06/04/11

Propostas para os camaradas José Gusmão e Bernardino Soares levarem à reunião

Não existirão listas conjuntas entre PCP e BE. Toda a gente sabe isso. Não quero com isto dizer que seria contra tal hipótese. Mas não existirão. E é já muito supreendente que o encontro de amanhã exista. Surpreendente e estimulante. E desse encontro podem sair decisões que neste momento podem ser esperançosas. Por exemplo, concertar 3 ou 4 acções de campanha. Como estas: 1) uma reunião em Lisboa com partidos e movimentos irlandeses, espanhóis e gregos que são simpatizantes tanto do PCP como do BE (se os gregos não se podem ver, coloquem os tipos a dormir em sítios distantes); 2) uma conferência de um dia, sobre 5 ou 6 temas centrais e comuns aos programas de cada um dos partidos (ex. desemprego, segurança social, precariedade, reforma fiscal, etc.), e que envolvesse também intervenientes exteriores às direcções dois partidos (por exemplo, Carvalho da Silva, Oliveira Baptista, Boaventura Sousa Santos, Daniel Oliveira, etc.); 3) um jantar-concerto pop/popular com o Sérgio Godinho, os Pop Dell'arte, os Homens da Luta, o Coro da Achada, o Zé Mário Branco (e até pode ser que venham umas bandas de outras terras); 4) um jogo de futebol entre as direcções dos dois partidos, com o Nuno Ramos de Almeida a arbitrar, em casa de um dos oponentes, sendo que o visitante está estritamente proibido de fechar a luz em caso de derrota. Ah, mas e se nada disto resultar, em si mesmo o encontro já é qualquer coisa de muito positivo.

10 comentários:

Diogo disse...

Você tem a certeza, Zé Neves?

É que toda a malta com quem eu tenho falado está muito entusiasmada com a coligação BE-PCP.

Miguel Serras Pereira disse...

Zé,
1. eu fico de pé atrás quando vejo a extrema-direita antissemita confessa vir aqui pelos cascos do comentarista Diogo (é só ver o que o blogue do homem diz do Holocausto, de Hitler, dos judeus, etc.) dizer que "a malta (…) está muito entusiasmada com a coligação BE-PCP".
Mas é um pormenor. A extrema-direita lá sabe as linhas com que se cose e as contas que faz. A nós, só nos compete denunciar as suas intenções e fazer com que os seus planos se gorem, recusando liminarmente qualquer unidade na acção com essa gente.

2. Dito isto, acho extravgantemente abusivo que certos adeptos mais entusiásticos da coligação pré-eleitoral PCP-BE denunciem como traição ou sabotagem aqueles que, fora do PCP ou da sua área, põem reservas a essa fórmula de unidade na acção. Ainda mais abusiva e deprimente a coisa se torna quando se chega ao ponto de, como o TMS (http://5dias.net/2011/04/06/a-convergencia-das-esquerdas-tera-sempre-muitos-inimigos/), perder a cabeça (sob outros aspectos, invejavelmente bem dotada) e festejar o facto de aqueles que se opõem a uma coligação sumária - tanto por razões de princípio como por não quererem ser cúmplices num inglório suicídio do BE, em benefício da área PS - serem relegados para lugares de pouca visibilidade nos órgãos de comunicação do Bloco (não sei se a leitura que o TMS faz do desaparecimento do lugar de destque que o artigo do João Teixeira Lopes começou por ter no esquerda-net é correcta - se o for, é um atentado inqualificavel à "democracia interna" e à livre expressão dos militantes sobre questões de fundo). A atitude do TMS e o tom de outros comentários relativos a quem quer que ponha reservas ao unitarismo sumário que o TMS, com mais aprumo embora, também defende, mostram bem a "dupla moral" que continua a imperar em numerosas cabeças: as divergências de fundo com o PCP só são legítimas se forem silenciadas em nome da unidade e quem as proclama alta e claramente, ainda que em legítima defesa, é acusado de fazer o jogo da reacção, de ser um sabotador, um agente quiçá da NATO à paisana…

3. O teu post é inteligente como sempre e saudavelmente jocoso. Só creio que cometes um deslize quando pareces aceitar que o "patriotismo soberanista" - à la Jerónimo ou à la Alegre, tanto dá - possa visar o "socialismo" ou ser uma via para ele. Parece-me que é precisamente por ser contrário à democratização radical e orgulhosamente "apátrida" que é a definição da "coisa-mesma" do socialismo que devemos condenar as orientações patrióticas. Enfim, não é por preferirmos o mesmo fim por outras vias que devemos denunciar o soberanismo "patriótico e de esquerda", mas porque temos em vista outra coisa, outros modos de lutar, outros fidelidades e propostas, etc. Mas isto sou eu, que não me reconheço nas políticas do BE nem do PCP, e menos ainda creio que a "unidade" que interessa, capaz de potenciar uma plataforma democrática digna desse nome (cf., entre muitos outros. este meu post recente: http://viasfacto.blogspot.com/2011/01/alternativas.html) passe sobretudo pelo filtro - exclusivo de muita coisa e gente - dos encontros de alto nível entre os dois partidos.

Abraço para ti

msp

Zé Neves disse...

miguel, longe de mim querer valorizar o patriotismo do PCP. E acho que há uma contradição insanável entre patriotismo e comunismo, como sabes. Mas o PCP é ainda lugar de uma contradição como essa. No PS (neste PS, mas há outro?) nem isso nos resta.

Quanto ao unitarismo, tens razão em quase tudo. Só não desvalorizo, neste contexto, a necessidade de a nível da política institucional, haver uma resposta alternativa ao discurso Merkel-Sócrates-Passos. É porque de outro modo rapidamente o ambiente se tornará definitivamente irrespirável. E desde logo para os que procurem uma via política não restringida ao espectro partidário, como é o nosso caso. Com isto não digo que a prioridade, agora, deva ser apostar em tal unitarismo. Boa parte das minhas energias militantes continuam a ser investidas à margem de tais namoros.
abç

samuel disse...

Ah... então deve ser para esse concerto (que depois de tantos embates, mais parecerá uma reparação) que fui contactado... estava com esperanças de que fosse para o jogo. :-)
Mas arranja-se qualquer coisa para cantar, sim!

Anónimo disse...

Zé Neves, um teu bem antigo camarada que agora está na clandestinidade, apoia 100% as tuas propostas (com excepção do jogo porque é malta muito destreinada).

LAM disse...

MSP,

Tendo em conta o que se supõe ser o objectivo do tal encontro entre BE e PCP, que não passará - nem ninguém quer que seja porque daí nada haveria a ganhar nem pelos 2 partidos nem, muito menos, pela esquerda "não alinhada" - por uma fusão político-ideológica entre BE e PCP, tendo como objectivo (supõem-se) uma resposta conjuntural, mas necessária e urgente, das forças organizadas da esquerda à avalanche ideológica em marcha. Compreendendo isso e o alcance mobilizador prioritário do que poderá sair dessa reunião, penso que não será pedir de mais algum recato e menos coração (ou fígados?) ao pé da boca da parte, não de anónimos militantes, mas de figuras com responsabilidades em ambos os partidos.
Não estão em causa nem há branqueamento das diferenças ideológicas ou de alinhamentos entre os partidos, não é isso que estará em cima da mesa, pelo que o momento não carecia de reafirmações e sublinhados inoportunos que, nesta hora e neste caso, apenas denotam primarismo político desbocado.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro LAM,

1. repare que quem veio sublinhar e destacar o "semi-silenciamento" do JTL - se é que disso se tratou -, chamando-lhe um bom sinal foi o TMS no post que sabe. O que eu digo e mantenho é que, se a hipótese de um acordo limitado sobre pontos concretos entre o BE e o PCP é ocasião de restrições ao debate interno no primeiro perante os encorajamentos de militantes e simpatizantes do segundo, então os prenúncios são maus: tanto na dimensão política de fundo como ao nível táctico, é difícil imaginar pior. ISTO INDEPENDENTEMENTE DO QUE SE PENSE DAS RAZÕES ADIANTADAS POR JTL. Achar que se podem calar afirmações de princípio ou divergências a elas ligadas por conveniência "eleitoral" é um dos piores traços da excessiva "parlamentarização" que tem sido uma lamentável evolução política do BE. Aplaudir essa prática como sinal de "realismo", "tregra de convivência necessária" ou "deferência devida" ao PCP, chamando-lhe "bom sinal" é ir ressuscitar o pior das tendências antidemocráticas da tradição "leninista". Não vejo que possa augurar de bom esta conjugação de duas taras.

2. Quanto ao fundo da questão de um acordo em vista das eleições e à apreciação do seu contexto, permita-me que o remeta para a resposta que dou ao comentador do post do TMS, que assina João, e que publiquei na caixa do meu próprio post intitulado "Péssimo Sinal" (http://viasfacto.blogspot.com/2011/04/pessimo-sinal.html).

Abraço cordial

msp

Anónimo disse...

Pá, ó Zé, tudo muito bonito e giro, estou de acordo.

Já a cena dos Homens da Luta é que me parece muito deslocada.

Se calhar era de pendor humorista essa referência, pode ser. Mas nesse campo, temo, o meu sentido de humor não reage.

Luís Mota

LAM disse...

caro Miguel,

1-Não creio que tivesse havido qualquer restrição à livre expressão de JTL. O que acho é que não faz muito sentido, para um militante com as responsabilidades (suponho) dentro do partido de JTL, vir sublinhar diferenças (tanto por demais conhecidas que não creio se possam enquadrar num "debate" que nem o próprio tem, aliás, qualquer preocupação de acrescentar o que seja ao por demais conhecido). Um militante de um partido, quase por definição, além dos direitos democráticos de participação nas decisões, tem deveres (enquanto tal) de respeito e comunhão de estratégias democraticamente assumidas pelo colectivo, tendo canais privilegiados, relativamente ao não militante, de se fazer ouvir, contestar ou opor a decisões tomadas. Para além do mais, nem acho que isto seja uma questão de supressão de opinião ou de auto-silenciamento, tendo mais que ver com o simples bom senso.

2- Em relação a algum acordo entre os 2 partidos, penso que anda muita coisa no ar e quase cada pessoa que se tem manifestado sobre isso, apoie ou não apoie, tem a sua própria versão sobre o que deverá ou não deverá ser. Desde acordo pré-eleitoral com uma dúzia de pontos comuns que não implique coligação eleitoral, a coligação eleitoral (com listas comuns e sob o mesmo signo), a acordos pós-eleitorais não se sabe bem para quê, à apresentação de uma alternativa de governo comum (há gente que se passa...), há de tudo.
Mas estamos a 24 horas de saber exactamente de que se tratará, ou não e, por algumas bocas soltas, palpita-me que nem um rato será de esperar dali...a ver vamos, mas o pavor de abandonar a guarda dos respectivos galinheiros sempre foi e é muito grande.

abraço.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro LAM,
eu não afirmei que tivesse havido silenciamento ou censura - pus dúvidas a esse respeito. O que me fez protestar foi que houve quem expressamente considerasse que tinha havido semi-silenciamento, tentativa de sufocar o debate, e aplaudisse isso como uma medida justa ou "bom sinal" - ou como o uso de um mau método legitimado pelos bons propósitos da causa a defender.
Deste ponto de vista só posso aprovar as palavras que o Miguel Lopes escreveu na caixa de comentários do post do TMS (independentemente do juízo que se faça sobre as "teses" de JTL):

"A arrumação dos artigos de opinião aparenta ser feita por data, e portanto alguém deu um toquezinho naquilo. Acho muito importante que a direcção do bloco afirme que discorda do artigo e não que esconda a divergência. Este tipo de censura-mesquinha-burocrática-elimina-da-fotografia dá-me nervos.
Não gostaram do borrão que estava na primeira página? É simples, basta responder uma voz “mais autorizada” da direcção ao artigo, rebatendo os seus pontos mais sectários e afirmando a importância maior daquilo que nos une e do momento actual. E ficaria tudo mais limpo, em vez de se empurrar a sujidade para debaixo do tapete" (http://5dias.net/2011/04/06/a-convergencia-das-esquerdas-tera-sempre-muitos-inimigos/comment-page-1/#comment-176845).

As outras questões que a sua resposta levanta são importantes. Tentei também reflectir sobre elas num comentário que acabo de deixar na caixa dos mesmos do post do meu camarada e amigo Pedro Viana "Alternativa, já!" (http://viasfacto.blogspot.com/2011/04/alternativa-ja.html).

Abraço

msp