02/04/11

Uma declaração de guerra imperialista

Perante esta notícia, que transcrevo do Público.es, é, sem dúvida, instrutivo ponderar o silêncio ou as justificações "anti-imperialistas" daqueles que denunciam manobras do imperialismo e atentados à independência nacional do Irão nas campanhas contra as lapidações por ofensas aos bons costumes, manobras do imperialismo e atentados à independência nacional da Líbia no apoio que outros reclamam para os insurrectos contra Kadhafi, e poupo-vos o consabido rol restante. Estamos ou não perante uma vontade de dominação imperial claramente afirmada, perante um propósito declarado de interferência nos assuntos internos de outros países, perante uma declaração de guerra aos infiéis, em que estes são, não só os blasfemos, como todos os que não se resignam a condená-los com a severidade que a sua interpretação da lei islâmica estipula e erige em imperativo universal?

"A menos que los responsables de la quema del Corán sean severamente castigados, veremos violencia y protestas, no solo en Afganistán, sino en todo el mundo", esta es la advertencia que lanzó ayer Mullavi Qyamudin Kashaf, jefe del Consejo de Ulemas de Afganistán ante la situación de violencia que se está registrando en el país centroasiático los dos últimos días como consecuencia de la quema de un ejemplar del Corán en una pequeña iglesia de Florida, Estados Unidos.
(…)
Estas violentas protestas vienen precedidas por el gravísimo altercado en la ciudad de Marzar e Sharif donde un grupo de fanáticos asaltó la sede de la Misión de Naciones Unidas en Afganistán (UNAMA) asesinando a siete miembros de la delegación local de la ONU- -tres miembros de la misión y cuatro guardas de seguridad, todos ellos extranjeros- y a otros cinco civiles.
Unos 20.000 manifestantes se concentraron delante de la sede de Naciones Unidas en Mazar tras el perceptivo rezo de los viernes; armados con cuchillos, palos y piedras para protestar por la quema del Corán el pasado 20 de marzo en la ciudad de Gainesville. Tras reducir a los guardias nepalíes, que estaban protegiendo el edificio, penetraron en las oficinas del organismo internacional atacando a todos los que encontraron a su paso; entre ellos al máximo representante de la ONU en la ciudad. Según testigos presenciales los manifestantes utilizaron las armas que sustrajeron a los guardias de seguridad para perpetrar la matanza, salvo a dos personas, que fueron secuestradas y posteriormente decapitadas.

4 comentários:

Anónimo disse...

O MSP anda tão obcecado pelo islão que ainda vira cruzado...
Quanto a mim, que sou ateu, os nossos problemas são os Sócrates, Belmiros Azevedos, Coelhos, Portas e todas as máfias laicas da terrinha, ou se quisermos ir um pouco além também, ou principalmente, as máfias globais que dominam a economia mundial, a que antigamente se chamava muito simplesmente de «classes dominantes».

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Anónimo,

o problema é, de facto, a dominação exercida pelo conjunto das classes dominantes e pela organização hierárquica (classista) das relações sociais impostas por essa dominação.
Por isso, é importante que seja contra a dominação, o conjunto das relações que a definem, que lutemos, evitando reproduzir ou reciclar a dominação no modo de lutar e organizar a acção.
Assim, tudo o que pretendo mostrar é que não basta fazer frente a uma potência imperialista para romper com o imperialismo.
Por exemplo, não basta ser contra o Sócrates e os outros - o "porquê" e o "para quê" da acção contra eles são critérios decisivos. E, assim, quem defendesse que para acabar com as"mafias globais", o que há a fazer é forjar um comando militar capaz de um golpe de Estado bem sucedido que aplique o programa X ou Y revelado por Deus ou pela ciência económica, estaria, sem deixar de se opor a Sócrates, a reproduzir, eventualmente sob forma alargada, e a reciclar a dominação hierárquica (classista).
Do mesmo modo, não basta ser contra a principal potência global e atacá-la para se estar a avançar pela democratização (anticapitalista) global - ou, como dantes se dizia, para se estar a avançar no caminho de tornar a Internacional o "género humano".

Saudações democráticas

msp

Kruzes Kanhoto disse...

O gajo que queimou um livro não cometeu nenhum crime. A menos que o livro tivesse sido furtado. Mas as bestas que rezam de cú para o ar não percebem isso...

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

Dominação hierárquica e relações sociais vistas duma perspectiva marxista

Num mundo onde a volatilidade destas relações abarca hoje centos de milhões de pessoas, parece um pouco redutor

Queimar livros pode levar a coisas muito mazitas, queimar símbolos que são mais do que símbolos foi feito durante séculos

Queimá-los leva não só a pretextos para se queimarem outras coisas
sejam judeus ou cristãos ou bruxos com pneus a arder

Queimar símbolos leva à produção de encarnações do mal

e esse é o problema
alienar o outro torná-lo menos humano