! Niet