30/04/11

Memento mínimo

Muito, sem dúvida, do que os Ladrões de Bicicletas, por exemplo (mas não por acaso) dizem — sobre a crise, a recessão, a destruição do emprego, a austeridade em benefício da oligarquia e por aí fora — está muito certo. Mas esse acerto não deveria fazer-nos esquecer que a saída democrática é a libertação do trabalho — a apropriação e transformação pela liberdade da sua necessidade, e não a aquiescência à subordinação no trabalho, à subordinação do núcleo organizador da nossa vida desperta ao trabalho subordinado — a troco de compensações ou indemnizações menos avaras ou motivações mais eficazes da nossa participação dependente e ao serviço de uma economia que nos exclui do exercício do poder que nos governa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Seja realista, numa lógica de uma transformação dentro das fronteiras de um país apenas, será possível algo mais radical do que o reformismo ladrão de biciclertas?

Miguel Serras Pereira disse...

Antónimo,

não me interprete mal: quem quer o mais, quer o menos. Mas não tem de querer apenas o menos. Talvez nem o José M. Castro Caldas nem outros Ladrões discordem do que eu escrevo.

Retomo o que escrevi aqui há dias, porque me continua a parecer que a questão é a seguinte:

'é a seguinte: e se, mantendo a validade do critério de que quem quer o mais, e por isso mesmo, não poder deixar de querer o menos, o tivéssemos agora de completar pela afirmação simétrica: quem quer o menos, e para o conseguir, terá de querer um pouco mais (do que o menos ou mínimo inegociáveis)? Ou, por outras palavras: não teremos de ir mais longe do que o compromisso que foi o "Estado Social" para garantirmos os direitos e liberdades fundamentais que o acompanharam e mantermos depois a perspectiva, inseparável da legitimação conseguida pelo Estado Social, do seu aprofundamento em intensidade e extensão? Nomeadamente, em matéria "económica", não será necessário ir mais longe do que "indemnizar", como diz Habermas, os assalariados pela condição subalterna que ocupam, democratizando o funcionamento da actividade económica, em vez de insistir na sua "autonomia sistémica"?' (cf. http://viasfacto.blogspot.com/2011/04/alfredo-barroso-nao-havera-mais-nada.html)

Saudações democráticas

msp