07/01/11

A comissão de honra

Com a chancela oficial da Presidência da República, o actual candidato declarou que nunca comprou nem vendeu nada ao BPN. Não, o que Cavaco Silva fez foi ser sócio da SLN; era portanto um dos donos do BPN. Para tanto, comprou 105.379 acções em 2001, a um euro. E vendeu-as em Novembro de 2003, ganhando 147 mil euros. Esta mais-valia não tem qualquer justificação económica na valorização da SLN ou do seu principal activo, o BPN.
Esse negócio foi um favor. Ora, um responsável político não faz favores nem recebe favores. E este foi um favor raro. Distribuirei ao parlamento a cópia de um contrato do mesmo tipo mas mais recente, em que a SLN garante a outra pessoa a recompra de acções, mas só lhes atribui 5% de valorização. Não paga 140%, como pagou a Cavaco Silva.
Se o candidato Cavaco Silva afirma que “quem não deve não teme” e aceita “o mais elementar dever de decência democrática”, então deve divulgar o seu contrato, para que se saiba em que condições vendeu e a quem vendeu a sua parte da SLN. E saberemos se quem comprou as acções foi a SLN-Valor, de que vários responsáveis, como o seu presidente, Alberto Figueiredo, são hoje membros da comissão de honra de Cavaco Silva. É portanto uma questão de decência. Os portugueses merecem a verdade e nada menos do que a verdade. Só a mentira é um “atentado moral à democracia”.
Ora, o caso BPN tem sido uma teia de mentiras desde sempre. Começou por ser um caso de apaixonado conúbio entre a política e a finança, e pelos órgãos sociais do banco passaram cinco ministros e um secretário de Estado dos assuntos fiscais: Dias Loureiro, Daniel Sanches, Rui Machete, Arlindo de Carvalho, Oliveira e Costa e, no final, Miguel Cadilhe. O BPN era um verdadeiro governo sombra do PSD.