22/09/10

Louçã na TVI

Ontem vi a entrevista de Francisco Louçã ao canal TVI 24. Brilhante, incisivo, combatente - até aqui, nada de muito novo. De novo, talvez, mas não completamente, a excessiva ênfase em si próprio e na sua opinião e na sua visão e no seu entendimento e por aí adiante. Nada que se compare, ainda, é certo, com Sócrates ou Passos Coelho ou Portas. E nada que o distancie radicalmente de Jerónimo. Mas algo diferente do que era há uns anos atrás. E sobretudo da fase do Bloco liderado por várias caras. Não por acaso, creio, o Bloco de Esquerda não tem líder, nem sequer secretário-geral, mas um coordenador, e não seria má ideia que o espírito do conceito se fizesse sentir mais vezes no discurso de Louçã. O seu brilhantismo retórico poderia, aliás, ser re-orientado nesse sentido, procurando construir um discurso - que não é fácil, bem sei - que não caia nem num "nós" homogeneizante (e, pior, não raras vezes ilusório) nem num "eu" indivdualista. Isto é, há o risco do brilhantismo de Louçã tender a lançar na sombra o resto do partido. (E sim, eu cá prefiro líderes fracos).

Na entrevista de ontem, de novo também, embora também não completamente novo, um certo tom patriótico. Se Manuel Alegre criticou os que colocam a ideologia à frente do interesse nacional, Louçã, presumo, pretenderá ideologizar o interesse nacional que Alegre representa. Mas que não se iluda: esse é um negócio em que não sairá ileso. E Louçã responder, a propósito dos constrangimentos externos à política económica portuguesa, que "isto é um país, Portugal é um país, Portugal tem uma história, etc." (cito de cor), é para mim algo bastante desmoralizador. Um pouco mais de trotsquismo não será pedir de mais.

Nota positiva, e final: de um modo mais claro do que em discursos anteriores, Louçã apresentou um discurso económico ao qual se podem fazer várias críticas a partir de um ponto de vista mais comunista, mais libertário, mais autonomista; mas um discurso que, tendo várias questões em comum com o do PCP, diferencia-se pela ausência de um imaginário tão marcadamente produtivista.

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