Mas o que esta análise perde de vista é, em primeiro lugar, que, no interior do BE, provavelmente, e, com toda a certeza, na área mais vasta a que se dirige e que o potencia, há [uma divisão fundamental, entre os] que, se não o pensam até ao fim, agem pelo menos como se o problema fosse termos um melhor governo e os que apostam — implicando isso, como indico adiante uma extensão urgente da acção à escala da UE, etc.. — numa orientação, a assumir desde já, ainda que a sua plena concretização possa parecer remota, a exigência de outra forma de governo, de poder político, de funcionamento económico, que ponha na ordem do dia uma mudança de regime, a ruptura ou "reforma revolucionária" (chamem-lhe como quiserem, contanto que a terminologia não sirva só para aumentar a confusão) de uma democratzação consequente, insituinte de novas relações de poder. Em segundo lugar, este tipo de análise perde também, e necessariamentem de vista que a política de querer ser "cópia do PCP" só pode conduzir a uma derrota bem mais grave do que o desaire eleitoral de ontem (5 de Junho de 2011).
Com efeito: Apesar de não ter tido de fazer grande coisa por isso e sem ter feito o que poderia ter tentado fazer para animar um processo de democratização efectiva como resposta à ofensiva oligárquica que tem rentabilizado e extraído toda a espécie de benefícios políticos da "crise"; apesar da eleitoralização e parlamentarização excessivas e da distorção do seu funcionamento e do seu relacionamento com os cidadãos pela adopção tácita por parte dos seus porta-vozes de normas hierárquicas de divisão do trabalho político homólogas da economia política dominante; apesar de tudo isso e muito mais ainda, a verdade é que o BE continua a polarizar em boa medida as aspirações de muitos dos que, animados da vontade de lutar contra o regime político-económico dominante, não aceitam ver recuperada essa luta por forças que continuam a propor como alternativa e a organizar a sua intervenção política baseando-se em modelos que historicamente se revelaram tão expropriadores e opressivos como as piores variantes da ordem estabelecida que se propunham substituir.
Assim, não é apenas nem principalmente e vista de melhores resultados eleitorais, que a reflexão se torna necessária. Trata-se de saber, de facto, se, apesar de tudo e pelas razões acima resumidas, o BE poderá contribuir para potenciar a acção realmente democrática dos que (…), "animados da vontade de lutar contra o regime político-económico dominante, não aceitam ver recuperada essa luta por forças que continuam a propor como alternativa e a organizar a sua intervenção política baseando-se em modelos que historicamente se revelaram tão expropriadores e opressivos como as piores variantes da ordem estabelecida que se propunham substituir". A "separação das águas" teria, pois, sido, não só indispensável em termos eleitorais — o BE perdeu fundamentalmente para a abstenção, sendo visível que a sua descida não se traduziu numa subida proporcional dos votos na CDU —, mas, sobretudo, para tornar possível a afirmação de alternativas que ponham uma efectiva democratização das relações de poder na ordem do dia. E, como é evidente, esta democratização passa, em termos de pensamento e acção, em termos de concepções e de formas de organização, pela crítica — mantida, reiterada e desenvolvida até mesmo durante a participação em actos eleitorais como o transacto — do sistema representativo e da sua divisão do trabalho político.
Concluo, retomando a ideia de um post que aqui deixei nos princípios de Abril: Qualquer "unidade" que se faça ao preço de importar para o BE — ou de reforçar a sua presença já demasiado sensível nele - os traços de agressividade e de desconfiança no terreno, de absurdo controleirismo, de anti-europeísmo, de subordinação a modelos totalitários e a estratégias do pensamento único que, década após década, e até com algum agravamento nos anos mais recentes, têm dominado o PCP, qualquer unidade desse tipo se traduzirá numa plataforma redutora que, em vez de contribuir para a transformação radical ou superação do tipo de organização hoje dominante no campo dito da "esquerda da esquerda", só poderá limitar e comprometer as condições de emergência de movimentos de democratização alternativa, capazes de oporem à oligarquia novas formas de autogoverno democrático da sociedade — ou, por outras palavras, só poderá limitar e comprometer uma transformação radical capaz de levar a explicitação da vontade democrática que anima a melhor parte da área do BE a tornar este último, em vez de um obstáculo, ingrediente e parte activa desse movimento alternativo.
Concluo, retomando a ideia de um post que aqui deixei nos princípios de Abril: Qualquer "unidade" que se faça ao preço de importar para o BE — ou de reforçar a sua presença já demasiado sensível nele - os traços de agressividade e de desconfiança no terreno, de absurdo controleirismo, de anti-europeísmo, de subordinação a modelos totalitários e a estratégias do pensamento único que, década após década, e até com algum agravamento nos anos mais recentes, têm dominado o PCP, qualquer unidade desse tipo se traduzirá numa plataforma redutora que, em vez de contribuir para a transformação radical ou superação do tipo de organização hoje dominante no campo dito da "esquerda da esquerda", só poderá limitar e comprometer as condições de emergência de movimentos de democratização alternativa, capazes de oporem à oligarquia novas formas de autogoverno democrático da sociedade — ou, por outras palavras, só poderá limitar e comprometer uma transformação radical capaz de levar a explicitação da vontade democrática que anima a melhor parte da área do BE a tornar este último, em vez de um obstáculo, ingrediente e parte activa desse movimento alternativo.
4 comentários:
assinaria por baixo.
abç
eu também.
nelson anjos
Bom, camaradas Zé e Nelson, malha a malha se tece a rede de uma nova Conjura dos Iguais: não uma direcção, vanguarda ou partido representante dos trabalhadores e/ou cidadãos, mas uma rede ou liga ou associação de participantes como os outros, que têm em comum certas concepções, propostas, linhas de acção.
Abraço
msp
Boa análise.
Ainda assim, parece-me que o Bloco terá perdido sobretudo para o PS e não para a abstenção. Perdeu sobretudo o eleitorado que flutua entre o Bloco e a adesão mais ou menos crítica e de esquerda ao PS - e que desta vez afluiu (erradamente) ao PS por receio (correcto) de que o que aí vem seja ainda pior. Aí talvez seja necessário reconhecer falhas próprias em termos de indefinição na escolha do adversário prioritário (além das presidenciais), pois teria sido preferível canalizar o cansaço anti-Sócrates que advem da pouco sofisticada mas inquestionavelmente existente personalização da política para a grande maioria das pessoas. Seria radicalmente diferente, para além de imensamente preferível, uma situação em tudo idêntica a esta mas com mais e menos 5% para o BE e o PS, respectivamente. Mas isso nao aconteceu, o que entre outras coisas também ilustra como o eleitorado do BE é mais volátil do que o do PCP, requerindo muito mais trabalho acumulado de implantação a todos os níveis. De qualquer forma, a enormidade da tarefa que está pela frente pode ser medida pela vastíssima faixa de eleitores que genuinamente depositam no PSD as suas esperanças de melhoria da sua situação actual - o que a meu ver diz tudo.
Abraços,
Alexandre
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